Arcos Principais: Por Qualquer Meio Necessário (By Any Means Necessary!).
Publicação Original/ Brasil: Squadron Supreme #1-5 (Marvel, 2016)/ Avante, Vigadores #1-4 (Panini, 2017).
Roteiro/ Arte: James Robinson/ Leonard Kirk.
Esquadrão Supremo é uma das surpresas que a Marvel revelou para a sua fase All-New, All Different que zerou todas as suas séries após os eventos de Guerras Secretas. Ao contrário da DC, que costuma rebootar seu Universo, a Marvel de tempos em tempos faz esses eventos mas sem esquecer da cronologia das equipes e personagens, pra manter fãs antigos e atrair novos. E o Esquadrão se encaixa bem nas duas categorias, surgindo como uma equipe mais concisa, membros pouco conhecidos e uma postura diferente da dos demais heróis: mais violentos e sem a preocupação típica com mortes de civis numa missão, contanto que ela seja finalizada. A Panini começou a publicar a série na mensal Avante, Vingadores! recentemente e este review comenta, sem spoilers, o primeiro arco da equipe (#1-5).
Antes seria interessante falar sobre o que é o Esquadrão Supremo, que nasceu em 1971. Originalmente, era uma equipe baseada na Liga da Justiça, com 5 membros originais inspirados nos medalhões da DC: Falcão Noturno (no Batman), Hyperion (Superman), Princesa do Poder (Mulher-Maravilha), Dr. Espectro (Lanterna Verde) e Blur (Flash), entre outros que foram surgindo. De lá pra cá, tanto o Esquadrão quanto seus membros foram reinventados algumas vezes, mas sempre relembrando a Liga da Justiça, com direito a copiar características na cara larga como a origem grega da Princesa do Poder ou os cristais coloridos de energia do Dr. Espectro. Mas foi uma equipe que sempre flopou e que conseguiu sair do marasmo com essa nova versão, numa roupagem mais moderna, trazendo de volta os 5 membros originais e pegando inspiração em outra equipe da DC: The Authority (1999), que já era inspirado na Liga da Justiça!
Cópias, releituras, referências e inspirações à parte, este novo Esquadrão Supremo já começa na voadora de dois pés no peito de um importante personagem da Marvel. Na história, cada um dos cinco membros é o único sobrevivente de sua realidade, destruída durante as Guerras Secretas. Sem um lugar pra ficar, eles se reúnem na Terra 616 (realidade oficial) e prometem proteger este mundo custe o que custar, não estando dispostos a perder outro lugar novamente. Há um pouco de semelhança com os Exilados, que era uma equipe também formada por membros de realidades distintas, mas a comparação termina aqui. Nesse início eles decidem por se vingarem de um famoso herói, gerando graves consequências e atraindo a atenção da população em geral: enquanto alguns agradecem por surgir uma equipe que não tem medo de fazer o que as demais não fazem; outros temem um grupo tão poderoso e desenfreado assim. Tudo isso até chegar aos ouvidos dos Vingadores do Steve Rogers, que vão querer tirar satisfação.
O início é muito bom e apresenta de maneira dinâmica cada um dos integrantes (que não são tão diferentes de suas contrapartes da Liga da Justiça). Falcão Noturno é sorrateiro e silencioso; Hyperion continua como o líder de capa e super-força; Princesa do Poder segue a linha casca-grossa; Blur é o mais descontraído e que não sente saudades de casa; Dr. Espectro agora é a Dra. Espectro, que prefere ficar mais afastada. Além dos Vingadores, outra personagem que aparece e tem certa importância é a Thundra, responsável por dar uma guinada no rumo da equipe. A Marvel sabe que as semelhanças com a Distinta Concorrência são visíveis e utiliza do Deadpool pra ironizar, num momento em que o Mercenário comenta: “pra um falcão, você bem que parece um morcego“.
Apesar do início ser ótimo, o arco perde sua força na metade do caminho, entrando em mais uma história sem grandes atrações envolvendo viagem pra outra “realidade”, magos insanos e todo aquele monólogo de vilões que estamos cansados de ouvir, que querem dominar o mundo, ter poder e blá, blá, blá envolvendo o Mundo Estranho (que mais parece a Caverna do Dragão, com direito a criança chata enchendo o saco). A impressão que fica é a de que resolveram a primeira missão da equipe (a vingança) muito rápido. O que poderia render um belo arco, pra construir a batalha, motivações e desdobramentos com maior profundidade, termina numa edição só. E o restante do arco não acompanha a adrenalina que criou.
Mesmo assim, é uma boa leitura que promete para os arcos seguintes. O roteiro é de James Robinson (do consagrado Starman), que fez um bom trabalho na repaginação da equipe, seguindo a proposta da Marvel em trazer mais diversidade (metade das personagens principais são mulheres – Thundra, Princesa e Espectro -, algo difícil em super-grupos), entre outros pontos, mas sem cair na pieguice e ainda mantendo a pose de uma equipe mais tradicional. Os desenhos são de Leonard Kirk (Supergirl), que segue a linha mais comum de heróis, com boas cenas de ação (a da vingança é ótima) e mulheres bem musculosas, mas também sem inovar ou dar aquele passo à frente na violência (principalmente se compararmos ao The Authority ou até mesmo com a atual Grandes Astros Batman, pra não ir longe), com um início chutando cabeças e um final mais comportado. Um primeiro arco interessante, com uma boa proposta, mas que dá suas próprias freadas. Fica a expectativa pro próximo.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.