Nome Original: Borgia, Tome 1: Du Sang Pour Le Pape
Editora/Ano: Conrad, 2005 (Albin Michel, 2004)
Preço/ Páginas: R$39,00 (R$12,90 Ed. Especial)/ 58 páginas
Gênero: Erótico
Roteiro: Alejandro Jodorowsky
Arte: Milo Manara
Sinopse: Poder, conspiração, política, luxúria, messianismo. Esses são alguns dos ingredientes da série de quadrinhos Bórgia: uma espécie de biografia não autorizada da família que é tida como precursora dos Corleone e que expõs os “pecados” da igreja católica do final século XV. Uma época que o Vaticano certamente gostaria de apagar dos livros de história.
Milo Manara é um dos desenhistas mais conhecidos no meio quadrinhístico, principalmente por seu estilo erótico, que já fez a cabeça de muita gente. Mesmo o conhecendo por nome e já ter uma ideia de suas mulheres sensuais, nunca tinha lido alguma obra dele. A chance veio com a série Bórgia, desenhada por Manara e escrita pelo multimídia Alejandro Jodorowsky, que além de escrever para HQs também trabalha com cinema e teatro. O album mostra um período da renascença dominada pela família Bórgia, que não poupava esforços para alcançar o poder absoluto dentro da Igreja. Mesmo com uma arte incrível, a HQ não é recomendável para todos, pois além de mostrar cenas “eróticas” explícitas, possui muito palavrão e “heresias” com o nome de Deus; os mais religiosos poderão não gostar. Agora se você não liga pra essa bobagem de religião e acredita que a Igreja Católica já fez muita cagada, principalmente naquela época, irá adorar.
Bórgia – Sangue Para o Papa é a primeira edição (ou Tomo) de uma série em 4 partes que conta a história de uma das famílias mais polêmicas e corruptas da história do Papado. Rodrigo Bórgia era um cardeal do, até então, Papa Inocêncio VIII e desde esse período já era conhecido por sua luxúria, tendo 4 filhos com Vanozza, sua amante. Entre seus filhos temos Lucrécia Bórgia, que mais tarde seria uma das figuras mais cruéis e devassas da história. Com a morte do Papa Inocêncio VIII, Rodrigo fez de tudo para alcançar os votos dos outros cardeais e ser eleito Papa. Então, com muita corrupção, compra de votos e homicídios, Rodrigo é eleito o Papa Alexandre VI, alcançando o poder absoluto em Roma.
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Essa história já inspirou muitos filmes, jogos, óperas, livros etc. Os mais recentes são a mini série de TV The Bórgias, da BBC; e a série em HQ Bórgia. Este primeiro tomo nos apresenta os personagens principais e toda a ganância da época, culminando na eleição de Rodrigo Bórgia ao papado.
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Por se tratar de uma espécie de “introdução” à série, essa primeira edição é quase excelente. Os desenhos de Milo Manara são incríveis, com cores vivas e super detalhados e é o “corpo” de toda a série. A “alma”, o roteiro de Jodorowsky, é simples e completo. Consegue nos mostrar muita devassidão da época e misturar à fatos reais, tornando uma espécie de “biografia livre” da família.
O ponto alto da HQ, e acredito que seja o que faz muita gente gostar, é a audácia de Jodorowsky em criticar explicitamente muita coisa da Igreja Católica e não ter medo de xingar tudo, até Deus. Para chegar ao papado, Rodrigo manda cortar o pênis de 150 frades, que seriam amantes de Júlio Rovere, também concorrente ao papado; assassinar o filho de outro concorrente, mandando lhe arrancar os olhos com uma colher; entregar sua própria amante à um velho, em troca de voto. Vanozza se “roçava” numa estátua de São Sebastião, no convento, pela qual se excitava, quando conheceu Rodrigo. Lucrécia e sua amiga, Júlia, xingavam as freiras do convento de tudo quanto é nome e, numa briga, acabam por se beijarem e se pegarem no meio do pátio, na frente das outras noviças, sendo castigadas mais tarde. E isso é só um pouco do que a família foi capaz de fazer, sendo mostrado na primeira edição. Há muito mais ainda, mas que perderia a graça se eu contasse.
A ambientação de uma Roma renascentista foi perfeitamente adaptada ao quadrinhos, como é possível constatar nas imagens. Desde os detalhes das construções às pessoas caminhando nas ruas, tudo feito em cores vivas. A parte “estética” da série foi muito bem planejada, sendo um dos motivos pelo qual demorou tanto o lançamento dos volumes seguintes. O quarto e último, Tudo é Vaidade, foi lançado em 2011.
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E tudo isso é só o começo, as próximas edições prometem muito ! Se como cardeal, Rodrigo e sua família já era capaz de tanta “modernidade”, imagina o que não faria como Papa ?
A edição nacional é excelente, em capa dura e papel couché. O preço é um pouco salgado, na faixa dos R$40,00 cada edição. Porém, a Conrad lançou uma versão “especial” da série, que substitui a capa dura por uma cartonada, custando R$12,90 cada. Essa é a versão que vende no Submarino e a qual eu tenho. Minha intenção era comprar a primeira edição, de capa dura, pois o Submarino não descreve o produto direito, mas acabei recebendo a edição especial. Por conta disso, não posso dizer se a edição em capa dura possui extras ou não que essa edição especial não tem. Apesar da diferença, a princípio das capas, a versão “econômica” é super recomendada, principalmente por ser barata e trazer a mesma história num papel de qualidade além de uma excelente oportunidade de conhecer o trabalho de Manara.
* Como disse, a versão vendida no Submarino é a simples, com capa cartonada. A edição em capa dura é possível encontrar nas lojas especializadas e em grandes livrarias.
Até !
Até !
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.