Nome Original: Borgia, Tome 3: Les Flammes bu Bûcher
Editora/Ano:Conrad, 2010 (Albin Michel, 2008)
Preço/ Páginas: R$43,00/ 56 páginas
Gênero:Erótico
Roteiro: Alejandro Jodorowsky
Arte: Milo Manara
Sinopse:A terceira parte desta renomada graphic novel conta com uma saga repleta de violência, luxúria, manipulação e conspiração no Vaticano e na família Bórgia, que ficou famosa no século XV por dar ao mundo dois papas de reputação duvidosa. Entre outros crimes, eles foram acusados de envenenamento, fratricídio e incesto. E se tornaram símbolo de decadência da Igreja no fim da Idade Média.
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Jodorowsky e Manara levam toda a heresia dos dois volumes anteriores a um novo patamar nesse penúltimo capítulo da saga Bórgia! A começar pela primeira página: em comemoração à Páscoa, o então papa Alexandre VI programa um baile de máscaras onde é obrigatório todos tomarem do ponche afrodisíaco e é proibido tirarem a fantasia ou falarem. A única linguagem permitida é a das carícias. Ou seja… 🙂
A seguir o escritor e desenhista nos trás o que há de mais característico na série, escancarando toda a devassidão da família Bórgia. Para quem não conhece, leia o review do primeiro volume (Sangue Para o Papa) e do segundo (O Poder e o Incesto). Dando continuidade aos eventos anteriores, Rodrigo Bórgia tenta fazer de tudo para manter sua família no poder absoluto da Itália, utilizando da Igreja como pano de fundo. Jodorowsky se superou e criou uma trama direta ao ponto, sem enrolação, mas cheia de detalhes históricos. Temos a briga entre o Papa e o rei da França, e até mesmo a aparição surpresa de Botticelli. O pintor renascentista está queimando um de seus quadros, a pedido de Savonarola, numa famosa fogueira das vaidades, para dissipar seus pecados.
A pedido de Lucrecia Bórgia, seu pai viaja até o convento (do primeiro volume) buscar por Júlia, a antiga amante da filha, que se torna sua própria amante. É uma das melhores (e mais fortes) cenas do álbum, com as freiras apanhando e estátuas sendo profanadas. Não há pudor algum no vocabulário das personagens e, apesar de não ser extremamente obsceno, como de costume nas obras de Manara, ainda está aqui toda sua sensualidade.
Há várias passagens de destaque, como o “exercito de putas” e a sequencia de abertura, mas que perderiam a graça se contasse. Aos puritanos, é melhor passar longe de As Chamas da Fogueira, pois temas polêmicos e fortes são utilizados a torto e a direito para representar uma das famílias mais “ousadas” que a Igreja já teve: incesto, estupro, nudez e sexo explícito, heresias e profanações com o nome de Deus e da Igreja são apenas aperitivos perto do que os Bórgia fizeram. Mesmo assim, a série é uma leitura quase que obrigatória para os fans de HQs e, principalmente, para os fans de Manara.
O desenhista, mesmo sem utilizar de suas belas ilustrações cheias de closes, faz um excelente trabalho, principalmente nas expressões faciais, na construção do corpo, cenários e cores. É aquela arte em que você olha todos os detalhes, para não perder nada de cada quadro, algo raro de se ver em HQs.
A edição da Conrad está excelente, podendo encontrar em capa cartonada ou em capa dura, com papel de qualidade. Infelizmente, não há extras, mas nada que estrague a leitura. A capa não é a original, porém ficou muito melhor com o fundo preto (ao invés do azulado). Interessante notar o intervalo de tempo entre um volume e outro, deixando claro o cuidadoso trabalho dos autores na obra.
Alejandro Jodorowsky é um múltiplo artista, sendo escritor, dramaturgo, cineasta e quadrinista. Dentre seus trabalhos estão A Casta dos Metabarões e Incal, além de produções para filmes como O Quinto Elemento. Já Milo Manara é um dos mais famosos desenhistas da Europa, reconhecido pelo seu traço sensual e suas histórias eróticas. Dentre suas obras estão Clic e O Perfume do Invisível.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.