[Especial] Carnaval de Meus Demônios!

Carnaval de Meus Demônios Destaque

Arcos Principais: One-shot.
Publicação Original/ Brasil: Carnaval de Meus Demônios (Balão Editorial, 2015).
Roteiro/ Arte: Guilherme Petreca.

Carnaval de Meus Demônios 1

Hoje é terça de Carnaval, o último dia de feriadão prolongado antes da quarta de Cinzas. Também dei início hoje ao período gratuito da Social Comics, a “Netflix dos Quadrinhos”, vou experimentar o serviço e postar as resenhas aqui no site. E aproveitando o clima, minha primeira leitura foi “Carnaval de Meus Demônios“, uma HQ em formato diferenciado, preto e branca, sem diálogos, muito bonita e com ares de fábula, sobre infância e ingenuidade, escrita e desenhada por Guilherme Petreca. Review especial do título, sem spoilers!

Carnaval de Meus Demônios 5

Um garotinho com roupas bufantes carrega um balão em meio a um vazio branco, enquanto uma horda de demônios surge nas névoas, o perseguindo e engolindo. Esse é o início de Carnaval de Meus Demônios, uma história carregada de simbolismos e metáforas, que misturam culturas e tradições. O “Carnaval” é talvez a festa mais popular do Brasil, mas não é originária nossa e possui diversas outras versões pelo mundo, e é essa a ideia de Carnaval aqui. Mas o embate do garotinho com os monstros pode muito bem ser lido como uma metáfora de nosso Carnaval estendido, onde a alegria e felicidade dos 4 dias de festas acaba na melancólica quarta de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma.

Carnaval de Meus Demônios 3

São essas diferenças que surgem nas as páginas: a perda da inocência, a ingenuidade, o mundo adulto, os problemas do cotidiano, o mundo e a morte dos sonhos, o conflito entre o “eu” e o “outro”, o “nós” e o “mundo”. As roupas do garotinho lembram os Bobos da Corte, tipicamente europeus, enquanto as feras lembram os demônios japoneses, algo que me lembrou xxxHOLIC: no volume 6 (edições #11-12 nacionais), Watanuki e Doumeki participam de uma “procissão” de Youkais (espíritos). Visualmente são bem semelhantes. Mas diferente das meninas do CLAMP, Guilherme Petreca tem um traço mais cheio e extremamente detalhado. Cada um dos demônios possui uma fisionomia diferente e, se observado com atenção, cada cantinho das páginas mais lotadas há algo acontecendo. Essa “procissão” é uma lenda japonesa, a do “desfile noturno dos 100 demônios“, que pode ter inspirado a história.

Carnaval de Meus Demônios 4

Falando em arte, ela é um dos diferenciais do álbum. Em formato horizontal, ou “deitada”, quase todas as páginas são duplas, formando uma tira enorme. É um formato pouco comum, até pouco tempo atrás só tínhamos Os 300 de Esparta como grande exemplo, mas que vem ganhando força ultimamente, já com outras HQs alternativas assim, como Valente de Vitor Cafaggi. Isso ajuda a dar um tom de animação à história, principalmente pelo traço delicado de Petreca. Tudo é muito cativante e bonito, com preenchimentos mais “rústicos”, mas que acabam aumentando a delicadeza. Por não possui diálogos e recordatórios, sendo “muda”, o desenhista precisa redobrar os esforços para que o roteiro caminhe. E tudo funciona muito bem, resultando numa história bonita e aberta, com possibilidade de diversas leituras e em vários níveis. Seja pela simbologia, como a multidão de demônios soterrando o garotinho ou a do próprio balão, seja pela linda arte.

Carnaval de Meus Demônios 2

Carnaval de Meus Demônios possui 64 páginas e foi publicada pela Balão Editorial no final de 2015, sendo a primeira HQ de Petreca por uma editora, antes ele já havia lançado a curta Galho Seco de maneira independente em 2013. Recentemente, o autor publicou pela editora Veneta a HQ YE, em formato mais tradicional e maior. Meu contato, como falei lá em cima, foi com a versão digital da Social Comics. Um dos pontos positivos é a possibilidade de ampliar a arte e poder ver melhor cada detalhe, algo que as vezes se perde na versão impressa. O site (ou o autor) optou por unir as páginas duplas, pra ficar mais bonito esteticamente, pra não lermos “quebrado”. O que é ótimo, mas quem lê em computador pequeno ou tablet (meu caso), pode ter que ampliar alguns momentos, pois a tela é geralmente menor que a largura total da HQ. Tirando isso, essa primeira experiência com a Social Comics foi muito positiva. O site ainda precisa melhorar seu layout, mas a leitura está bastante otimizada, em alta resolução, com opções de ler online ou offline, favoritar e dar nota. E o que é melhor, com diversos títulos mais alternativos e independentes, dando espaço a novos autores.

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