[Especial] Raio Negro Vol. 1: Tempos Difíceis!

Arcos Principais: Tempos Difíceis (Hard Time).
Publicação Original/ Brasil: Black Bolt #1-6 (Marvel, 2017)/ Inédito.
Roteiro/ Arte: Saladin Ahmed/ Christian Ward.

A Marvel, nos últimos anos, vem apostando bastante nos Inumanos, com direito a diversas revistas mensais e até mesmo uma série live action (que acabou flopando). Em 2017 foi a vez do Rei dos Inumanos, o Raio Negro, ganhar sua primeira revista solo, escrita pelo Saladin Ahmed e com desenhos do Chris Ward, num roteiro mais alternativo. A Marvel tem se saído bem com suas séries de personagens de segundo ou terceiro escalão, como as ótimas O Visão e Cavaleiro da Lua, saindo um pouco da mesmice de sempre. Sou apaixonado pela arte psicodélica do Ward e logo que bati o olho, senti que precisava ler. E o melhor: não é necessário ter acompanhado as últimas aventuras dos Inumanos pra entender a história. Review especial sem muitos spoilers!

TEMPOS DIFÍCEIS

A premissa desse primeiro arco (edições #1-6) é bem simples: Raio Negro acorda preso numa cela, dentro de um presídio espacial; sem poderes, vulnerável, precisando enfrentar outros prisioneiros, morrendo no processo e renascendo em seguida; transformando tudo isso num círculo vicioso. Claro que há uma explicação que envolve os últimos eventos dos Inumanos, mas a princípio achei a ideia bem simples e até semelhante ao que ocorreu com o Cavaleiro da Lua do Lemire ou a série do Legião (a ideia de looping, sem saber onde está, pessoas excêntricas, etc…). Esse ciclo é o calcanhar de Aquiles do arco, porque chega a ficar manjado num determinado momento. Fora isso, esse primeiro arco traz ótimos e grandiosos momentos. Começando pela galera da prisão: Blinky, uma criança alienígena de vários olhos; Mestre do Metal, talvez o prisioneiro mais velho do lugar; Raava, uma gladiadora skruul; e o vilão Homem Absorvente. Todos presos, pagando por seus crimes dia após dia, sem sossego. O roteiro é de Saladin Ahmed, um escritor de literatura fantástica, sendo seu primeiro grande trabalho para os quadrinhos. E por ser escritor de romances, acaba trazendo uma outra carga e perspectiva para a história. Há uma importância de se valorizar e evoluir todos os personagens secundários, que se destacam em momentos diferentes, além das cenas de diálogos que movimentam a trama. Mas por outro lado, é bem visível a “estrutura” do arco, os vai e vens que comentei no início, a busca desse grupo por sair da prisão e enfrentar o Carcereiro.

Interessante comentar que o Raio Negro é um personagem curioso e singular. Sua voz é capaz de destruir montanhas e, por isso, permanece calado a maior parte do tempo quando aparece em alguma história. Imaginei que trabalhariam com isso, talvez uma história muda? Mas como ele perdeu os poderes nessa prisão, ele se transforma num personagem falante como qualquer outro. O vilão é o Carcereiro do lugar, que surge misteriosamente, comandando um lacaio que possui uma caixa de metal capaz de manipular os poderes dos presos. Um dos melhores momentos do arco é quando o Homem Absorvente, aquele tipo de personagem que você não dá nada, está amarrado junto do Raio Negro, ambos incapacitados, e ele começa a narrar sua origem. Ver sua adolescência, como ganhou os poderes de Loki, se transformou em vilão e se apaixonou pela Titânia valem a leitura. O Raio Negro também protagoniza um momento semelhante, recontando sua origem e a ascensão dos Inumanos pelo traço de Frazer Irving.

O ponto alto está na arte de Chris Ward, que é fenomenal. Sou um grande fã dele, principalmente das cores, tudo muito vivo, com altos contrastes. Há muito azul, laranja e rosa, deixando seus desenhos bem característicos. Por ser um artista psicodélico, algumas das melhores cenas são explosões de cores e neons. Numa delas, o Homem Absorvente é utilizado como conduíte do super grito do Raio Negro, culminando numa sequência sensacional. Ward também sempre traz um “quê” fetichista em seu traço (leiam ODY-C!), que fica evidente nas roupas, armadilhas e mordaças. Tempos Difíceis é um arco muito bom e empolgante, começando com o pé direito pra uma série solo de estréia, dando toda uma outra perspectiva em cima do Raio Negro. Porém senti alguns escorregões, como momentos que parecem caminhar pra lugar nenhum, mas o que mais me pegou foi “facilitarem” muito a ideia desse arco. Um Raio Negro que pode falar e que acorda numa prisão onde nada do passado importa acaba perdendo um pouco do impacto por virar lugar comum.

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