Arcos Principais: Sem título.
Publicação Original: Marauders #16-20 (Marvel, 2021)
Roteiro: Gerry Duggan.
Arte: Stefano Caselli e Matteo Lolli.
Como comentei no review de X-Men: Viagem ao Centro da Câmara, imaginei que teríamos mais desdobramentos do mega-evento que foi X de Espadas nas revistas principais. Mas tivemos praticamente nenhum. Aqui em Carrascos, por exemplo, as edições #16-20 (que ocorrem logo após a saga) e que compõem o 3º encadernado da revista, abordam a vingança da Kitty contra o Sebastian Shawn (que ficou muito boa!) e também traz os Morlocks de volta à ação numa missão em Madripoor. Um arco bastante empolgante, com diversas cenas boas e que cria certa expectativa para o Baile do Inferno que está por vir. Review especial com spoilers!
SHAW DEVE PAGAR
Só pra recapitular, o Sebastian Shaw tentou matar a Kitty Pryde e o dragão Lockheed jogando-os no mar. Porém o Lockheed viveu, assim como a Kitty conseguiu passar pelos Protocolos de Ressurreição. E agora, com ela de volta à ativa e o Shaw ainda caminhando normalmente pela ilha, ela passa a traçar sua vingança. A edição #16 foca nessa reviravolta, com Kitty, Emma e a Tempestade fazendo uma visitinha exclusiva à mansão do Shaw. Temos tortura, xingamentos e até um olho arracado. Shaw sofre um bocado na mão das mulheres, com direito à sua coleção de Whisky detonada e a ingestão de um veneno que, caso não o matasse, o deixaria babando.
Com todo esse lance de Protocolos de Ressurreição, os mutantes ficaram meio sádicos, né? É uma edição muito boa e cheia de reviravoltas. Kitty tenta ver sua morte pelo lado positivo, já que confirmou o fato dela ser mutante (pra quem não lembra, ela não conseguia passar pelos portais de Krakoa, levantando a dúvida). A cena dela atravessando a porta e dando um murro na cara do Shaw também lembrou a sequência icônica da fase do Joss Whedon em Surpreendentes X-Men: Destroçados, onde ela fez algo semelhante (mas batendo na Emma). Bom, o Shaw não morreu com o veneno, mas ficou meio catatônico numa cadeira de rodas.
A edição #17 continua a trama de vingança, dessa vez para descobrirem se o Shinobi, filho do Sebastian, estava envolvido na morte da Kitty ou não. E, felizmente pra ele, não estava sabendo de nada. Entre as cenas de destaque, temos uma reunião entre os Bispos Negro, Vermelho e Branco, Kitty mandando um convite aos Verendi para o Baile do Inferno e, principalmente, a Calisto! Sim, ela está de volta, porém sem seus poderes (ela foi uma das afetadas pelo Dia M, quando a Feiticeira Escarlate apagou o Gene X de parte da população). A fim de recuperar seus dons, ela batalha contra a Tempestade num ritual, morrendo no duelo para ser renascida mais tarde. É um momento bastante emocionante, já que as duas tiveram um passado turbulento, além de, claro, ela ter dado uma alfineta na Feiticeira Escarlate.
O RETORNO DOS MORLOCKS
As edições #18-19 trazem o retorno dos Morlocks, os mutantes que viviam nos túneis de esgoto da cidade devido o preconceito que sofriam por sua aparência. Os mutantes estão inaugurando um Hospital Público na cidade baixa de Madripoor para, além de ajudar a população local, expandir os negócios de Krakoa e, consequentemente, enfraquecer o governo Verendi. Masque, um dos Morlocks, é contratado pelo Hospital para usar seus dons de manipulação da carne e da pele para ajudar na recuperação de crianças com lábio leporino, por exemplo. Uma ótima sacada, mas que acaba sendo ofuscada pela nova horda de Carniceiros que o Maximilian Frankenstein, um dos jovens Verendi, criou. Esses Carniceiros, no entanto, tem um detalhe: são soldados que foram mutilados pelo Bishop, Homem de Gelo e outros em edições passadas. Ou seja, estão sedentos por vingança!
Eu acho bem problemático quando as histórias entram numa pancadaria que as vezes (muitas vezes) não faz tanto sentido assim. O famoso bate primeiro, pergunta depois. Toda a investida dos Carniceiros acaba prejudicando a inauguração do Hospital e a opinião pública em relação aos mutantes. A Callisto chama outros Morlocks para auxiliar no combate, entre eles a Medula (que faz um bom tempo que não via nas histórias) e a Torpor (idem). E, por ironia do destino, eles precisam chegar pelos túneis do esgoto. A Torpor, vale dizer, tem um poder extremamente bizarro: sua língua funciona como um segundo corpo, tendo boca e tudo. Medo!
Apesar das pancadarias, são duas edições divertidas que marcam o retorno dessas personagens. E eu sempre bato o martelo na pancadaria, porque o pessoal não tem um pingo de consciência em sair decepando e matando a galera Carniceira, mas ficam pisando em ovos pra lidar com os Verendi (que são os verdadeiros vilões). O Pyro e o Homem de Gelo também possuem certo destaque, funcionando como o alívio cômico da série.
DESPEDIDA DA TEMPESTADE
A edição #20, fechando esse “arco”, é estrelada pela Deusa dos Ventos. Tempestade está de despedida dos Carrascos e, como um presente de despedida (mais pro leitor do que pra ela), o pessoal se reúne num jantar e começam a lembrar de histórias que tiveram juntos. A Emma, por exemplo, relembra dos momentos mais tumultuados que tiveram no passado. Rola até uma brincadeira pra tentarem descobrir com quantas adagas a Tempestade carrega escondida. Uma edição bacana, que também traz um detalhe interessante: num certo diálogo entre Emma e Shaw, eles se lembram da Lourdes Chantel, uma antiga mutante do Clube.
O saldo desse conjunto de edições é bastante positivo. O roteirista Gerry Duggan consegue atar as pontas soltas, trazendo personagens que não costumamos ver com frequência (com atitudes que também não estamos tão acostumados assim) e com boas sacadas, como o Masque atendendo as crianças. Inclusive, essa lembrança da Chantel não pode ser à toa, então provavelmente ela irá reaparecer em algum momento. A equipe de desenhistas se mantém, o que garante o estilo da arte, que é excelente. O ritmo é rápido, mantendo a leitura fresca e criando expectativa para o próximo evento: o Baile do Clube do Inferno.
Confira outros reviews de Carrascos que fiz aqui no site:
Volume 1 (2020-2022): Fase Gerry Duggan (#1-22)
Carrascos: A Nova Rainha Vermelha do Clube do Inferno (#1-6)
Carrascos: O Enterro de Kitty Pryde (#7-12)
X de Espadas: Megassaga em Defesa de Krakoa (#13-15)
Carrascos: Shaw Deve Pagar e o Retorno dos Morlocks (#16-20)
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.