Nome Original: Batman: The Killing Joke
Editora/Ano: Panini, 2009 (DC, 1988)
Preço/ Páginas: R$19,90/ 88 páginas
Gênero: Ação/ Super-herói
Roteiro: Alan Moore
Arte: Brian Bolland
Sinopse: Um dia ruim. É apenas isso que separa o homem são da loucura. Pelo menos segundo o Coringa, um dos maiores e mais conhecidos vilões dos quadrinhos. E ele quer provar seu ponto de vista enlouquecendo ninguém menos que o maior aliado de seu grande inimigo: o Comissário Gordon. Cabe ao Cavaleiro das Trevas impedi-lo.
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Finalmente li esta HQ, considerada por praticamente todo mundo uma das melhores histórias do Batman. Foi a responsável por apresentar aos leitores o passado conturbado do Coringa e da eterna cena em que Bárbara Gordon é atingida por um tiro e fica paraplégica, se tornando mais tarde a expert Oráculo. Foi (e acredito que ainda seja) uma HQ à frente de seu tempo. Mesmo hoje é chocante observar algumas cenas, imagina quando foi lançada em 1988?
Escrita por Alan Moore, talvez o nome mais importante das HQs modernas (tendo criado clássicos como Watchmen, V de Vingança, Liga Extraordinária, Tom Strong…), a trama gira em torno da teoria do Coringa em que qualquer um pode passar da sanidade à loucura com apenas um dia ruim. E a partir daqui a história desenrola as emoções e personalidade do Comissário Gordon, Batman e do próprio Coringa, culminando num final surpreendente.
Em resumo, o Coringa escapa do Arkham para assassinar Bárbara Gordon e sequestrar seu pai. Seu intuito é enlouquecer o Comissário, mostrando as barbaridades que fez à sua filha e provar ao Batman que a linha que separa o são do louco é muito tênue. Em paralelo, temos flashbacks de como um comediante falido viria a se tornar o vilão Coringa, após uma tragédia.
O modo em que “A Piada Mortal” se desenvolve é bastante envolvente, em parte graças à arte de Brian Bolland (Camelot 3000, Juíz Dredd). Já comentei sobre isso aqui no site, ele é bem detalhista e delicado. Não há splash-pages ou páginas duplas, cenas desnecessárias ou momentos banais, cada quadradinho está ali cumprindo seu dever. Isso explica as poucas páginas da HQ, tudo bem direto e objetivo.
Isso faz, também, com que não achemos pontos negativos pra comentar. Com exceção, talvez, do gosto do leitor (e sua simpatia à super-heróis), tudo é muito competente. Claro que não chega à ser uma obra-prima, como os próprios autores chegam a dizer, ficando à sombra de algumas outras obras do Moore, mas é excelente (me surpreendeu).
Falando em super-heróis, há cenas “fortes” para o padrão do gênero. Destaco duas: quando Babs sofre o tiro, rápido e certeiro, sem rodeios como poderíamos imaginar; e quando seu pai, o Comissário, passa pelo “Trem Fantasma” e é obrigado a ver fotos dela sangrando no chão, semi-nua, tiradas pelo próprio Coringa ao tentar matá-la. A reação dele e toda essa sequência do trem é espetacular, de longe minha preferida da HQ.
Há outros pequenos e brilhantes momentos, como a reação do Comissário em relação ao Coringa. Será que a teoria da sanidade se cumpriu? Não esquecemos do Batman, que apesar de se transformar num personagem menor, termina a história de forma emblemática. E essa é “A Piada Mortal”, uma HQ curta porém muito competente, com nenhum momento desperdiçado. Interessante como ela é distinta da mais recente “Coringa“, do Brian Azarello e Lee Bermejo. Menos caricata.
A edição da Panini é luxuosa, com capa dura e papel couché, além de diversos extras. A introdução é de Tim Sale (Mulher-Gato: Cidade Eterna), exaltando a obra, com posfacio do próprio Bolland, explicando como chegou à trabalhar com Moore e qual era sua ideia original. Ele comenta como não se sentiu satisfeito em alguns pontos, criando mais tarde a história especial “Sujeito Inocente” (publicada em Batman: Black and White) como uma forma de exorcizar tais ideias, trazendo um Batman muito mais vulnerável ao virar alvo de uma pessoa comum, que simplesmente deseja matá-lo, sem deixar “moedas, charadas ou cartas”. Esse especial também está presente nessa edição e é ótimo.
Fecha o encadernado a republicação de “Batman #1”, primeira revista solo do personagem publicada originalmente em 1940, com a aventura clássica em torno do Coringa. É certo que os quadrinhos dessa época, ainda experimentando o gênero de super-herói, não envelheceram bem. Além da arte menos dinâmica, todo o roteiro soa forçado, com recordatórios e balões explicando o que já estamos vendo, ou repetindo algo que acabou de passar. Chega a ser engraçado e um extra interessante à edição, mostrando como o gênero como um todo evoluiu. Também há uma mini-bio de todos os autores.
Vale lembrar que as cores dessa versão foram produzidas pelo próprio Bolland, que chegou a lamentar as cores originais por serem muito “estridentes” (perdendo um pouco de sua cara “oitentista”, que gosto muito, e ficando mais moderna). Para comparação:
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.
Gostei bastante desse material, só que não a primeira lida. Eu só vim realmente gostar dele com o passar dos anos, e também concordo sobre as cores dos anos 80 serem melhores, aquele colorista foi para mim o melhor colorista de HQs que já existiu, a coloração que ele fez em Watchmen eu considero insuperável. Eu fiz um texto também sobre a Piada Mortal, só que mais no intuito da minha interpretação sobre ela, caso queira ver: http://ozymandiasrealista.blogspot.com.br/2014/09/batman-piada-mortal-minha-teoria-sobreo.html
Força e Honra.