Nome Original: Joker
Editora/ Ano: Panini, 2011 (DC, 2008)
Preço/ Páginas: R$24,90/ 132 páginas
Gênero:Ação/ Super-Herói
Roteiro: Brian Azarello
Arte: Lee Bermejo
Sinopse: “Não sei os detalhes, como o motivo… mas o fato é que ele… o Coringa estava sendo liberado do Asilo Arkham”. Assim começa a jornada de Jonny Frost, um bandido qualquer que, de uma hora pra outra, se vê ao lado de figurões do mundo do crime, como o Crocodilo, Pinguim, Duas-Caras, Charada e, principalmente, seu líder e inspiração… o Coringa. Libertado do Asilo Arkham, o Palhaço do Crime volta à sua vida em Gotham City e parte numa cruzada sangrenta para reconquistar seu território e lembrar a todos quem é realmente o dono da cidade.
“Coringa” foi uma graphic novel lançada em 2008 aproveitando o hype que o filme do Batman, com Heath Ledger interpretando o Coringa, causou. Se passa numa realidade alternativa, sem consequências na cronologia oficial e com o visual totalmente inspirado no filme. Coringa é, ao lado de obras como A Piada Mortal (do Alan Moore), um dos principais títulos do vilão. O Batman possui, na minha opinião, os melhores e mais carismáticos inimigos entre os heróis do mainstream; e os especiais e minis desses personagens não costumam desapontar.
O roteiro é do Brian Azzarello, o co-criador da série 100 Balas e um dos roteiristas mais renomados do momento, conhecido pelo seu estilo noir. Na história, o Coringa foi solto do Asilo Arkham, pois os psiquiatras não o consideram mais louco. Ele recebe o apoio de Jonny Frost, outro bandido, que funciona como seu guarda-costas e consultor. Gotham não é mais a mesma e o palhaço perdeu a moral na cidade e, com a ajuda do Crocodilo, decidi colocar os outros vilões em seus respectivos lugares e retomar a liderança do lugar.
A narrativa é consistente e empolga, principalmente por seu realismo. O autor conseguiu tornar o Coringa mais insano e doentio que nunca, ele realmente convence. Em algumas cenas o vemos tomando “certos” comprimidos, que certamente devem ajudar em suas doidices. Jonny Frost co-estrela o título e também é o narrador da história, se inspirando em seu “mestre” e o temendo ao mesmo tempo. Outros vilões do morcego vão surgindo, como o Pinguim, o Charada e o Duas-Caras que, definitivamente, não vai com a cara do Coringa. Harvey Dent protagoniza alguns dos melhores momentos, principalmente em sua discussão com o Coringa, que sempre se pergunta com qual cara ele está falando, é bem engraçado. Apesar de consistente, a história não possui profundidade nem momentos marcantes. O Pinguim surge apenas para ajudar o Coringa a recuperar seu dinheiro, mostrando ser bastante submisso. Arlequina aparece brilhantemente no início do álbum, fazendo um striptease e recebendo algumas gorjetas num bar, bem ao estilo da Nancy Callahan de Sin City. Mas depois disso a vilã se apaga e nem abre a boca pra falar alguma coisa, infelizmente, pois ela poderia receber uma caracterização tão insana quanto o Coringa, já que Harleen era psiquiatra e foi internada no Arkham justamente por ter perdido a noção, também.
Em contra partida, a arte está perfeita. Os desenhos são de Lee Bermejo (Lex Luthor: Homem de Aço, Frequência Global), que já trabalhou com Azzarello. Seus traços são bastante característicos e é o ponto alto da HQ. O Coringa de Christopher Nolan é a grande inspiração para este outro Coringa. O personagem deixou pra trás suas piadas escandalosas e seu visual caricato, ganhando uma versão mais realista, tanto em visual quanto em personalidade. Coringa é um daqueles vilões que não possuem métodos convencionais e pouco se importa com as consequências, sendo uma caixinha de surpresas ambulante. Suas ações, sempre absurdas, são o que mais temem seus antagonistas. Bermejo também realiza a arte-finalização de algumas páginas, dividindo o serviço com Mick Gray (Zatanna, Promethea). A diferença entre os dois é visível, com Gray indo mais para o nanquim e Bermejo mais para a pintura, ambos são ótimos.
Os destaques ficam para a cena de abertura da Arlequina e de quando o carro onde ela, o Coringa e Frost estão capota. Os demais vilões de Gotham, em particular o Duas-Caras, também se destacam e roubam a cena quando aparecem e, claro, pela personalidade do próprio Coringa, que está incrivelmente insano.
Se a arte é o ponto alto da HQ, a colorização é o ponto alto da arte. As cores de Patricia Mulvihill são incríveis, se adaptando ao estilo noir de Azzarello, utilizando muito bem dos contrastes e cenas com a mesma cor, mas em diversos tons, predominando o vermelho e o azul. É um estilo que admiro e gosto bastante. Ela já trabalhou com Azzarello em 100 Balas e em títulos como Hellblazer e Loveless.
A Panini lançou a HQ com acabamento de luxo em 2009 e relançou em 2011 no mesmo formato: capa dura e papel couché. Como extras há uma pequena biografia do autor, dos envolvidos na arte e também dos criadores do Coringa. Possui um bom preço, visto a qualidade do formato e é uma leitura bastante recomendada. Quem não curte o Batman não precisa se preocupar, pois ele quase não aparece; e por se passar numa realidade mais alternativa, não influência as histórias do morcego, tanto antes quanto depois do reboot. A capa também é excelente.
*Uma observação: Jonny Frost é bastante parecido, visualmente, com John Constantine. Coincidência ou não, Azzarello, Bermejo e Mulvihill já trabalharam em Hellblazer.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.
a história e arte dessa revistão são muito boas. Boa analise a sua.