Arcos Principais: 4 histórias curtas.
Publicação Original/ Brasil: Ducktales #0-1 (IDW, 2017)/ Ducktales, Os Caçadores de Aventura #1 (Abril, 2018).
Roteiro/ Arte: Joe Caramagna/ Luca Usai, Gianfranco Florio, Paolo Campinoti, Andrea Greppi.
DuckTales foi uma das maiores animações da Disney, sendo transmitida originalmente entre 1987 e 1990, com 100 episódios distribuídos em 4 temporadas e um longa animado (disponível na Netflix!), narrando as aventuras do Tio Patinhas e seus sobrinhos-neto Huguinho, Zezinho e Luizinho ao redor do mundo, num clima Indiana Jones. Em 2015 a Disney começou a produzir um reboot da série, que estreou em 2017 nos EUA, trazendo toda a trupe da primeira versão e agora, também, com o Pato Donald. Acompanhando a nova série, também foi lançada uma nova revista em quadrinhos mensal pela IDW. Interessante que tanto o desenho quanto o gibi estrearam no Brasil agora em fevereiro, com a animação passando tanto na TV a cabo quanto no SBT, e a nova HQ sendo distribuída pela Editora Abril, em substituição à mensal da Minnie. Review especial sem spoilers dessa edição #1!
O REFRESCANTE SEGREDO DO FAROL
Importante comentar que DuckTales é um clássico que está na memória de muita gente, então foi uma jogada arriscada da Disney em recriar a história e, principalmente, numa estética totalmente nova. Uma parcela dos fãs antigos não gostaram desse visual, porém é bom lembrarmos que se trata de uma produção para a nova geração. Eu, particularmente, achei tudo muito bonito. Tanto os ambientes quanto as personagens estão bem arrojados, trazendo um ar de coisa nova, mas ainda mantendo aquela áurea de desenho antigo. Hoje em dia boa parte das animações infantis são em 3D e, muitas das que são mais tradicionais, seguem um estilo psicodélico (Gumball, Hora de Aventura, Steven Universo), então DuckTales surge como uma alternativa interessante.
Mas falemos da primeira edição da HQ! DuckTales #1 é escrita por Joe Caramagna (autor e letrista da Marvel) e publicada pela IDW, isso já deixa bem claro que a série tomará um rumo diferente das outras mensais Disney (cuja maior parte do material é europeu). Em contra-partida, os desenhistas são italianos, emulando o estilo da animação. Essa primeira edição ocorre antes do primeiro episódio, mostrando a rotina de Donald em vários empregos e sua relação com os sobrinhos. A primeira das 4 histórias curtas é O Refrescante Segredo do Farol, com desenhos de Luca Usai, com Donald lidando com um farol numa cidade onde há um grave problema de falta de água. Ela é interessante por ser o primeiro contato, já com uma arte bastante detalhada, bonita e, o que mais gostei nessa edição, dando pistas das personalidades dos sobrinhos.
MAIS UMA VINGANÇA DO PATO QUE GRITAVA DEMAIS
A segunda história se passa num hotel e traz toda aquela ambientação clássica de filmes e livros, com quartos misteriosos. Os sobrinhos, passeando pelos corredores, se deparam com um diretor de cinema: Alfredo Hitchpato! Não traz algo surpreendente, porém reforça as diferenças entre os meninos. E isso é muito importante. Não é raro nos depararmos com personagens gêmeos ou trigêmeos que, mesmo possuindo personalidades diferentes, são difíceis de saber quem é quem (tirando a cor). Sinto isso com os sobrinhos do Mickey (Chiquinho e Francisquinho), que são praticamente iguais. Por serem os protagonistas, isso não poderia acontecer aqui. E, felizmente, os três ganharam roupagens bem distintas. Os desenhos ficaram por conta de Gianfranco Florio, com destaque para o design do Hotel.
GRANDES CONFUSÕES NO LAGO PEQUENO
Essa foi a minha preferida das quatro, com desenhos de Andrea Greppi e Paolo Campinoti (o mesmo de O Mistério dos Albatrozes) porque, como comentei, a personalidade dos sobrinhos fica bastante evidente. Donald é o guia turístico do Lago Pequeno (que é enorme, porém raso demais). A ideia por si só já é engraçada, com as coisas complicando quando eles acabam ilhados, sem poder entrar na água por conta das esponjas elétricas. Apesar dos sobrinhos serem conhecidos como os “Escoteiros Mirins“, o Huguinho (vermelho) que pega o papel de melhor escoteiro, sendo o mais inventivo e sempre com o manual nas mãos. Já o Zezinho (azul) é o mais estabanado e sem medo do perigo. Luizinho (verde), foi o que mais gostei: é o capitalista dos irmãos; talvez o que mais tenha puxado o Tio Patinhas, protagonizando cenas hilárias. Mesmo quando Huguinho ajuda a construir um bote, por exemplo, o Luizinho logo implanta um sistema de tickets!
O GRANDE PROJETO DA MÁQUINA DE LAVAR
A última história, também com os desenhos de Gianfranco Florio, mostra os meninos visitando uma fábrica de invenções, ficando super entusiasmados e se passando por cientistas. O clima continua de desenho animado, com destaque por pegar um pouco da mitologia do Tio Patinhas, que trabalha com essa coisa das patentes. Por se passar antes do primeiro episódio, essa edição trabalha o contexto do Donald e seus sobrinhos, sem a presença do Tio Patinhas, Patrícia ou Capitão Bóing. Assim como também não traz aquele clima de Indiana Jones. Mas é só a primeira edição, vamos aguardar o desenrolar da revista, que promete histórias inéditas. A edição da Abril foi caprichada, com uma introdução apresentando o conceito de DuckTales e com uma página dupla no final, com o resumo dos principais personagens, além de trazer algumas capas internas. Uma boa editoração, algo que sinto falta e sempre comento nas outras mensais (a ausência de textos). Acabei por ter uma ótima primeira impressão, mesmo com o roteiro não trazendo nada de muito espetacular.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.