Nome Original: WE3 #1 ao #3
Editora/Ano: Panini, 2005 (Vertigo, 2004)
Preço/ Páginas: R$18,90/ 112 páginas
Gênero: Alternativo
Roteiro: Grant Morrison
Arte: Frank Quitely
Sinopse: Três animais foram treinados pelo governo e equipados com avançados exoesqueletos para se tornarem as mais mortíferas armas já produzidas: inteligentes, obedientes e – acima de tudo – letais. No entanto, dentro das armaduras estão três amedrontados bichos de estimação, cujo instinto de sobrevivência pode se sobrepor aos desmandos de seus criadores.
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No mundo dos quadrinhos há certas duplas de roteiristas & artistas que sempre admiramos como Neil Gaiman & Dave McKean (Sandman), Stan Lee & Jack Kirby (Marvel?), Bill Willingham & Mark Buckingham (Fábulas), Jeph Loeb & Tim Sale (Mulher-Gato: Cidade Eterna), entre outros como Grant Morrison & Frank Quitely (Novos X-Men), que adoro tanto pelo estilo alternativo do Grant quanto pela arte “Beavis & Butthead” do Quitely. E WE3, trabalho premiado desta dupla, estava na minha lista há séculos. Sempre tive vontade de ler, mas só agora consegui adquirir por um preço bacana.
É uma HQ excelente, mas talvez por eu ter criado expectativas demais, é um pouco diferente do que imaginei. Morrison apresenta a história de três animais de estimação que são modificados a fim de se tornarem máquina mortíferas, transformando-os em cyborgues controlados. Mas como já sabemos, nem sempre nós – os seres humanos – temos total controle sobre a natureza ou nossas próprias criações. A Doutora Roseanne, responsável por eles, se arrepende dos rumos do projeto e libera os bichinhos de sua programação. O que segue é uma fuga alucinante, com seus instintos de sobrevivência falando mais alto e um rastro de morte por onde passam. E por mais ferozes que sejam, eles continuam sendo animais de estimação, com saudade de casa.
A história é relativamente simples e se desenvolve rápido, como numa única sequência de ação. Do momento em que são liberados até chegarem ao objetivo final, sem pausas. Morrison não explora muito a experiência ou a organização que os criaram, se preocupando em focar nos animais, em como estão se sentindo em relação a tudo isso. Um ponto interessante, que ajuda nesse sentido, é um mecanismo de fala que as armaduras possuem, permitindo que o Cão, o Gato e o Coelho (os três “cyborgues”) consigam falar e entender certas palavras. Claro que não perfeitamente, eles apenas balbuciam algumas coisas como “mau/ bom”, “fome”, “não” e “sim”, conseguindo formar frases. É um recurso narrativo muito bom, destacando as personalidades de cada um. O cão, por exemplo, só quer voltar pra “casa”, já o gato não. O coelho, que não tem uma inteligência muito avançada como dos outros dois, é o mais difícil de se entender.
Isso também auxilia na construção da personalidade de cada um. Mas por mais dóceis que possa parecer e independente de seus objetivos, todos querem sobreviver. E é esse instinto que o fazem prosseguir, matando todos que entrarem no caminho, já que estão super armados. Em meio a fuga a Força Aérea dos EUA (que administra estes testes) envia outros dois super animais pra tentar impede-los de matarem mais pessoas.
Ainda em relação ao roteiro, o que mais gostei em WE3 são as situações que levantam questionamentos. É uma HQ que, apesar de extremamento violenta, versa sobre os direitos animais, amizade e ética. E por mais que o Morrison (e também os leitores) fiquem do lado dos animais, também tem o outro lado, onde pessoas inocentes estão morrendo.
Frank Quitely assina e arte e talvez este seja um dos seus melhores trabalhos, com quadros ágeis, perspectivas inovadoras e até várias páginas onde não há diálogos, só desenhos. Muitos consideram WE3 principalmente pela arte, já que a história tem seus clichês. São cenas e mais cenas que deixam o leitor de boca aberta. As 10 primeiras páginas, por exemplo, não possuem textos e mostram o que seria o cotidiano dos 3. Numa outra sequência de páginas, também sem texto, são várias câmeras de segurança mostrando o que acontece no interior da Instalação, enquanto a Dra. libera os animais. É impressionante. Em outros momentos ele utiliza quadros que parecem espelhos, com a ação passando através deles, literalmente. Quitely também abusa no uso de “quadradinhos”, mostrando o que está acontecendo na cena através de várias perspectivas. Além de quase não mostrar o rosto dos humanos.
O acabamento da Panini, no entanto, deixa um pouco a desejar e acabou por prejudicar a arte. Principalmente nas cores, que ficaram escuras. No mais, possui capa cartonada e miolo LWC, bio dos criadores e as capas originais. Em vários momentos os bichinhos dizem “Nós3”, daí vem o título original “WE3”, ou também pode-se referir à “Weapon 3”, codinome do projeto. Uma curiosidade é que as três capas original (nos EUA a mini foi publicada em 3 edições) são protagonizadas por uma mensagem de “procura-se” de cada um dos três animais, e na do “Gato” tem um texto que deixa claro que trata-se, na verdade, de uma “Gata”! Problema na tradução ou não, durante toda a história ela é chamado de “Gato”.
A Panini recentemente republicou esta HQ em capa dura, numa edição definitiva com extras. Não sei se o problema com a tradução ou cores foi resolvido. WE3 traz uma história simples, mas interessante, com uma arte fenomenal e vale muito a pena sua leitura.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.