Arcos Principais: À Procura de Noturno (The Quest For Nightcrawler).
Publicação Original/ Brasil: Amazing X-Men #1-6 (Marvel, 2014)/ X-Men Extra #14-16 (2015).
Roteiro/ Arte: Jason Aaron/ Ed McGuinness e Cameron Stewart.
O Noturno, um dos X-Men mais queridos, morreu durante a saga Segundo Advento em 2010, ao se sacrificar para proteger a Esperança. Ele permaneceu morto durante alguns anos, retornando em 2014 na estréia da revista Amazing X-Men (Espetaculares X-Men), que trouxe de volta nosso elfo azul em seu primeiro arco, À Procura de Noturno, com uma trama envolvendo céu, inferno, BAMFS vermelhos e azuis, Azazel e cia., num mix de nostalgia e alguns conceitos forçados para trazê-lo de volta. Review especial com spoilers desse arco!
À PROCURA DE NOTURNO
Não é nenhuma novidade que heróis e vilões, quando morrem, não é pra sempre. Vira e mexe eles retornam do mundo dos mortos em alguma história mirabolante ou, não raramente, numa história mal contada. Noturno, religioso como era, morreu e foi para no Céu/ Paraíso (literalmente), porém seu sossego eterno é interrompido com a chegada de Azazel, seu pai, com uma trupe de piratas demoníacos num navio voador. Sim, tudo é meio ridículo. Começando com o fato de termos um Céu, literalmente, na história: com direito a anjos e tudo o mais. Até mesmo o Professor Xavier aparece em algumas cenas! Em paralelo, a Flama surge na Escola Jean Grey como a nova professora. Ela andava meio sumida das revistas X e é interessante vê-la novamente, e já percebendo que a vida dos mutantes, em especial dos X-Men, sempre é agitada. Assim que chega dá de cara com um Fera procurando por sua cafeteira, descobrindo que os BAMFS, aqueles demoniozinhos que lembram o Noturno, roubaram e a mantinham em seu esconderijo. Também é a primeira vez que essas criaturas tem sua história melhor contada, já que até agora a chegada deles na Escola era meio misteriosa.
Nesse esconderijo, o Fera e os outros professores descobrem uma estranha máquina que, ao ser ativada, teletransporta quase todo mundo pro outro lado da vida. A Tempestade, Flama e o Homem de Gelo caem numa espécie de Inferno, enquanto Wolverine e Estrela Polar surgem no Céu. Por não haver clima, a Tempestade está sem poderes e, como em mil vezes que passou por essa situação, ela pega a primeira arma que vê pela frente e passa a socar alguns demônios, liderando sua pequena equipe mesmo assim. A situação é meio bizarra, principalmente quando o Homem de Gelo está derretendo (por conta do calor infernal), com a possibilidade de morrer. A Flama tem poderes de fogo, então dá pra entender que não é tão afetada no Inferno. Mas enquanto o Homem de Gelo está morrendo, a Tempestade não parece ser tão atingida pelo calor. Uma cena de destaque é quando o Bob, numa última tentativa, congela todo o lugar. A cena é rápida, mas impactante.
Já o Fera é transportado pra perto do próprio Azazel, iniciando um combate. Ele literalmente se transforma numa “fera”, numa besta descontrolada. Em algumas cenas, se parece com o Blanka do Street Fighter, com direito a cambalhotas. O Noturno consegue encontrar e salvar a Flama, Tempestade e Homem de Gelo, se lembrando dos velhos tempos. Falando nisso, o roteiro do Jason Aaron (A Poderosa Thor) aposta bastante na nostalgia e momentos de flashback, com algumas lembranças do Noturno, logo quando chegou no Instituto Xavier. É na edição #4 que também temos outras duas cenas muito interessantes. A primeira é quando a Flama tenta imitar o Homem de Gelo, mas à sua própria maneira: tentando queimar todo o Inferno. A segunda é quando o Noturno começa a explicar a origem demoníaca dos BAMFS, que eram uma espécie de verme que ganharam essa forma graças ao sangue do Azazel.
Não podemos esquecer do Wolverine e do Estrela Polar, que caíram do Céu e começaram a andar a esmo numa neve, quase congelando até a morte, sendo salvos pelo Noturno. Com a equipe toda reunida, partem pra enfrentar o Azazel e seus Piratas. Os desenhos são de Ed McGuinness (Vingadores: Sanção X), que faz um bom trabalho, com os BAMFS sendo mais redondinhos e caricatos, cenas grandes e recheadas de referências, principalmente nos flashbacks. Só a Tempestade dele que achei meio estranha. A batalha final deixa um pouco a desejar, mas foi o desfecho que me incomodou mais. Não bastasse o Noturno ter caído do Céu e o Azazel num barco voador cheio de piratas e assassinos famosos, ainda aparece o Professor X pra avisar o Noturno, pedindo que ele não voltasse pra Terra. É quase um Nosso Lar mutante! Kurt percebe que, nesse plano, o Azazel nunca será preso. Então ele faz um pacto com os BAMFS e, num teleporte em massa, os X-Men, o próprio Noturno e o Azazel retornam pra realidade, pra Terra, através do portal na Escola Jean Grey. Todos ficam felizes com o retorno do elfo, claro, entregando o vilão pras autoridades, mas algumas perguntas ficam sem resposta. O que o Noturno prometeu aos BAMFS, provavelmente sua alma, fica no ar. Apesar do conselho do Professor X, o Kurt acredita que, assim, ele conseguiu salvar bilhões de almas das garras do Azazel.
A edição #6 funciona como um epílogo pro arco. Vários membros dos X-Men se reúnem num bar para darem as boas-vindas ao Noturno, até o grupo do Ciclope comparece. Mais um X-Men renascendo, por que não tomar umas pra comemorar? O destaque dessa última edição, que tem os desenhos do Cameron Stewart, é trazer a Mística! Ela se infiltra na festa e tem uma conversa, quer dizer, uma discussão velada com o seu filho azulão. Mas como o Noturno está sem um pedaço de sua alma (acredito eu), ele não cai nos joguinhos sentimentais da mãe. A Mística quer saber onde está o Azazel, quer matá-lo, dando início à uma sequência bem interessante de perseguição. A Raven é uma das minhas personagens preferidas e é sempre bom vê-la em ação e sendo fria do jeito que é, passando por cima de todos, até do filho, pra alcançar seus objetivos. Pena que, no final, ela consegue libertar o Azazel e, em vez de dar uma cutilada nele, acaba criando uma união! Um arco com bons momentos, divertido e que traz de volta um personagem que, citando Suzana Vieira: é adorado por mais de 130 milhões de pessoas. Mas que olhando por cima, foi de uma viagem muito grande e meio ridícula, com o Noturno literalmente saindo do Céu.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.