Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.
[Review] Coringa !
Nome Original: Joker
Editora/ Ano: Panini, 2011 (DC, 2008)
Preço/ Páginas: R$24,90/ 132 páginas
Gênero:Ação/ Super-Herói
Roteiro: Brian Azarello
Arte: Lee Bermejo
Sinopse: “Não sei os detalhes, como o motivo… mas o fato é que ele… o Coringa estava sendo liberado do Asilo Arkham”. Assim começa a jornada de Jonny Frost, um bandido qualquer que, de uma hora pra outra, se vê ao lado de figurões do mundo do crime, como o Crocodilo, Pinguim, Duas-Caras, Charada e, principalmente, seu líder e inspiração… o Coringa. Libertado do Asilo Arkham, o Palhaço do Crime volta à sua vida em Gotham City e parte numa cruzada sangrenta para reconquistar seu território e lembrar a todos quem é realmente o dono da cidade.
“Coringa” foi uma graphic novel lançada em 2008 aproveitando o hype que o filme do Batman, com Heath Ledger interpretando o Coringa, causou. Se passa numa realidade alternativa, sem consequências na cronologia oficial e com o visual totalmente inspirado no filme. Coringa é, ao lado de obras como A Piada Mortal (do Alan Moore), um dos principais títulos do vilão. O Batman possui, na minha opinião, os melhores e mais carismáticos inimigos entre os heróis do mainstream; e os especiais e minis desses personagens não costumam desapontar.
O roteiro é do Brian Azzarello, o co-criador da série 100 Balas e um dos roteiristas mais renomados do momento, conhecido pelo seu estilo noir. Na história, o Coringa foi solto do Asilo Arkham, pois os psiquiatras não o consideram mais louco. Ele recebe o apoio de Jonny Frost, outro bandido, que funciona como seu guarda-costas e consultor. Gotham não é mais a mesma e o palhaço perdeu a moral na cidade e, com a ajuda do Crocodilo, decidi colocar os outros vilões em seus respectivos lugares e retomar a liderança do lugar.
A narrativa é consistente e empolga, principalmente por seu realismo. O autor conseguiu tornar o Coringa mais insano e doentio que nunca, ele realmente convence. Em algumas cenas o vemos tomando “certos” comprimidos, que certamente devem ajudar em suas doidices. Jonny Frost co-estrela o título e também é o narrador da história, se inspirando em seu “mestre” e o temendo ao mesmo tempo. Outros vilões do morcego vão surgindo, como o Pinguim, o Charada e o Duas-Caras que, definitivamente, não vai com a cara do Coringa. Harvey Dent protagoniza alguns dos melhores momentos, principalmente em sua discussão com o Coringa, que sempre se pergunta com qual cara ele está falando, é bem engraçado. Apesar de consistente, a história não possui profundidade nem momentos marcantes. O Pinguim surge apenas para ajudar o Coringa a recuperar seu dinheiro, mostrando ser bastante submisso. Arlequina aparece brilhantemente no início do álbum, fazendo um striptease e recebendo algumas gorjetas num bar, bem ao estilo da Nancy Callahan de Sin City. Mas depois disso a vilã se apaga e nem abre a boca pra falar alguma coisa, infelizmente, pois ela poderia receber uma caracterização tão insana quanto o Coringa, já que Harleen era psiquiatra e foi internada no Arkham justamente por ter perdido a noção, também.
Em contra partida, a arte está perfeita. Os desenhos são de Lee Bermejo (Lex Luthor: Homem de Aço, Frequência Global), que já trabalhou com Azzarello. Seus traços são bastante característicos e é o ponto alto da HQ. O Coringa de Christopher Nolan é a grande inspiração para este outro Coringa. O personagem deixou pra trás suas piadas escandalosas e seu visual caricato, ganhando uma versão mais realista, tanto em visual quanto em personalidade. Coringa é um daqueles vilões que não possuem métodos convencionais e pouco se importa com as consequências, sendo uma caixinha de surpresas ambulante. Suas ações, sempre absurdas, são o que mais temem seus antagonistas. Bermejo também realiza a arte-finalização de algumas páginas, dividindo o serviço com Mick Gray (Zatanna, Promethea). A diferença entre os dois é visível, com Gray indo mais para o nanquim e Bermejo mais para a pintura, ambos são ótimos.
Os destaques ficam para a cena de abertura da Arlequina e de quando o carro onde ela, o Coringa e Frost estão capota. Os demais vilões de Gotham, em particular o Duas-Caras, também se destacam e roubam a cena quando aparecem e, claro, pela personalidade do próprio Coringa, que está incrivelmente insano.
Se a arte é o ponto alto da HQ, a colorização é o ponto alto da arte. As cores de Patricia Mulvihill são incríveis, se adaptando ao estilo noir de Azzarello, utilizando muito bem dos contrastes e cenas com a mesma cor, mas em diversos tons, predominando o vermelho e o azul. É um estilo que admiro e gosto bastante. Ela já trabalhou com Azzarello em 100 Balas e em títulos como Hellblazer e Loveless.
A Panini lançou a HQ com acabamento de luxo em 2009 e relançou em 2011 no mesmo formato: capa dura e papel couché. Como extras há uma pequena biografia do autor, dos envolvidos na arte e também dos criadores do Coringa. Possui um bom preço, visto a qualidade do formato e é uma leitura bastante recomendada. Quem não curte o Batman não precisa se preocupar, pois ele quase não aparece; e por se passar numa realidade mais alternativa, não influência as histórias do morcego, tanto antes quanto depois do reboot. A capa também é excelente.
*Uma observação: Jonny Frost é bastante parecido, visualmente, com John Constantine. Coincidência ou não, Azzarello, Bermejo e Mulvihill já trabalharam em Hellblazer.
a história e arte dessa revistão são muito boas. Boa analise a sua.