Arcos Principais: A Factory de Andy Duckhol (Zio Paperone e la factory di Andy Duckhol), Van Gogh – As Berinjelas Pictóricas (Dinamite Van Gogh e le melanzane pittoriche) e Patovaggio – As Tabuletas de Richiscalchi (Paperaggio e l’arte dei Ricchiscalchi).
Publicação Original/ Brasil: Topolino #3198 e #3176 (Walt Disney, 2016-2017)/ Tio Patinhas #626 (Abril, 2017).
Roteiro/ Arte: Roberto Gagnor/ Stefano Zanchi.
To aproveitando a Social Comics pra ler material da Disney, que não tenho o costume de acompanhar, e ando me surpreendendo com as histórias. Depois do Zé Carioca e da Mickey #900, fui ler a edição desse mês do Tio Patinhas, que é um especial sobre a História da Arte com três histórias com a mesma equipe criativa da Mickey, que também trazia essa temática: Roberto Gagnor e Stefano Zanchi. São paródias ao Andy Warhol, Van Gogh e Caravaggio, publicadas originalmente na Italia em Topolino #3176 e #3198 (2016/2017). Tudo que devia acontecer na edição do Mickey (que era comemorativa), acontece aqui: notas sobre as referências, reprodução das obras dos artistas e textos especiais, deixando a edição muito mais bonita e caprichosa. Review especial sem spoilers!
A FACTORY DE ANDY DUCKHOL
Andy Duckhol instala sua fábrica em Patópolis, num armazém doado pelo Tio Patinhas em troca do artista dar umas aulas ao seu sobrinho, o desastrado Peninha, dando início à várias confusões que resultam em obras de arte. O mais legal na história são as referências. Andy Warhol foi o grande artista da Pop Art, movimento dos anos 1950 que se popularizou nos EUA e questionava o consumismo, o american way of life, a produção em massa etc. Várias das obras icônicas do Warhol surgem em versões pato, como as serigrafias coloridas. Já de início achei bem melhor que a Mickey #900, porque logo após a história temos alguns textos explicando quem foi o artista e o movimento, além de trazer reproduções de suas obras e até uma pequena brincadeira. O leitor acaba mergulhando mais nesse universo. Em contra partida, não achei que o texto de Gagnor estava tão afiado quanto na do Mickey. Tudo é bastante irônico, brincando com a ideia de que quanto mais bizarra e nonsense for uma obra, mais bem avaliada será pelos críticos, algo que se tornou meio que senso comum hoje em dia para a arte contemporânea, mas que não é bem assim. Outra ironia é com as obras surgidas do acaso, além de adaptações para o universo de Patópolis, como a filmagem estática do Caixa-Forte, alusão às filmagens estáticas de Warhol. Também temos a icônica frase de que “no futuro, todos terão seus quinze minutos de fama”, que até a Mariah Carey usou em sua música Meteorite (amo). É uma história divertida e bem desenhada pelo Zanchi, que possui um traço cheio de detalhes e super animado, as sequências com os Irmãos Metralha são ótimas.
VAN GOGH – AS BERINJELAS PICTÓRICAS
Na segunda história encontramos um número maior de referências artísticas. Trata-se de uma paródia ao Vincent Van Gogh, considerado um dos maiores artistas do pós-impressionismo, interpretado pelo Urtigão. Gagnor traz uma sacada bem interessante: Urtigão Van Gogh é viciado em berinjelas, pintado-as das mais diversas maneiras, e recebe a visita de Donald Gauguin e Peninha Gachet, que estão procurando um artista rentável para o Tio Patinhas, em troca de uma viagem ao Taiti. Van Gogh adorava girassóis, pintou inúmeras naturezas mortas com eles e, aqui na edição, Gagnor substitui pelas berinjelas! Paul Gauguin foi outro artista da época de Van Gogh que viajou para o Taiti e trouxe toda uma carga exótica aos seus trabalhos. Nesse ponto, o roteirista se destaca pelas referências. Ainda há uma brincadeira com o leitor, pra ver se está prestando atenção ou não nos detalhes.
Zanchi mais uma vez adapta diversas das obras do artista em versões Disney, com destaque para o quarto onde Urtigão pinta, que é uma referência aos famosos quadros Quarto em Ales (1888-1889), onde Van Gogh pinta seu próprio quarto, o mostrando de maneira organizada e solitário. Temos outro especial com curiosidades e mais reproduções, que faz a diferença. Esse detalhe do quarto é mencionado no artigo e me lembrou de uma fala do Mario Sergio Cortella: uma casa arrumada é uma casa triste. Isso reforça a universalidade do trabalho do Van Gogh, expressada nesse quadro, onde tudo está em ordem, mas a própria vida do artista estava um caos. A fim de curiosidade, ele acabou se suicidando em 1890. Claro que As Berinjelas Pictóricas não trazem essa carga dramática, pelo contrário, é tudo muito leve e divertido, mas enriquece a história, ainda mais pela edição trazer esse detalhe e a reprodução da pintura. Ainda temos essa página linda sobre a Noite Estrelada.
PATOVAGGIO – AS TABULETAS DE RICHISCALCHI
Fecha o Especial História da Arte uma paródia ao Caravaggio, um dos meus pintores preferidos e um dos artistas mais influentes do Barroco. Donald está ajudando o Tio Patinhas a trocar as tabuletas do Caixa-Forte e acaba encontrando dentro de uma delas um pergaminho, uma espécie de diário, contando a vida de um de seus antepassados: Patovaggio. Então voltamos para o século XVI, onde o antepassado do Tio Patinhas é um mecenas, adotando Patovaggio. É uma das mais engraçadas, com Gansolino interpretando um modelo vivo, servindo de referência ao Patovaggio e protagonizando algumas das maiores pinturas do Caravaggio, como a Medusa ou o Baco. Suas cenas são hilárias. Também temos em maior evidência a pão-durice típica do Tio Patinhas, cobrando tudo que vê pela frente. Fecha a edição três histórias de uma página do Patacôncio, o Eterno Segundo, que é o concorrente do bilionário.
Como estou acompanhando agora essas histórias da Disney, a leitura vem sendo bem agradável e divertida. Ver mais de perto e com um outro olhar personagens como os Irmãos Metralha e a mitologia de Patópolis, com as hilárias placas ao redor, que ficaram lá atrás na infância é uma experiência interessante. Além de muita coisa ser novidade. Como minha formação é em Artes Visuais, essa edição ainda possui um peso maior. Gostei bastante, três histórias engraçadas, com boas sacadas e desenhos, além de um trabalho editorial melhor que a do Mickey, com as matérias sobre os artistas sendo um diferencial e tanto. Ainda temos duas perguntas feitas ao roteirista e desenhista, pra deixar a experiência de leitura mais completa.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.