Direção/ Ano: Dick Rickard, 1938
Ferdinando, o Touro ou A História de Ferdinando é um dos contos infantis mais conhecidos dos EUA, originalmente publicado na forma de conto ilustrado em 1936 pelo autor Munro Leaf e com os desenhos de Robert Lawson. Ferdinando é um touro que prefere o campo ao estádio de batalha, cheirar flores à perseguir toureiros, indo contra tudo aquilo que seus amigos e família esperam de um touro. Além da fama e reconhecimento literário, a história gerou algumas polêmicas, principalmente por ter sido lançada no mesmo ano em que ocorreu a Guerra Civil Espanhola, cujo governo o considerou uma ofensa ao seus sistemas. Com esses envolvimentos políticos, Ferdinando, o Touro passou a ter fama de obra de fundo idealista, pacifista.
Em 1938 o livro é adaptado para o cinema pela Walt Disney num curta de bastante sucesso. Venceu o Oscar no ano seguinte e, ao contrário do vencedor anterior (O Velho Moinho), Ferdinando não utiliza de efeitos complexos e aposta no carisma do personagem para prender o espectador. Em questões de animação, mantêm a qualidade que o estúdio costuma ter, fluída e “clean” e a boa trilha-sonora.
O tema abordado em Ferdinando, o Touro é instrutivo e funciona muito bem no trabalho com crianças, por explorar a diferença, costumes e atitudes. Entretanto, o uso da tourada é algo que pode gerar controvérsias, podendo agradar ou não a geração atual. Desde pequenos os touros treinam e sonham em participar de uma tourada, o auge na carreira de qualquer um deles. Isso vai contra os movimentos em defesa aos animais, pois nenhum animal gostaria de ser torturado à exaustão, como ocorre nesses eventos, o que causa desconforto ao assistir a animação. Porém, tendo em vista a época de lançamento, pode funcionar como um confronto às ideias que tinham de tourada. É um bom curta que traz a qualidade técnica da Disney e à firma como uma das melhores produtoras no período, mas que, particularmente, não me agradou.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.
Esse personagem é adorável! O Touro Ferdinando se encerra com um saldo positivo e vai divertir adultos e crianças. É uma história bonita e necessária quanto a aceitar as diferenças dos outros, já que, às vezes, só queremos ser autênticos como o protagonista: ficar na sombra do carvalho, quietinhos e cheirando as flores. Honestamente, é um dos melhores filmes de animação (A propósito, compartilho uma recomendação: https://br.hbomax.tv/movie/TTL608757/Emoji–O-Filme eu acho que o Emoji é um filme muito bom) que vi no ano passado. Com uma mensagem importante de respeito a si próprio, de consciência de que existe um mundo muito maior do que aquela bolha onde a gente vive (e que as regras nem sempre são justas), de que um ato de bondade pode mudar a vida de outras pessoas, O Touro Ferdinandome surpreendeu. Eu esperava ver uma animação bem feita e uma estória até triste e melancólica, mas do início ao fim o tom é positivo.