Arcos Principais: A Morte da Poderosa Thor (The Death of the Mighty Thor).
Publicação Original/ Brasil: The Mighty Thor #700-706 (Marvel, 2018)/ Inédito.
Roteiro/ Arte: Jason Aaron/ Russell Dauterman.
Em 2014 o Thor Odinson havia perdido seu direito de segurar o Mjolnir por ser “indigno“. Foi quando, após várias pessoas tentarem erguer o martelo, que a Jane Foster se provou digna e não só conseguiu erguer o martelo no arco A Deusa do Trovão, como também conseguiu o manto de uma Thor. E ao mesmo tempo em que foi hostilizada em Asgardia por ser mulher e roubar o papel do Odinson, aqui no mundo real ela (e a Marvel) foram igualmente criticadas. Mas o tempo (e o roteirista Jason Aaron) provaram o valor da Poderosa Thor, que ganhou revista solo própria no final de 2015 e se tornou uma das melhores séries da editora nos últimos anos. Mas havia um porém: Jane Foster sofria de câncer e, a cada transformação em Thor, ela morria um pouco. Sua morte era iminente e, nesse último arco, denominado A Morte da Poderosa Thor (edições #700-706) e finalizado em 2018, trouxe uma história épica e sensível, envolvendo amizade e heroísmo na medida certa. Review especial com alguns spoilers e, após a nota, um comentário com spoiler!
A MORTE DA PODEROSA THOR
Desde as primeiras edições, estamos a par da guerra que o elfo negro Malekith vem trazendo aos 10 Reinos, matando habitantes, saqueando suas terras e instalando um governo ditatorial com apoio das empresas Roxxon. E essa guerra chega às raízes da Yggdrasil, a árvore nórdica que sustenta os 10 Reinos. O Odinson é convocado para proteger as Nornes e sua Rainha, porém não consegue. Essa primeira edição é muito bonita graficamente, graças aos desenhos do excelente Russell Dauterman (essa série não seria a mesma sem ele) e por mostrar vários vislumbres interessantes, como o envolvimento da Hela com o Thanos. Já na Terra, a Jane precisa se transformar em Thor para lidar com uma Mulher Hulk descontrolada. Por ser uma edição comemorativa número #700, há artistas convidados e várias páginas com trechos históricos do Thor, além de mostrar outros personagens que já carregaram o martelo de alguma forma.
O foco do arco está no despertar de Mangog: uma criatura feita a partir do ódio de bilhões de mortes causadas pelos deuses. Ele é o próprio juízo final dos deuses. Sua missão é unicamente acabar com eles, já que os considera inconstantes e desonrados, que não atendem as preces de quem acredita neles, que se tornaram vaidosos demais e que precisam ser destruídos. Não é a primeira vez que Mangog surge em Asgardia, mas dessa vez ele vem mais poderoso que nunca. E, literalmente, ele arrebenta com tudo! Volkstagg, como o Thor da Guerra, é o primeiro a enfrentá-lo na Velha Asgard, num embate sangrento.
Após a batalha com a Mulher-Hulk e de comprar uma briga com Odin, exigindo que ele se apresente e tome uma posição em relação à guerra de Malekith, Jane desmaia e fica extremamente debilitada. Com o apoio da Agente Roz, o Doutor Estranho, Falcão e Odinson, ela opta por ficar no hospital. É avisada que, se tocar no martelo e se transformar na Poderosa Thor, será sua última vez. Ela estará selando seu destino, pois seu corpo não aguentará uma nova transformação. É interessante essa passagem, em que ela olha pro martelo e toma sua decisão, porque conseguimos sentir o drama da personagem. Seria, literalmente, uma missão suicida, um último ato heroico.
O juízo final dos deuses, Mangog, consegue localizar Asgardia e é quando as coisas ficam fora de controle, com sequências sensacionais, épicas e grandiosas. Nada nem ninguém está a salvo! Só pra comentar alguns pontos, sem entregar muito a cereja do bolo, ele enfrenta Heimdall e destrói a ponte Bifrost! A Lady Freya toma a frente e ativa o Destruidor, numa tentativa desesperada de salvar a cidade. É interessante comentar que, desde que surgiu a Poderosa Thor, a Freya vem ganhando bastante destaque como a Mãe-de-Todos, principalmente em seu papel como mulher e, quase sempre, como superior ao Odin, que se mostrou um covarde em vários momentos.
Na edição #704 conhecemos um pouco do passado da Jane, de como perdeu sua mãe para também um câncer, de como perdeu o filho e o marido num acidente, sobre sua falta de fé e a eterna culpa de que poderia ela, ou algum deus, ter auxiliado nesses momentos difíceis. Outro ponto para o Aaron, que soube mesclar bem a religiosidade com o mundo super-heroico, já que não podemos esquecer que estamos lidando com entidades, deuses de um determinado panteão. Há até uma interatividade com o Hércules. E isso vai de frente com a decisão dela em continuar como Thor por uma última vez e salvar Asgardia de Mangog, que destrói tudo que há pela frente e consegue, inclusive, redirecionar a cidade dourada rumo ao Sol; ou cuidar de sua vida humana, se curar do câncer e deixar que os deuses, que já a abandonaram uma vez, lidem com os seus próprios problemas. Até porque o discurso de Mangog tem seu lado verdadeiro. O clímax da edição, com a batalha rumo ao Sol, com a eminente morte de Jane Foster, ficando na Terra ou em Asgardia, é bastante emocionante. Há a participação do próprio Odin, numa retomada de consciência, da Freya, dos amigos do Odinson e, não somente o fim de toda uma história que vem se desenvolvendo há anos, como também o fim de um importante objeto e aspecto da mitologia do Thor.
Achei inteligente a decisão da Marvel em relação à “morte da Poderosa Thor“. A personagem se provou valiosa, com histórias sempre acima da média. Ao mesmo tempo em que matá-la, num bom arco, a marcaria; deixá-la viva também seria uma saída (se feita de maneira inteligente). Nesse caso, após a Poderosa Thor conseguir eliminar Mangog, o arremessando em direção ao Sol junto do Mjolnir, ela perde sua força e morre nas mãos do Odinson. E, numa das melhores cenas da HQ, ele faz de tudo para tentar reanimá-la. É quando surge a Deusa Tormenta, na forma de uma enorme tempestade, que é canalizada pelo próprio Odinson e o Odin, que a utilizam pra reviver Jane e tirá-la das portas do Valhalla. Tudo muito bonito e ela, então, sobrevive. Odinson também, sem o seu braço. O Mjolnir, provavelmente, está no Sol e só sobrou um pedacinho do seu metal. Os asgardianos perdem sua cidade dourada, mas retornam à Velha Asgardia. Comentei que achei um final mais inteligente porque, nessa altura do campeonato, a gente já está de saco cheio dos personagens que morrem e, um ano depois, retornam em alguma história mirabolante. Então antes de desgastar a personagem ou apagá-la, que a mantenham como humana, retornando seu tratamento do câncer, quase com um final feliz. Mas, ainda assim, matando-a como heroína, como uma Thor.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.