Nome Original: Fables #1 à #5
Editora/Ano: Panini, 2012 (Vertigo, 2002)
Preço/ Páginas: R$18,90/ 132 páginas
Gênero: Alternativo/ Fantasia
Roteiro: Bill Willingham
Arte: Lan Medina
Sinopse: Quem matou Rosa Vermelha? Essa é a única pergunta que se escuta na Cidade das Fábulas, onde as lendas dos contos de fadas vivem ao lado de nova-iorquinos. Mas somente Bigby Lobo, também conhecido como Lobo Mau, é capaz de encontrar a resposta para o mistério. E, ao lado de Branca de Neve, os dois são as únicas pessoas capazes de impedir que a comunidade entre em colapso devido ao choque de tão bárbaro crime!
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Fábulas é uma das séries que mais tive vontade de conhecer, afinal de contas, ela reúne elogios e prêmios desde a sua criação em 2002 até hoje, com 10 anos de publicação, mais de 120 edições lançadas e diversos spin-offs e especiais. Alguns, inclusive, chegam a dizer que Fábulas seria o “Sandman” dos anos 2000. Não sei se é pra tanto, mas esse primeiro volume (reunindo as 5 primeiras edições) é bastante interessante e impressiona pela “nova” visão das já conhecidas fábulas como Branca de Neve, Lobo Mau, Bela e a Fera, Pinóquio e diversos outros, fugindo das típicas alterações realizadas no cinema e literatura (ultimamente houve um boom de adaptações de contos de fadas).
Assim como Sandman, Fábulas também é escrita por uma só pessoa. Bill Willingham (Sandman Apresenta: Contos Fabulosos) é o criador e roteirista da série, tornando-a, teoricamente, linear e sem mudanças drásticas em sua história, o que é bom. Outras semelhanças com a criação de Neil Gaiman estão: Todd Klein como letrista original, apoio de Karen Berger na editoração e a exploração de um mundo fictício se misturando ao mundo real, se aprofundando no psicológico dos personagens e criando tramas grandes e completas. As capas também seguem um padrão, com as primeiras 81 edições criadas pelo artista James Jean (Umbrella Academy) e da #82 em diante por João Ruas (Fables: Witches).
Mas as semelhanças terminam aí. Fábulas possui uma trama criativa, inesperada e bastante real, a seu modo, claro. Uma criatura denomina popularmente como Adversário surgiu e, aos poucos, começou a dominar todas as Terras das Fábulas. Seu exército é poderoso e aprisiona todos que entrarem em seu caminho, ocupando a cidade alvo e matando aqueles que se opuserem. Algumas fábulas conseguiram escapar e partiram para uma terra distante onde o Adversário não possui conhecimento, por ser quase insignificante: a Terra, mais precisamente para Nova York. Assim foi criado a Cidade das Fábulas, uma comunidade onde vivem as fábulas refugiadas com aparência humana (ou que podem comprar uma aparência assim de alguma bruxa); e também a Fazenda, onde vivem as que possuem aparência animal ou fantásticas demais para passarem despercebidas entre os “mundanos”: os humanos. O Rei Cole é o “prefeito” e Branca de Neve é sua vice e principal responsável por tudo que ocorre no “governo”, com ajuda das investigações do xerife Bigby, o Lobo Mau.
Entretanto, esses novos moradores precisam sobreviver na cidade grande e seus títulos de nobreza e riqueza nada valem aqui, gerando muita dor de cabeça à prefeitura, já que precisam trabalhar e ganhar dinheiro como qualquer outro cidadão. E é assim que “Lendas no Exílio” começa, com Branca atendendo o casal Bela e Fera, que passam por crise depois de tantos séculos juntos. Após a reunião, ela recebe a notícia que Rosa Vermelha, sua irmã, desapareceu e seu apartamento foi encontrado com sangue em todo canto. Bigby inicia sua investigação e, até que se prove o contrário, todos são suspeitos: Branca, por ter se separado do Príncipe Encantado ao flagrá-lo em cenas comprometedoras com a irmã; João, o mentiroso namorado de Rosa; Barba Azul, que iria casar com ela em segredo; uma Bruxa e por aí vai. Tudo se resolve no final, na “famosa cena do salão” onde Lobo descobre toda a verdade e a revela no Baile de Recordação, evento anual responsável por levantar fundos para a prefeitura e recordar os velhos tempos, como num conto policial de Agatha Christie.
A partir deste crime que Willingham nos explica sobre a fuga das fábulas das Terras Natais, a história do Adversário, sobre a Fazenda e apresenta o novo status quo de diversos personagens já conhecidos do público. Importante comentar que após a fundação da Cidade, as fábulas criaram uma lei que “perdoa” todos os crimes e atitudes pregressas de seus moradores, como os assassinatos de Bigby Lobo e Barba Azul, porém elas adoram “lembrar” de tais histórias (ou jogar na cara, mesmo). O grande trunfo de Fábulas é unir de forma incrível todas as histórias, lendas e mitos da literatura popular e trazê-las ao mundo real. Willingham não dá apenas uma roupagem mais contemporânea ou um clima de terror, ele as deixou humanas: com dúvidas existenciais, intrigas, paixões, vinganças, remorsos, arrependimentos…
Alice no País das Maravilhas, Mágico de Oz, Baba Yaga, os três porquinhos e Cinderela são algumas das referências contidas neste primeiro volume. Poderia escrever mais uns 5 parágrafos sobre tais referências e de como essa nova versão de personagens já conhecidos e novos eventos (como a rifa de um reino + título de nobreza, os dotes sexuais do Príncipe Encantado, a revolta do Pinóquio em ser um eterno menino…) é interessante e envolvente ao leitor, porém se tornaria mais do mesmo ^^. Infelizmente, sem o apoio do carisma dos personagens, alguns momentos em “Lendas no Exílio” deixam a desejar. A sequência com o Príncipe Encantado e a garçonete, as atitudes exageradas de Bigby Lobo em acusar os suspeitos e alguns diálogos ficaram forçados e, no fundo, caricatos.
Os desenhos são de Lan Medina (Distrito X) com arte finalização de Steve Leialoha (Sandman Apresenta: Petrefax) e cores de Sherilyn Van Valkenburgh (Enigma). No geral são bons e lembram antigos títulos da Vertigo, com caracterização mais tradicional e flashbacks com quadros bem ornamentados, mas sem grandes inovações na diagramação. Em comparação às excelentes capas pintadas por James Jean, a arte interna pode parecer até simples, porém ela é bastante detalhada e traz algumas surpresas se for bem observada; as cores ajudam nessa idéia de “retro”. Destaque, claro, para um Lobo Mau caminhando pra lá e pra cá sem camisa, exibindo sua nova forma de “cordeiro” ^^.
A série Fábulas, assim como outros títulos da Vertigo, possui um histórico de publicação um pouco complicado por aqui. Em 2005 a Devir lançou os três primeiros volumes em formato de luxo. Infelizmente a editora descontinuou e os encadernados esgotaram nas lojas, sendo vendidos a preços exorbitantes por quem tinha. Em seguida veio a Pixel, que tentou continuar lançando algumas edições soltas, porém cancelando em pouco tempo. E, finalmente, a Panini lançou o aguardado volume 4 no final de 2009, continuando exatamente de onde a Devir parou, estando no vol. 12 atualmente (nos EUA está no 17). Entre uma edição e outra há um período não estipulado pela editora, porém a séria caminha muito bem. A Panini sempre prometeu relançar os primeiros volumes e isso só se tornou realidade agora: em junho de 2012 é relançado o vol. 1 e o vol. 2 chegará em novembro. O vol. 3 só em 2013!
O acabamento segue o padrão de encadernados para banca: capa cartonada e miolo LWC, páginas numeradas e as capas originais. Como extra temos um conto escrito e ilustrado por Bill Willingham contando um pouco sobre o passado de Bigby Lobo e de como foi parar em Nova York, muito interessante e um adicional relevante à mitologia da série. Interessante comentar que um dos três porquinhos aparece tanto nas capas quanto na arte interna, o que pode ser uma chamada para o arco seguinte: A Revolução dos Bichos.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.
[…] tanto longas quanto curtas, que fizeram bastante sucesso entre o público e a crítica, como Fábulas, do Mark Buckingham (publicada entre 2002 e 2015), Preacher, do Garth Ennis (1995-2000), […]