Nome Original: Ex Machina #17 ao #20; Ex Machina Special #1 e #2
Editora/Ano: Panini, 2010 (WildStorm, 2006)
Preço/ Páginas: R$19,90/ 148 páginas
Gênero: Alternativo/ Ação
Roteiro: Brian K. Vaughan
Arte: Tony Harris; Chris Sprouse
Sinopse: Mitchell Hundred já encarou diversos desafios como prefeito de Nova York. De escândalos políticos a assassinos sobrenaturais. Mas nada o preparou para a vindoura guerra com o Iraque. Manifestantes pela paz lotam as ruas de Manhattan e o prefeito precisa fazer uma escolha entre manter a liberdade de seus eleitores ou a segurança da cidade… antes que seja tarde demais. E ainda: uma história do passado super-heroico do prefeito que revela um dos arqui-inimigos da Grande Máquina!
***
O ponto alto de Ex Machina continua sendo sua verossimilhança, em como conseguiu recriar o cenário mundial de guerras, direitos civis, problemas ambientais e outras questões ligadas ao Governo com um um “herói”. Mitchell Hundred sofreu um acidente com um objeto desconhecido que lhe concedeu o poder de se comunicar com todo tipo de máquina. Adotou o nome de A Grande Máquina e começou a tentar combater o crime, como os personagens de gibis. Até então, uma história de super-hérois tradicional. Só que a realidade não é assim tão fácil. Depois de impedir que o segundo avião atingisse o WTC no atentado de 11 de Setembro dos EUA, ele decide largar o manto de herói e candidatar-se prefeito de Nova York, vencendo. Mas os problemas no Governo são bem mais complexos que vilões caricatos…
Nesse volume, temos dois arcos. O primeiro, que dá o titulo ao álbum (Marcha à Guerra) apresenta um um tema bastante delicado, principalmente para os EUA. Após os atentados, um grupo vai às ruas com uma Marcha Pela Paz, contra a guerra ao Iraque. Journal, a assistente de Mitchell, também irá participar do evento, o que pode colocar o prefeito em maus lençóis. Interessante como o roteirista Brian K. Vaughan conseguiu tratar desses assuntos em pleno 2006, já que sabemos a postura que o país havia adotado contra o “terrorismo”.
Porém, durante a Marcha à Paz, ocorre o que Mitchell mais temia: o pessoal sofre um ataque desconhecido através de um gás venenoso. Com mortes e muitos feridos, a situação complica para a Prefeitura, forçando um investigação às escondidas, onde a presença d’A Grande Máquina é necessária. Um bom arco, com a morte de um personagem que tinha certa importância e que, mais uma vez, traz à tona a sexualidade de Mitchell. Será que é só drama ou isso irá reverberar mais pra frente?
O segundo “arco”, na verdade, é um especial. Mitchell é convidado à uma entrevista na rádio local e acaba sendo indagado sobre a pena de morte, qual a sua opinião. Não querendo entrar em temas polêmicos, ele acaba relembrando de um inimigo que enfrentou quando ainda era A Grande Máquina. Não sei porque, mas lendo Ex Machina eu lembro bastante do nosso Prefeito Haddad aqui em São Paulo, seu jeito de tentar lidar com as questões sociais, tentando dar espaço para a diversidade. Mas guardando as devidas exceções, claro. Em Marcha à Guerra, por exemplo, a população nova-iorquina passa a temer a agredir todos que “se pareçam terroristas”, alguma coisa diferente com o recente atentado em Paris e a reação das pessoas? Haddad, pelo menos, não faria com que todos que passassem pelo Metrô fossem revistados, como Mitchell fez.
No flashback desse especial, um homem grava a voz de Mitchell e passa a escutá-la diversas vezes para tentar decifrar seu poder, porém acaba sendo induzido e desenvolve uma habilidade: a de falar com os animais. Agora, esse novo super ser passa a liberar animais de zoológicos e matar pessoas, chamando a atenção da Grande Máquina, pois acredita que ela não está fazendo seu papel “aqui na Terra”. É um ótimo especial, ainda sobre o roteiro de Vaughan, mas com a arte de Chris Sprouse (Tom Strong), que mantém a qualidade do Tony Harris.
Ex Machina Vol. 4 continua firme e forte, construindo a mitologia da série, apresentando boas histórias com fundo político, fugindo dos já tradicionais clichês do gênero de super-heróis. O grande suspense, desde o início, é como acabou a mandato do Prefeito Mitchell, que ainda não ficou claro. Mas continuo batendo na mesma tecla: apesar de bastante consistente, de ter desenhos e cores lindos (as capas são sensacionais) talvez falte um momento WOW que fique cravado na mente.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.