Nome Original: 300
Editora/Ano:Devir, 2006(Dark Horse, 1999)
Preço/ Páginas: R$63,00/ 88 páginas
Gênero:Ação
Roteiro:Frank Miller
Arte: Frank Miller & Lynn Varley (Cores)
Sinopse: O exército da Pérsia, uma força tão ampla que estremece a terra com sua marcha, está pronto para esmagar a Grécia, uma ilha de razão e liberdade num mar de misticismo e tirania. Entre a Grécia e esta torrente de destruição existe um pequeno destacamento de apenas trezentos guerreiros. Mas estes guerreiros são mais do que homens… eles são ESPARTANOS.
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Os 300 de Esparta é uma adaptação feita pelo “polêmico” Frank Miller (Sin City, Ronin) do evento histórico ocorrido por volta de 480 a.C., onde 300 guerreiros de Esparta, liderados pelo Rei Leônidas, atacam e tentam impedir a enorme tropa persa, estes liderados pelo Rei-Deus Xerxes, de avançar e dominar o restante da Grécia. É uma HQ premiada, faturando o Eisner Awards e com uma adaptação para o cinema bem sucedia, trazendo no elenco Gerard Butler (O Fantasma da Ópera) como Leônidas e Rodrigo Santoro (Carandiru) como Xerxes.
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Frank Miller lançou 300 como mini-série em 1998, em 5 edições. A arte abusava de páginas duplas e cenas amplas, pois Miller (segundo a mídia) pretendia lança-lo num formato diferenciado, porém não foi possível e ele “adaptou” a arte para o formato americano. Esta primeira versão saiu por aqui pela editora Abril em 1999, também em 5 edições. Com o sucesso da mini-série, a Dark Horse compilou num único volume, em 1999, as 5 edições em formato “widescreen”, assim como era pra ter sido. Esta nova versão foi lançada pela Devir em 2007, em acabamento de luxo, e é a resenhada aqui. Obs: as imagens são da versão original, pois não encontrei da versão horizontal e, pelo tamanho, foi impossível escanear; mas são praticamente iguais, com cada página dupla numa só página horizontal.
Antes de comentar sobre o roteiro, é importante salientar que 300 é um espetáculo visual e seu grande mérito está, justamente, na arte. As cenas são cinematográficas, amplas, cheias de detalhes e com a pintura excelente de Lynn Varley. A história, apesar de bem construída, foi alvo de elogios e críticas. A mídia especializa a considerou uma boa aula de História, produto de bastante pesquisa por parte do autor, que adaptou com fidelidade a Batalha das Termópilas, apesar da violência característica. Já outros consideraram a história equivocada, exagerada e homofóbica. Alan Moore, o criador de Watchmen e V de Vingança, já chamou Frank Miller de preconceituoso e misógino.
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É possível entender os dois lados da moeda. No quesito histórico, o autor realizou uma adaptação consistente, retratando (de forma resumida, claro) os dias de batalha no desfiladeiro das Termópilas, citando pessoas, lugares e outros eventos históricos, enriquecendo o roteiro. Apesar da caracterização exagerada, boa parte dos personagens e acontecimentos são verídicos, como o traidor Efialtes, o exército de Imortais, a consulta à oráculos, as estratégias de Leônidas. Nesse sentido, não há o que reclamar de 300.
Os espartanos são retratados como “super soldados”, com uma cultura guerreira onde somente os mais fortes são dignos do rei, que jamais se rendem e satirizam as nações vizinhas, pela democracia e atitudes adotadas pelas mesmas. E é nessa parte que se encontra o “tendão de Aquiles” de Frank Miller. Leônidas, em varias frases, deixa claro sua opinião à respeito dos atenienses, os considerando efeminados, fracos e risórios. Essa declaração, entre outras, foi a grande responsável para que os críticos considerassem o trabalho de Miller homofóbico. Apesar de, mesmo criticando, Leônidas vê as qualidades dos atenienses em conseguir derrotar outras nações, mesmo sendo “desse jeito”.
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Polêmicas a parte, a narrativa de 300 é ótima. A história foi bem construída, apesar dos personagens serem pouco aprofundados, se concentrando na ação e espírito de luta dos espartanos. O machismo de Leônidas e sua trupe é um detalhe à frente da história e, talvez, possa até ser um aspecto mal compreendido da mesma.
Na parte artística, 300 é excepcional. Todas as cenas são estilizadas e impactantes. Os desenhos são do próprio Miller e as cores são de sua ex-esposa Lynn Varley. Os dois já trabalharam juntos em outros títulos, como Ronin, Sin City e Elektra Vive. Nas cenas amplas, onde há vários personagens, o traço lembra Milo Manara, em suas famosas cenas, retratando várias pessoas em pátios e ruas, vistas à distância. Mas a arte não seria a mesma sem a pintura de Varley, que é o grande destaque na arte do álbum, até porque os desenhos de Miller são inconsistentes em certos momentos.
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A colorista utiliza de tons fortes e precisos, com jogadas de tintas e títulos que passam a sensação de animação, no melhor estilo Tarantino de ser. O destaque fica na jogada de luz e sombras, muito bem utilizada, e na retratação de Xerxes, em seu esplendoroso trono carregado por diversos homens. O vilão é repleto de brincos e piercings, com uma vestimenta cheia de detalhes em ouro. Miller acertou em cheio nos detalhes e a pintura de Varley só realçou as qualidades. O formato horizontal é um dos grandes responsáveis, também, por deixar a arte mais fluída.
Para consolidar, ainda mais, que Os 300 de Esparta é puro visual (sem desmerecer o roteiro), o acabamento da Devir é excelente: capa dura, miolo couché de alta gramatura, título com reserva em verniz e formato gigante (33 cm x 24 cm). É um álbum de encher os olhos, sem dúvidas.
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Porém há um preço a ser pago por tanto luxo, e o mesmo não é barato! A edição custa mais de R$60,00 reais, variando de loja pra loja, podendo ser encontrado até por mais. A editora só falhou em não acrescentar extras, como biografia dos autores, e em colocar um glossário ao final, explicando alguns detalhes, porém não há asteriscos durante o texto e nem as páginas são numeradas, para deixar estes “verbetes” mais relevantes. Apesar de detalhes, poderiam ser revisados com maior cuidado, principalmente se levarmos em conta o alto preço do álbum.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.