[Especial] Mickey #900: A Art Nublou e A Arca da Arte!

Arcos Principais: A Art Nublou (Topolino e le Artinuvole) e A Arca da Arte (Topolino e l’arca dell’arte).
Publicação Original/ Brasil: Topolino #3200-#3201 (Walt Disney, 2017)/ Mickey #900 (Abril, 2017).
Roteiro/ Arte: Roberto Gagnor/ Stefano Zanchi e Stefano Intini.

Como tinha comentado no review do Zé Carioca, to aproveitando a Social Comics pra ler material da Disney, que normalmente eu não compraria. E agora em Agosto foi lançada a edição #900 da revista Mickey, um marco e tanto! Para alguma série mensal alcançar essa marca, ainda mais hoje, onde reinam os resets de numeração, é algo bem raro. E Mickey alcançou. Ela é publicada desde 1952, completando 65 anos de publicação ininterrupta, sendo uma das HQs mais longevas do Brasil, ficando atrás apenas da mensal Pato Donald (no Brasil desde 1950). Infelizmente, a editora Abril não preparou nada demais pra comemorar a numeração. A temática desse mês de Agosto em algumas das mensais Disney é “História da Arte“, temos duas histórias em Mickey #900: A Art Nublou e A Arca da Arte; ambas inéditas no Brasil, publicadas originalmente na Italia no começo do ano, em Topolino #3200 e #3201. Review sem spoilers!

A ART NUBLOU

Mickey e Pateta estão investigando estranhas nuvens que surgem na cidade, com vida própria e cometendo crimes. No meio do caminho encontram Bernie, um artista “nublou”, que possui uma máquina de criar nuvens, fazendo obras de arte efêmeras com elas. Ele acaba entrando no grupo, junto do Comissário Joca e Coronel Cintra, os policiais de Patópolis. No meio do caminho se deparam com o verdadeiro vilão, o Professor Intrigatão, que nem é um spoiler, já que vem na sinopse da revista. O roteiro é de Roberto Gagnor, que traz algumas referências interessantes da História da Arte, sendo a principal a Art Nouveau, que foi um movimento artístico mais decorativo do começo do século XX e que dá o trocadilho do título. A narrativa se desenvolve de maneira tradicional, como um desenho animado, e os diálogos trazem um gostinho de gibi antigo, com balões descrevendo exatamente o que estamos vendo. Um ferramenta pra reforçar a cena, que pode parecer óbvio pro leitor já velho, mas que pode ser interessante para os leitores mais jovens e crianças. Felizmente, por ser rápido e com poucos balões, não fica massante. Os desenhos são de Stefano Zanchi, que mantém o traçado tradicional da Disney, com alguns pontos legais, como o uso de dois planos (um nítido e outro mais desfocado) e as cores, usando o Mickey e Pateta de rostos brancos, em vez do tom mais rosado de outras versões. É uma história bacana, mas que traz nada demais, principalmente pelo tema tratado, poderia trazer uma arte inspirada na Art Nouveau. Um exemplo, apesar de não ser Disney, é a HQ nacional Melindrosa, que foi inspirada e possui traços da Art Déco, a sucessora da Art Nouveau.

A ARCA DA ARTE

Outra história também escrita por Roberto Gagnor, mas que possui uma trama melhor trabalhada. Nela, Mickey e Pateta são chamados pelos cientistas Marlin e Zapotec, criadores de uma Máquina do Tempo, para voltarem no tempo e salvarem algumas obras de arte para o Museu de Patópolis. Mas algo dá errado e, em vez de irem ao passado, acabam sendo enviados ao futuro, numa realidade onde João Bafo de Onça é um grande ditador, censurando e proibindo todo tipo de arte. Os desenhos são de Stefano Intini e trazem o que comentei na história anterior: maiores referências artísticas; já que a temática é História da Arte. Nesse caso, temos uma cidade futurística nos moldes de uma Rússia Comunista devastada, com retratos de Bafo de Onça por todo canto. Também temos vários quadros em aparições especiais, além de uma nave em formato de coluna grega, a “Coluna Móvel”, onde ainda comentam que “escolhi pessoalmente um capitel coríntio em vez de um dórico“.

São duas histórias bacanas, sendo a segunda bem melhor, que trazem diversos pontos da História da Arte. Como minha formação é em Artes Visuais, foram características que logo me chamaram atenção. Roberto Gagnor acerta em diversas metáforas, com a Arca cheia de obras de arte, em levantar questões como a importância da arte como memória, não somente como representação de uma época, mas de como enxergar o ser humano, sem contar no uso da arte contra a repressão. São temas bem interessantes e acabam sendo tratados, em maior ou menor escala (até por ser destinada ao público infantil), pelos personagens. Em outros pontos, deixa escapar alguns detalhes mais técnicos, como a Coluna Móvel possuir, na verdade, um capitel jônico (com as tradicionais volutas) e não coríntio (que são mais ornamentados). Por ser uma edição comemorativa, a Abril só escreveu uma nota ao final da revista, falando do alcance e com uma miniatura da capa da primeira edição. Não custaria nada um capricho maior, nessa mesma página, como uma pequena linha do tempo da evolução do personagem, assim como a própria capa, de Giorgio Cavazzano, poderia trazer essa mesma quantidade de Mickeys, mas em estilos diferentes. São detalhes, claro, mas que deixariam tudo mais bonito.

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