[Review] Surfista Prateado: Parábola!

Surfista Prateado - Parábola

Nome Original: Silver Surfer: Parable #1 e #2
Editora/Ano: Panini, 2014 (Marvel, 1988)
Preço/ Páginas: R$21,90/ 92 páginas
Gênero: Alternativo/ Super-Herói
Roteiro: Stan Lee
Arte: Moebius
Sinopse: Galactus converteu a humanidade em seus seguidores e a está conduzindo para a destruição! E o único oponente do Devorador de Mundos é o herói que ele mesmo aprisionou na Terra: o Surfista Prateado. Galactus jurou não consumir o planeta, mas e se, em vez disso, ele transformar a civilização lá existente em seus adoradores? Aos terráqueos o semideus promete um futuro melhor, mas nenhuma outra pessoa conhece tão bem os verdadeiros propósitos dele do que o Surfista Prateado, seu antigo arauto. Aos possíveis discípulos do Devorador, resta tão somente assistir ao colossal confronto das duas divindades intergalácticas!

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Stan Lee e Moebius são duas lendas dos Quadrinhos. O primeiro criou praticamente todo o Universo Marvel, enquanto o segundo é um dos nomes mais importantes das HQs europeias, sendo o criador de títulos como Arzach e Garagem Hermética. Ambos se conheceram numa feira de quadrinhos e, depois de uma boa conversa, decidem criar um álbum juntos: Surfista Prateado: Parábola, lançado em 1988 e protagonizando um dos personagens preferidos do desenhista e com roteiros de seu próprio criador, Lee.

Surfista Prateado - Parábola página 1

Quando juntam duas lendas em qualquer area criativa, sempre esperamos por coisa boa. E aqui, por mais que não seja o melhor trabalho de nenhum deles, é uma excelente leitura que levanta questionamentos filosóficos, além de seguir um rumo diferente do usual nos comics de heróis.

A trama ocorre num futuro paralelo e não muito distante, com o Surfista Prateado vivendo como mendigo pelas ruas por ainda acreditar na Terra, depois de fazer um acordo com Galactus: o gigante nunca atacaria o planeta. Mas as coisas dão errado quando, de repente, uma nave gigante pousa sobre a cidade e debaixo dela se materializa o poderoso Galactus, que nada faz, apenas diz ser um deus que livrará a humanidade do mal. As pessoas entram em polvorosa, questionando sua própria fé, até que um Pastor charlatão e famoso se apresenta diante da TV dizendo que Galactus é um enviado dos céus e ele, seu profeta.

Surfista Prateado - Parábola página 2

As consequências são desastrosas, as pessoas passam a cometer crimes (já que o Gigante libertou todos da Lei), além de bater ou até matar àqueles que se opuserem ao novo Deus. Uma história bastante interessante e que, mesmo passados mais de 25 anos, ainda é bem contemporânea. Leva a refletir sobre a necessidade humana de crer em algo, de não poder “andar” com as próprias pernas, dos falsos profetas, religiosidade e por aí vai.

Há seus pontos baixos, claro. O final não é nada além de “funcional”, com um desfecho até bobo. Felizmente não há outros heróis, como os Vingadores ou o Quarteto, dando maior credibilidade à história e a deixando bastante real. Pra mim o mais interessante de “Parábola” é o próprio Galactus e sua dualidade. Ele não é necessariamente um vilão, ele sequer expressa sentimentos. Cumpre sua promessa: não ataca a Terra, deixando que a própria se destrua por si só. É uma criatura movida pela eterna fome de energia e que nem guarda ressentimentos pelo Surfista, antes seu Arauto, ter se rebelado. Ele protagoniza ótimos momentos.

Surfista Prateado - Parábola página 3

Mas o grande destaque do álbum está em seu acabamento (capa dura, formato maior) e, principalmente, em seus extras. Já começa com uma introdução do Stan Lee contando como conheceu Moebius. Ao término da história há diversos textos do desenhista comentando seus esboços, o processo de criação (como se adaptou ao “Marvel Way” de roteiro, onde ele possui maior liberdade na construção de páginas), desenhos que descartou, como coloriu, letrou e muitas considerações bastante pessoais. A cereja do bolo, pra mim. Você passa a enxergar a história com outros olhos depois de ler esses extras.

A arte de Moebius, característica por seus cenários retrô-futurísticas e cenas simples, porém detalhadas está bastante interessante aqui, não tão refinada quanto de costume, mas ainda é “Moebius”. Ele retrata Galactus como uma entidade, acima de tudo. Inclusive sua chegada é épica, como se fosse energia se materializando. No decorrer da história o vilão ainda ganha diversos tamanhos. E o interessante é como ele vê a produção artística numa HQ, considerando de extrema importância que o desenhista também faça a colorização e as letras, deixando com sua “cara” de verdade, ao contrário do que ocorre com a maior parte dos quadrinhos americanos, onde há o desenhista, o arte-finalista, o colorista e o letrista! Polêmico ou não, um ponto interessante comparar a arte dos dois continentes.

Surfista Prateado - Parábola página 4

Outro fator que gostei é o de que ele parece possuir um mínimo de entendimento do Universo Marvel e realmente interesse nele, ao contrário de quando Chris Claremont (maior roteirista dos X-Men) se juntou ao Milo Manara (outro grande artista europeu) e criou X-Men – Garotas em Fuga, onde o próprio Manara parece detestar o gênero herói. Aqui a colaboração pareceu muito mais divertida.

Completa o álbum uma matéria publicada originalmente na época do lançamento, comentando sobre as estreias do Surfista, as capas originais e uma galeria de posters com heróis Marvel desenhados por Moebius, que ganham outro ar em seu traço, entre eles Wolverine, Homem-Aranha, Justiceiro e Homem de Ferro. “Surfista Prateado: Parábola” é uma boa história de supers e que merece grande destaque devido à seus inúmeros extras e acabamento de luxo à um preço baixo.

nota 9,0 u

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