Arcos Principais: Guerra das Antiguidades (Antiquities War).
Publicação Original/ Brasil: Antiquities War on the World of Magic: the Gathering #1-4 (Armada, 1995)/ Inédito.
Roteiro/ Arte: Jerry Prosser/ Phil Hester.
Magic: The Gathering foi o grande pioneiro dos TCGs, o primeiro do gênero, lançado em 1993 e permanecendo como o maior de todos até hoje, com centenas de cartas criadas/relançadas anualmente. Quase todas elas possuem pequenos textos que contam sua história, narrando os feitos do personagem ou situação em questão, criando o que chamamos de Multiverso: o universo onde ocorre tudo isso. Apesar dessas passagens servirem de curiosidade para o jogador comum, a Wizards sabia do potencial e já iniciava em 1994 uma série de romances que durou até pouco tempo atrás, cada um explorando e expandindo esse universo. Mas o que poucos sabem é que também foram lançadas HQs! Em 1995 a editora Armada começou a publicar diversas minisséries do Multiverso, sendo uma das primeiras A Guerra das Antiguidades (Antiquities War), narrando a guerra entre os irmãos Urza e Mishra, que era a história da expansão vigente na época (Antiquities), que também foi a primeira a implantar uma mitologia própria ao jogo. Ou seja, essa guerra é a grande gênese de Magic! Review especial sem spoilers dessa mini em 4 edições.
A GUERRA DAS ANTIGUIDADES
Urza e Mishra são dois irmãos órfãos que encontram um lar na escola de Tocasia, onde pesquisam sobre estranhas máquinas. Durante uma expedição, os três encontram um Cristal Thran numa caverna e os irmãos, sugados pela pedra, acabam retornando cada um com a metade de uma Gema do Poder, que representa as 5 manas (verde, azul, branca, preta e vermelha). Logo os dois descobrem que essas gemas conseguem “ligar” as máquinas e se tornam grandes artífices na cidade, criando novas estruturas. Mas com o passar do tempo eles vão se distanciado, tendo ideias diferentes e acabam por se separarem de vez, cada um seguindo seu rumo. Enquanto Urza é mais intelectual, vivendo no reino de Kroog, controlando máquinas aéreas, o Mishra é mais casca grossa e passou a viver em meio às tribos Fallaji, controlando as máquinas e tesouros do deserto, que antes eram roubados pelo povo de Kroog. Com a economia em cheque, uma guerra entre as nações passa a ficar cada vez mais eminente.
O roteiro é de Jerry Prosser (Aliens: Hive), narrando nas 4 edições o que seria uma parte de toda a Guerra dos Irmãos, como se fosse um capítulo comentado de um livro, com direito a comentários sobre a veracidade das situações (“segundo fulano, ocorreu assim…”) e notas de tradução do idioma próprio dessas terras, um formato muito interessante de desenvolver a história e que merece destaque. O clima é totalmente de fábula, com os conflitos típicos entre irmãos e reis que não ouvem conselhos. Apesar do ambiente “Terra Média“, as máquinas dão um ar mais “punk” à história, lembrando clássicos como Mad Max. O leitor vai ter que se esforçar um pouco pra tentar entrar na magia, principalmente o que não conhece Magic, já que há muitas entrelinhas que só quem conhece vai pegar e gostar da referência, pelo contrário irá achar algo bem bizarro. As cores das manas, por exemplo, é algo que aparece em dois momentos e dá um tchan, a gente fica pensando “é agora, é agora…“. Mas o leitor que não conhece vai achar banal, já que não há nenhuma explicação sobre o que ela é. Só perto do final que fica mais evidente a questão do Multiverso e de como as gemas de poder manipulam a mana e as criaturas. Mas aí acaba.
Então conhecer os mecanismos do jogo será um diferencial. Antiquities foi a primeira expansão a focar em Artefatos, que geralmente são cartas incolores (ativada por qualquer mana) e conhecidas por suas criaturas artificiais. No quadrinho elas são representadas por todas as máquinas que Urza e Mishra criam e/ ou controlam. Os desenhos da primeira edição são de Paul Smith (Kitty Pryde: Fogo e Sombras), enquanto Phil Hester (The Darkness) assina as demais. A arte no geral é boa, com destaque para as cores de Mike Tuccinard (que não fez muitas HQs), deixando as cenas mais vívidas e lembram, pelo clima deserto/ animais mecânicos, algumas das histórias do Moebius. A cena de abertura, por exemplo, é super bonita. Mas não há grandes pretensões artísticas: com exceção de uma ou outra cena, não há páginas duplas ou diagramações diferentes, tudo é bem tradicional.
A Guerra das Antiguidades é uma mini indicada aos jogadores do TCG, que vão conseguir desfrutar melhor e pegar as referências das personagens que aparecem, monstros e máquinas. O formato de conto narrado ficou realmente muito bom, mas não vai muito além. Mesmo os fãs não vão encontrar aquela coisa mística de Magic, já que é uma história bem pé no chão. Ao leitor comum, será como entrar de cabeça num universo cheio de nomes difíceis e sem muitas explicações. Essa mini, assim como quase todas as outras, foi jogada no limbo e aparentemente nunca ganhou um encadernado. O que chega a ser engraçado, já que a editora Armada publicou cerca de 30 edições do Multiverso entre 1995-1996 (cobrindo expansões como Era Glacial, Terras Natais e Arabian Nights), todas com capas bonitas e pintadas (as dessa mini são do George Pratt, o mesmo de Wolverine: Netsuke) e todas foram solenemente esquecidas. A Wizards, como parte de seu evento Espiral Temporal, chegou a relançar digitalmente em 2006, mas não passou disso. Como curiosidade, a Armada pertencia à antiga Acclaim (que faliu em 2004), que também editava a Valiant na época e lançava vários jogos inspirados em seu universo (como Turok e Shadowman, que joguei quando criança e nem fazia ideia). Magic: The Gathering ainda ganhou outras minis pela Dark Horse e IDW, nenhuma com chances de sair no Brasil. Felizmente, essa e algumas outras foram traduzidas por fãs.
Sempre quis ler esse material e vou seguir com as resenhas. Conheci o jogo em 2003, quando comprei meu primeiro Deck de Elfos na expansão Legiões e, apesar de não acompanhar mais, ainda jogo e melhoro meus decks quando tenho a chance. Uma das cartas daquele primeiro deck, a linda A Indiferente (Heedless One) se tornou minha preferida e a inspiração para a Criadora da Central dos Sonhos. Em 2015 eu também cheguei a fazer essa fanart para a carta Crescimento Desenfreado (Giant Growth):
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.