O roteiro de Ícones X-Men: Noturno é de Chris Kipiniak (Homem-Aranha) e explora o lado religioso do personagem, além de caminhar por alguns temas mais “incomuns” como prostituição e tráfico. Durante esse período Kurt estava em dúvida se prosseguia com sua carreira nos X-Men ou se destinava sua vida ao sacerdócio para, enfim, se tornar padre. Aqui, ele divide esse problema com seu superior, o padre Whitney, porém uma situação inesperada coloca em teste essa vocação. Kim, uma tailandesa que trabalha como escrava para uma executiva (em troca de proteção por ser uma imigrante ilegal nos EUA) foge de sua “dona” e se refugia na Igreja, pedindo ajuda, porém sem o envolvimento da polícia.
Oleg é o chefão de uma máfia que trafica imigrantes ilegais, explorando-os de diversas formas em troca de uma pseudo-proteção. Ele descobre sobre Kim e o esconderijo, iniciando sua caçada, sem se preocupar com quem estiver no caminho. O tom mais “sério” da história é um dos destaques, principalmente por envolver um tema que sempre está em alta nos EUA (imigração) com uma leve crítica à leis americanas que pode encobrir exploração e escravização de pessoas. O padre Whitney pode ser considerado um cidadão cansado de ver tais injustiças e que largou de mão em tentar fazer algo para melhorar, pois não vê solução imediata para o problema, preferindo aconselhar Noturno em rezar ao utilizar seus dons. Dentre as duas ediçãos, a segunda é a melhor; além de incluir uma prostituta que fica entre cooperar com seu “dono” e ajudar Kurt a acabar com o tráfico, as sequências de teleporte são ótimas.
Os desenhos são de Matt Smith (2000AD) com arte finalização de Mark Morales (X-Force). Iinfelizmente, a arte não combina com a temática proposta por Kipiniak, pois se assemelha à uma animação e deixa a história “suave”, porém não tira o crédito de ser bonita e com ótimas sequencias de ação, como o já citado teleporte do Noturno. O destaque fica por conta das cores do estúdio Hi-Fi Design, principalmente nas páginas com o mesmo tom e na fumaça gerada pelo mutante. É o mesmo estúdio responsável pelas cores da série Fabulosos X-Men (publicada no mix X-Men) o que torna, inclusive, a arte de ambas séries muito semelhantes, apesar dos desenhistas diferentes.
No geral, Ícones X-Men: Noturno vale a leitura e ganha ponto por ter sido lançado em formato diferenciado pela Panini (que poderia ter feito o mesmo com as demais séries do selo Ícones). O acabamento é em papel couche e LWC, traz as capas originais reproduzidas no miolo e, apesar de ser menor que o formato americano, não prejudica a qualidade dos traços.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.