Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.
[Review] Os 300 de Esparta !
Nome Original: 300
Editora/Ano:Devir, 2006(Dark Horse, 1999)
Preço/ Páginas: R$63,00/ 88 páginas
Gênero:Ação
Roteiro:Frank Miller
Arte: Frank Miller & Lynn Varley (Cores)
Sinopse: O exército da Pérsia, uma força tão ampla que estremece a terra com sua marcha, está pronto para esmagar a Grécia, uma ilha de razão e liberdade num mar de misticismo e tirania. Entre a Grécia e esta torrente de destruição existe um pequeno destacamento de apenas trezentos guerreiros. Mas estes guerreiros são mais do que homens… eles são ESPARTANOS.
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Os 300 de Esparta é uma adaptação feita pelo “polêmico” Frank Miller (Sin City, Ronin) do evento histórico ocorrido por volta de 480 a.C., onde 300 guerreiros de Esparta, liderados pelo Rei Leônidas, atacam e tentam impedir a enorme tropa persa, estes liderados pelo Rei-Deus Xerxes, de avançar e dominar o restante da Grécia. É uma HQ premiada, faturando o Eisner Awards e com uma adaptação para o cinema bem sucedia, trazendo no elenco Gerard Butler (O Fantasma da Ópera) como Leônidas e Rodrigo Santoro (Carandiru) como Xerxes.
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Frank Miller lançou 300 como mini-série em 1998, em 5 edições. A arte abusava de páginas duplas e cenas amplas, pois Miller (segundo a mídia) pretendia lança-lo num formato diferenciado, porém não foi possível e ele “adaptou” a arte para o formato americano. Esta primeira versão saiu por aqui pela editora Abril em 1999, também em 5 edições. Com o sucesso da mini-série, a Dark Horse compilou num único volume, em 1999, as 5 edições em formato “widescreen”, assim como era pra ter sido. Esta nova versão foi lançada pela Devir em 2007, em acabamento de luxo, e é a resenhada aqui. Obs: as imagens são da versão original, pois não encontrei da versão horizontal e, pelo tamanho, foi impossível escanear; mas são praticamente iguais, com cada página dupla numa só página horizontal.
Antes de comentar sobre o roteiro, é importante salientar que 300 é um espetáculo visual e seu grande mérito está, justamente, na arte. As cenas são cinematográficas, amplas, cheias de detalhes e com a pintura excelente de Lynn Varley. A história, apesar de bem construída, foi alvo de elogios e críticas. A mídia especializa a considerou uma boa aula de História, produto de bastante pesquisa por parte do autor, que adaptou com fidelidade a Batalha das Termópilas, apesar da violência característica. Já outros consideraram a história equivocada, exagerada e homofóbica. Alan Moore, o criador de Watchmen e V de Vingança, já chamou Frank Miller de preconceituoso e misógino.
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É possível entender os dois lados da moeda. No quesito histórico, o autor realizou uma adaptação consistente, retratando (de forma resumida, claro) os dias de batalha no desfiladeiro das Termópilas, citando pessoas, lugares e outros eventos históricos, enriquecendo o roteiro. Apesar da caracterização exagerada, boa parte dos personagens e acontecimentos são verídicos, como o traidor Efialtes, o exército de Imortais, a consulta à oráculos, as estratégias de Leônidas. Nesse sentido, não há o que reclamar de 300.
Os espartanos são retratados como “super soldados”, com uma cultura guerreira onde somente os mais fortes são dignos do rei, que jamais se rendem e satirizam as nações vizinhas, pela democracia e atitudes adotadas pelas mesmas. E é nessa parte que se encontra o “tendão de Aquiles” de Frank Miller. Leônidas, em varias frases, deixa claro sua opinião à respeito dos atenienses, os considerando efeminados, fracos e risórios. Essa declaração, entre outras, foi a grande responsável para que os críticos considerassem o trabalho de Miller homofóbico. Apesar de, mesmo criticando, Leônidas vê as qualidades dos atenienses em conseguir derrotar outras nações, mesmo sendo “desse jeito”.
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Polêmicas a parte, a narrativa de 300 é ótima. A história foi bem construída, apesar dos personagens serem pouco aprofundados, se concentrando na ação e espírito de luta dos espartanos. O machismo de Leônidas e sua trupe é um detalhe à frente da história e, talvez, possa até ser um aspecto mal compreendido da mesma.
Na parte artística, 300 é excepcional. Todas as cenas são estilizadas e impactantes. Os desenhos são do próprio Miller e as cores são de sua ex-esposa Lynn Varley. Os dois já trabalharam juntos em outros títulos, como Ronin, Sin City e Elektra Vive. Nas cenas amplas, onde há vários personagens, o traço lembra Milo Manara, em suas famosas cenas, retratando várias pessoas em pátios e ruas, vistas à distância. Mas a arte não seria a mesma sem a pintura de Varley, que é o grande destaque na arte do álbum, até porque os desenhos de Miller são inconsistentes em certos momentos.
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A colorista utiliza de tons fortes e precisos, com jogadas de tintas e títulos que passam a sensação de animação, no melhor estilo Tarantino de ser. O destaque fica na jogada de luz e sombras, muito bem utilizada, e na retratação de Xerxes, em seu esplendoroso trono carregado por diversos homens. O vilão é repleto de brincos e piercings, com uma vestimenta cheia de detalhes em ouro. Miller acertou em cheio nos detalhes e a pintura de Varley só realçou as qualidades. O formato horizontal é um dos grandes responsáveis, também, por deixar a arte mais fluída.
Para consolidar, ainda mais, que Os 300 de Esparta é puro visual (sem desmerecer o roteiro), o acabamento da Devir é excelente: capa dura, miolo couché de alta gramatura, título com reserva em verniz e formato gigante (33 cm x 24 cm). É um álbum de encher os olhos, sem dúvidas.
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Porém há um preço a ser pago por tanto luxo, e o mesmo não é barato! A edição custa mais de R$60,00 reais, variando de loja pra loja, podendo ser encontrado até por mais. A editora só falhou em não acrescentar extras, como biografia dos autores, e em colocar um glossário ao final, explicando alguns detalhes, porém não há asteriscos durante o texto e nem as páginas são numeradas, para deixar estes “verbetes” mais relevantes. Apesar de detalhes, poderiam ser revisados com maior cuidado, principalmente se levarmos em conta o alto preço do álbum.