Arcos Principais: A Maldição do Pateta-Lobo (Topolino e il “Pippo-lupo”), A Consultora de Etiqueta (My Fair Goofy) e Um Rosto pra Esquecer (A Face to Forget).
Publicação Original/ Brasil: Topolino #1102, Anders And & Co. 2008-48 e Anders And & Co. 2016-03 (Walt Disney, 1977, 2008 e 2016)/ Pateta #76 (Abril, 2017).
Roteiro/ Arte: Romano Scarpa, Don Markstein e Lars Jensen/ Romano Scarpa e Sandro Del Conte, Xavier Vives Mateu e Flemming Andersen.
Continuando minha experiência em ler material das mensais Disney, cheguei em Pateta! A edição de Agosto não trouxe a História da Arte de tema, como foi em Mickey e em Tio Patinhas, mas trouxe a inédita A Maldição do Pateta-Lobo, que marca a estreia do Professor Intrigatão e lançada originalmente em 1977 na Italia, sendo publicada só agora no Brasil. Fecham a edição duas histórias curtas e também inéditas, lançadas originalmente lá na Dinamarca em 2008 (A Consultora de Etiqueta) e em 2016 (Um Rosto Pra Esquecer). Review sem spoilers!
A MALDIÇÃO DO PATETA-LOBO
Antes de falar da história em si, queria comentar sobre o cenário das HQs Disney. Apesar da empresa Disney ter surgido em 1923 nos EUA e ter criado um império desde então, com animações, filmes, parques temáticos e colecionando feitos honráveis, como ter produzido a primeira animação comercial em cores (Flores e Árvores, também vencedora do primeiro Oscar de Curta Animado em 1932), foi na Itália que as HQs ganharam espaço e é hoje a maior produtora de quadrinhos Disney do mundo. Inclusive nos EUA, em meio a Marvel e DC, essas HQs quase nunca possuem espaço (ou vendem). Até mesmo no Brasil, onde não botamos muita fé as vezes, se mantém firme e forte com a publicação de especiais, mensais, inéditos e republicações, sendo até produtora de histórias. Mas voltando pra Italia, onde o Mickey se chama Topolino, é onde temos as maiores contribuições pra esse Universo. Como o personagem Professor Intrigatão, criado em 1977 na história A Madição do Pateta-Lobo, escrita e desenhada por Romano Scarpa. Nela, Mickey e Brutus investigam o sumiço de diversos gatos em Patópolis, associado ao aparecimento de um Lobisomem na cidade, que lembra muito o próprio Pateta!
Por trás dos mistérios está o Intrigatão, primo do João Bafo-de-Onça, que vem trabalhando numa fórmula nova. Tanto o traço quanto o estilo narrativo de Scarpa são bem tradicionais, lembrando uma grande animação de detetive, com os típicos passos para descobrir um esconderijo, seguindo pistas como pegadas e pelos deixados pra trás. Mas não é uma história datada, a leitura é bem fluida. Traz vários momentos cômicos, como quando chega Minnie e Clarabela pra deixarem seus gatos aos cuidados da dupla. Eu gosto muito de alguns personagens e dou risada só deles surgirem, como é o caso da vaca Clarabela. Inclusive acho as traduções que fizeram por aqui muito boas, também. Como os “patopolenses“, os habitantes de Patópolis. O bom é que a edição está “remasterizada“, com um aspecto mais moderno. Apesar do nome do Pateta, os verdadeiros protagonistas são Mickey e Brutus. Chega a ser irônico o Mickey, que é um rato, salvando gatos e falando sobre animais de estimação!
A CONSULTORA DE ETIQUETA
A história seguinte foi lançada originalmente na Dinamarca em 2008, com o título de My Fair Goofy, uma clara alusão à “My Fair Lady“, o clássico musical de 1964 protagonizado pela Audrey Hepburn. No filme, que é inspirado na peça Pigmalião, um professor de inglês se apaixona por uma vendedora de flores e passa a dar aulas pra ela, ensinando como falar, andar e se vestir corretamente. A clássica pegada “Maria do Bairro“. Já no gibi, temos Clarabela convidando o Pateta pra ir a um baile chique, se empenhando em fazê-lo falar, andar e se vestir melhor. A tradução perdeu pontos em não ter mantido o trocadilho do título, mas ganhou outros ao ter uma cena onde o Pateta cita um trecho da enigmática música Açaí do Djavan! Eu rachei! Como comentei, gosto muito da Clarabela e foi divertido ler a história. Interessante notar que aqui temos Mickey e cia. com a colorização mais rosada, enquanto que na anterior é a branca. Uma mudança que sempre reparo. O roteiro é de Don Markstein, com destaque para as referências a My Fair Lady, como a aula de dicção com o trava-línguas, e os desenhos são de Xavier Vives Mateu, que traz uma boa diversidade às roupas das personagens.
UM ROSTO PRA ESQUECER
Outra história também lançada originalmente na Dinamarca, mas em 2016, Um Rosto Pra Esquecer é protagonizada pelo Superpateta, que persegue um pato ladrão cujo poder de hipnotização fez com que todos em Patópolis esquecesse seu rosto. Um argumento muito interessante, diga-se! Daria uma ótima mini pra Vertigo. Mas aqui, por ser curtinha, acaba terminando muito rápido e meio abrupto demais. O roteiro é de Lars Jensen e com desenhos de Flemming Andersen. Uma edição divertida da mensal Pateta, com três histórias inéditas, que rendem boas risadas, boas referências como My Fair Lady e com uma certa importância, já que traz a estreia do Intrigatão. Mas não chega a ser surpreendente e traz um velho problema, já conhecido dos leitores de mensais no formato “mix“, que é o contraste entre as histórias.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.