[Especial] Shade, a Garota Mutável Vol. 1 – A Terráquea Facilitou!

Shade, a Garota Mutável Vol. 1 - A Terráquea Que Facilitou Destaque 1

Arcos Principais: A Garota Terráquea Facilitou (Earth Girl Made Easy).
Publicação Original/ Brasil: Shade, The Changing Girl #1-6 (DC, 2016)/ Inédito.
Roteiro/ Arte: Cecil Castellucci / Marley Zarcone.

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Shade, a Garota Mutável é uma das séries do novo selo da DC Comics, o Young Animal, que surgiu em 2016 com a ideia de retomar alguns personagens da editora em histórias mais experimentais e pra um público mais adulto. O selo também tem o dedo de Gerard Way, o vocalista da banda My Chemical Romance e autor de séries como The Umbrella Academy. Por outro lado, o Shade, o Homem Mutável original foi criado em 1977 e nunca vingou até ganhar uma reformulação totalmente psicodélica em 1990 pelo Peter Milligan, sendo um dos embriões do selo Vertigo (ao lado de Sandman e cia.) e com um primeiro arco que é, no mínimo, genial: O Grito Americano. Shade é um poeta do planeta Meta, que utiliza seu Traje L (Traje Loucura) e possui o corpo de alguém na Terra, para impedir que a Loucura transborde. De 1990 pra cá o Traje L passou na mão de vários corpos, entrou pro Universo DC com os Novos 52, mas nunca se tornou mainstream. E agora é a vez da Garota Mutável, uma fã do Shade poeta: uma HQ que promete bastante, com um visual arrojado e moderno, pegando carona nas séries mais independentes e uma história de fundo bem diferente (e ousada) do que estamos acostumados a ler. Mas será que chega ao nível do Milligan? Review especial sem spoilers do seu primeiro arco!

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A GAROTA TERRÁQUEA FACILITOU

Loma é uma habitante do planeta Meta, uma alien que parece uma ave. E Lepuck é seu namorado, que parece um panda. Tudo começa com eles transando dentro de um museu da cidade, que vem expondo coisas sobre a Terra. Loma é fanática pelo poeta Rac Shade, citando seus versos sempre que pode, e ela sonha em poder ir pra Terra como ele fez, insistindo para que Lepuck abra o vidro onde o Traje L está exposto e a deixe experimentar. Assim que usa ele, sua jornada tem início: ela entra no corpo com dano cerebral da adolescente Megan, saindo do coma e voltando pra sua casa. Loma precisa se adaptar à nova realidade, aos costumes terrestres e também à vida que sua hospedeira levava, enquanto a “alma” da própria Megan passa a vagar pelo além-mundo. É um início bastante impactante, com uma primeira edição excelente, lembrando esses thrillers de colegiais. No passado, Megan sofreu um acidente num lago, enquanto fazia uma festinha. Suas amigas não gostam dela e tentam esconder que viram o que aconteceu. Parece que ninguém gosta da menina, já que ela é uma “Gossip Girl“, espalhando fofocas e nudes de todo mundo. Até mesmo seus pais não eram chegados nela, estranhando seu “novo comportamento”.

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Loma, no corpo de Megan, começa a frequentar a escola e faz dois novos amigos: River, um nerd recém chegado, e a Teacup, uma menina que era infernizada pela “antiga Megan”. Loma não tem as lembranças de sua hospedeira, só alguns flashs, então tudo é novidade. Mas sua vinda à Terra não passou despercebida: ela não consegue controlar a loucura, que passa a transbordar e atrapalhar a realidade; em Meta, detetives começam a procurar pelo Traje (enquanto o corpo original de Loma está preso numa caixa); e a própria Megan (ou sua alma) está convencida a voltar pro seu corpo. Todo o primeiro arco trata e tenta desenrolar esses três pontos. Porém o tom de colegial vai se perdendo aos poucos e a série fica num meio termo bastante estranho, entre a narrativa tradicional que estamos acostumados (aquele velho embate de mocinho vs vilão de HQs de heróis) e a pegada mais alternativa sobre o cotidiano a lá Daniel Clowes (Mundo Fantasma). Fica bem evidente que a autora Cecil Castellucci vai caminhar por uma estrada diferente da do Peter Milligan. Enquanto em O Grito Americano a loucura transbordou e coisas estranhas começaram a surgir e interagir com a realidade (como a incrível cabeça-esfinge do JFK), aqui ela aparece nas cenas (coisas flutuando, bichinhos de pelúcia virando de verdade etc), mas com algumas exceções, não fica muito claro se as outras pessoas estão vendo isso ou não. Acaba sendo mais discreto e não tão psicodélico quanto eu esperava, particularmente.

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Os desenhos são de Marley Zarcone, com as cores de Kelly Fitzpatrick, numa arte mais clean, mas com bastante detalhes, seguindo a onda de cores primárias e muito rosa que acho super bonito, sem contar nos painéis mais criativos, páginas duplas e coisas que se transformam de um quadro pra outro. As personagens acabam sendo cativantes, com expressões engraçadas, que ajudam a manter o lado “colegial”: o grupo de meninas populares, o nerd, a excluída, os pais bocós… só trocaram as líderes de torcida por nadadoras. O planeta Meta também é carismático, com seres dos mais diversos. Num determinado momento pensei que estava lendo algo do Mike Allred (X-Táticos, Madman), pelo tom nonsense. Algumas sequências são muito boas e inspiradas, como quando Loma visita um zoológico e começa a pensar em como seria tratada na Terra se usasse seu corpo original, criando paralelos entre os animais presos e os habitantes de Meta. Um outro ponto interessante é que em Meta eles são viciados na série americana Life With Honey (ao estilo I Love Lucy de ser), que sempre passa por lá e Loma tem alguns delírios com a protagonista, que parece ter saído do jogo Fallout Shelter. Como fã do Shade, gostando de tudo que ele tinha visto, ela é viciada em tecnologia antiga, preferindo televisão de tubo, rádios e afins. São detalhes que fazem a diferença e cria esse link entre as personagens. Mas por ser uma série voltada ao público adulto, acho que poderia dar um passo além, como foi no começo. Não que seja necessário mostrar mais aliens transando (que não deixa de ser legal), mas que tivesse um tom mais maduro e menos “Amigas e Rivais”, abordando melhor temas como bullying e pais omissos.

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Ainda assim é um primeiro arco divertido, bonito e colorido, com personagens cativantes e um pouco de nonsense e bizarrices, com várias coisas interessantes que espero ver mais pra frente. Mostrar a adaptação de Loma em seu novo corpo foi uma faca de dois gumes, pois ao mesmo tempo em que humaniza a alien e torna a história mais palpável, ela empaca em muitos momentos. Loma como Shade é bem diferente do Shade dos anos 1990, mais “tranquila”, digamos, e como fã dele, senti falta dessa coisa mais absurda e extremamente surreal que o Peter Milligan fez, o que com certeza interferiu no meu olhar com a HQ, infelizmente.

As capas são maravilhosas e cada edição traz uma história curta ao final, mostrando algo que pode ou não estar relacionado a série principal. Numa delas temos um episódio do programa Life With Honey e em outra a Garota Elemental, que é sensacional.

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