Arcos Principais: Vingadores Vs X-Men (Avengers Vs X-Men) e Esta Terra Estranha e Desagradável (This Strange and Unpleasent Land).
Publicação Original/ Brasil: Uncanny X-Men #11-20 (Marvel, 2012)/ X-Men #137-141 (Panini, 2013).
Roteiro/ Arte: Kieron Gillen/ Greg Land e Billy Tan, Dustin Weaver , Daniel Acuña e Mike Del Mundo, Ron Garney, Carlos Pacheco.
O evento Vingadores Vs. X-Men ganhou uma série própria em 2012, se arrastando em 13 edições, mostrando o conflito entre ambas as equipes em torno do que fazer com a Esperança Summers e a vinda da Fênix. Enquanto os Vingadores queriam prender a garota e evitar uma possível chacina da Fênix, Ciclope acreditava que isso era um sinal de renascimento, que ajudaria a tirar a raça mutante do limbo. Muita porradaria depois, a Força Fênix acaba se dividindo em 5, dominando o Ciclope, Emma, Colossus, Magia e Namor. Eles reformularam Utopia e trouxeram um breve momento de paz ao mundo, porém o poder corrompe e, um a um, as cinco Fênix foram sendo derrubadas. Restando Ciclope, que matou o Professor X antes de ser detido e, como esperava, novos mutantes começaram a ressurgir. A saga se desdobrou em quase todas as revistas da editora, como em Fabulosos X-Men, que mostrou os bastidores da relação entre Scott e Emma, além da cidade subterrânea do Sr. Sinistro, fechando esse volume da revista (edições #11-20) e sendo mais empolgante que a própria saga VvsX. Review especial com spoilers.
VINGADORES VS X-MEN
As edições #11-13 são praticamente um resumão do começo da saga principal de Vingadores Vs. X-Men, com direito a repetição de cena. Então nem considerei muito a leitura. Só que com a arte do Greg Land, ou seja, já é de se esperar um alto teor sexual em tudo. Temos a chegada dos Vingadores em Utopia, o Colossus se entregando ao Cyttorak e virando um Fanático 2.0 pra enfrentar o Hulk Vermelho, mas tendo um lapso de consciência ao perceber que estava prejudicando o pilar da ilha, deixando ser vencido. Quando a Esperança desaparece e Ciclope divide a equipe, vemos o Namor em Tabula Rasa se reunindo àquela Rainha Lagosta e comentando com a Hepzibah o quanto ele é garanhão. Inclusive o espécime que ficou na redoma pensa que a briga dos X-Men contra os Vingadores que chegaram lá, como o Coisa e o Luke Cage, é uma grande dança do acasalamento.
E não esqueçamos do Unidade, que foi preso pelos X-Men, controlando “mentalmente” a Perigo, a manipulando pra eliminar as 5 Luzes. Num momento, mais pra frente, ele deixa a entender que a Fênix estava predestinada a tomar cinco corpos, provavelmente esses ativados pela Esperança, mas ele deu um jeitinho disso não acontecer, culminando no que vimos. Apesar de ser um resumão sem muito o que acrescentar, a presença da Perigo sempre é muito boa. No final da edição #11 também tem a reprodução da carta do Ciclope para a Humanidade, que é excelente, justificando suas decisões e culpando os Vingadores, um grito em nome dos oprimidos.
ESTA TERRA ESTRANHA E DESAGRADÁVEL
Nas edições #14-17 temos um arco protagonizado pelo Sr. Sinistro que é muito interessante e, particularmente, gostei bastante. No arco anterior, o vilão mostrou sua Máquina de Criação, onde conseguia se auto-replicar aos montes. Ele acabou criando uma cidade subterrânea, a Londres Sinistra, com ares vintage e uma população de Sinistros. Milhares dele, com um “Rei” se preparando pra chegada das Cinco Fênix, que cedo ou tarde encontraria o esconderijo e declararia guerra. Por ser um dos maiores geneticistas do mundo, ele tinha uma cópia do DNA de quase todos os mutantes, os recriando. Assim, além do exército dele mesmo, ele conseguiu cópias bem feitas e outras deformadas de Ciclopes, Dentes-de-Sabres, Gambits e até um grupo de Madelynes Pryors. Apesar de toda a pirotecnia, o texto dessa edições é muito bom, mostrando um lado do Kieron Gillen (The Wicked + The Divine) que talvez estivesse ofuscado pelo Grag Land e suas sacanagens. A edição #14 é desenhada pelo Dustin Weaver (S.H.I.E.L.D), num estilo quase renascentista, onde uma cópia do Sinistro se rebela e tenta um atentado contra o Rei. A narrativa é um depoimento e o final, quando o Sr. Sinistro Rei consegue se livrar do anarquista, há um diálogo excelente, dizendo que as sociedades de tempos em tempos precisam disso, pra poder reafirmar o próprio sistema. Quase a Matrix, que tem uma ideia semelhante.
Já as edições #15-17 são desenhadas pelo sempre ótimo Daniel Acuña (Uncle Sam), com seu estilo meio “aguado”, formas mais pasteurizadas, algo que é bem dele. E ainda recebe o apoio de Mike Del Mundo na edição #17, que sempre faz capas maravilhosas. Então esteticamente, é um arco já muito bom. As Cinco Fênix, depois de reformularem Utopia e tudo, acabam descobrindo a Londres Sinistra e preparam pra atacar. Inclusive a forma de chegada na cidade é bastante semelhante a Matrix: no último filme, as máquinas começaram a perfurar Zion por cima; aqui, os Cinco também perfuram a terra pra chegar no subsolo. O Sr. Sinistro coloca sua Máquina de Criação a todo gás, formando um enorme exército de cópias, além de jogar todas as suas espécies neles. Temos Gambits-bomba que se jogam num Colossus Gigante e até mesmo o clone da Krakoa, que sustenta o seu castelo. Ou seja, tudo é super exagerado e barulhento, mas de uma maneira carismática.
Num determinado momento a Psylocke, Tempestade, Magneto e Perigo também entram na cidade. A Psylocke, inclusive, pulando em projéteis e mostrando a ninja que é. Quando percebe que está perdendo, o vilão libera as suas Madelynes, que por um momento tomam o poder da Fênix, mas acabam explodindo. Tudo é tão caótico, mas ao mesmo tempo o “verdadeiro” Sinistro (se é que tinha algum) está bem tranquilo em sua sala real, bem pleno pensando que seu exército dará conta. O final é uma grande explosão de chamas, com a Fênix consumindo todo o lugar, inclusive as Madelynes e o próprio Sinistro. Gostei muito.
A PAIXÃO E QUEDA DE SCOTT SUMMERS
Com o caso Sinistro resolvido, Emma e Scott brindam no plano astral, enquanto são atacados pelos Vingadores. Aqui já demonstra um dos lados negativos da saga VvsX: o sadismo desproporcional. Todos nós sabemos que o poder corrompe, mas chega a ser bizarro ver a Emma dizendo que criou o prato e a bebida que estão experimentando a partir dos pensamentos de um cara faminto e de um canibal. Ela chega a comentar que saiu mentalmente com o Namor, que a Fênix a fez ser mais liberta das amarras sociais (se é que ela tinha). Em paralelo, a Magia provoca o Colossus, dizendo ser a responsável por ele ter feito o pacto com o Cyttorak, pra depois levá-lo ao Limbo e tirar sua maldição, ganhando sua raiva mortal. No mundo real, o Ciclope percebe que pode ser que não dê conta dos Vingadores e, principalmente, do Professor X. Ele toma a decisão mais polêmica de todas: no plano mental, acaba queimando a Emma e a consumindo, também, pegando o poder completo da entidade e se transformando em Fênix Negra. É uma cena bem impactante.
As cenas finais mostram o Ciclope já preso pelos Vingadores, depois de ter perdido a batalha. Ele se lembra de ter matado o Professor e a Emma, explodindo as coisas e entrando na Sala Incandescente. Mesmo assim, ele sabe que os mutantes começaram a surgir novamente e não se arrepende de nada. Inclusive, quando o Fera o leva pra sua cela preventiva, ele faz um X no alto com os braços! Sensacional. Kieron Gillen termina sua fase em Fabulosos X-Men deixando claro que o Sinistro não morreu, com Colossus fora da influência de Cyttorak, Perigo também liberta (e putaça) do Unidade. Esses pontos foram muito bons e me empolgaram, em especial o arco do Sinistro, mas as partes mais corridas pra se igualar à saga principal ficaram bem aleatórias e ruins, ou seja, quase metade das 10 edições. Se alguém pegar essas histórias, sem ter lido Vingadores Vs. X-Men, ficará boiando em muitas partes.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.