Nome Original: Elektra Assassin #1 ao #8
Editora/Ano: Abril, 1989 (Marvel, 1986/87)
Preço/ Páginas: R$?/ 260 páginas
Gênero: Ação/ Super-Herói
Roteiro: Frank Miller
Arte: Bill Sienkiewicz
Sinopse: A Besta (líder supremo do Tentáculo) domina o corpo do candidato à presidência dos Estados Unidos, e a única pessoa que pode impedi-la é Elektra Natchios.
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Antes, um aviso: o site está com poucas atualizações por motivos de: TCC! Sim, estou no último semestre da facul e não está sendo fácil!
Acho importante iniciar a resenha de Elektra Assassina informando que não se trata de um álbum fácil de ler, muito pelo contrário. Apesar de toda a fama que o precede (merecidamente), é uma HQ densa, com narrativa e arte experimentais, idas e voltas no tempo, além de muita metalinguagem. Não é aquela HQ que você pega pra ler e termina no mesmo dia. Você precisa ir degustando os capítulos aos poucos, pra conseguir digerir as informações de uma melhor forma.
Entretanto, Elektra Assassina não é o trabalho mais experimental do Frank Miller e Bill Sienkienwicz. Pegando por exemplo Wolverine – Fúria Interior, o desenhista é bem mais pirado e chega ao quase não-entendimento das cenas. Já Miller criou diversas séries e especiais que variam do mais contido ao extremo bizarro. Mas podemos dizer que Elektra Assassina é aquele que conseguiu unir o melhor de ambos, sendo experimental e surreal ao mesmo tempo em que é bonito e interessante.
A HQ foi lançada em 1986, época em que Elektra Natchios estava morta, narrando um retcom. Uma missão que ela facilmente poderia ter feito, além de explorar sua história, origem, treinamento ninja e poderes. Resumindo a trama, Elektra foge do grupo ninja Tentáculo e imagina ser perseguida pela Besta, uma espécie de ídolo deles. Ela também acredita que a tal Besta planeja dominar um candidato à presidência dos EUA. Querendo impedir o acontecimento, ela inicia uma missão quase suicida, matando todos que entrarem em seu caminho, até mesmo a SHIELD, que quer capturá-la. Em paralelo temos o Agente Garret, que está dividido entre matá-la e possuí-la; Nick Fury tentando manter a ordem na SHIELD e tomando conhecimento de suas inúmeras fraudes; extensões governamentais que fazem experimentos robóticos em criminosos; e por aí vai.
Há muita informação em Elektra Assassina, por isso recomendo ler com calma. Como Frank Miller é o criador da personagem, ele tem mais “alçada” pra poder mexer em seu passado, explicando como perdeu a mãe logo na infância até ser treinada pelo Tentáculo. Mas devido ao seu tom surreal, não sabemos ao certo o que pode ser realidade ou apenas imaginação da mulher.
Outro ponto interessante é a construção da protagonista, que ao mesmo tempo é coadjuvante. Ela consegue ser extremamente séria e fria, mas ainda assim sarcástica e simpática. Lembra heróis como Wolverine e Batman, mais introspectivos.
Frank Miller também aproveita pra satirizar e criticar muito dos clichês de super-heróis que, por incrível que pareça, não mudaram em nada hoje em dia, quase 30 anos depois. Em alguns momentos parece que ele até previu a “Era Image” dos quadrinhos com as mega-armas e super-pernas femininas. Temos todo tipo de clichê quadrinístico aqui: a organização que não funciona e descobre que o vilão vem de dentro; as mortes e renascimentos; o anti-herói canalha; os cyborgues; os ajudantes extremamente caricatos do vilão; etc…
E a arte do Sienkienwicz vem pra deixar tudo isso mais estilizado ainda. Não é a toa que Elektra Assassina é conhecida mais por seu visual que por seu roteiro. O artista utilizou diversas técnicas pra ilustrar, partindo do clássico nanquim e aquarela à fotomontagem. Cada capítulo (num total de 8) tem alguma surpresa visualmente falando. Sem contar as cenas de ação, que são de outro mundo. Só pra destacar uma, temos o momento em que Elektra e Garret lutam com agentes da Shield embaixo d’água, uma sequência linda. Aliás, todo esse capitulo é fenomenal.
Sienkienwicz sabe criar uma narrativa caótica como ninguém. Outros pontos interessantes na arte são os recursos visuais utilizados. O candidato à presidência Ken Wild, por exemplo, é mostrado sempre com o mesmo rosto: um recorte de jornal, parecido com Kennedy, sempre sorridente e amigável. Não importa a posição em que o personagem está, o rosto é sempre mostrado de frente. Um detalhe que faz a diferença. Outro ponto é o nível de quanto cada personagem é caricato. Elektra é bem realista, enquanto Garret parece um cartoon, sempre fumando um cigarro e usando um paletó de ombreiras gigantes.
Aqui no Brasil a HQ saiu em três momentos. Originalmente numa minissérie em 4 edições pela Editora Abril em 1988, compilada numa edição encadernada em 1989 (que é a versão resenhada aqui) e em 2005 pela Panini, que encontra-se esgotada. O encadernado da Abril, apesar de mais antigo, leva vantagem sobre o relançamento por trazer um extra bem interessante: 11 páginas com uma matéria especial sobre a produção do álbum e seus conceitos, facilitando a vida do leitor, que passa a olhar pra história e arte com outros olhos. Mesmo assim, já está na hora da Panini republicar sua edição ou lançar uma nova, pois trata-se de um clássico.
A edição da Ed. Abril possui capa cartão e miolo numa espécie de LWC, além da matéria especial dividida em duas partes no decorrer da leitura. Ou seja, o leitor vai desvendando mais sobre a intrigante personagem durante sua leitura, e não depois como de costume. Elektra Assassina é uma HQ excepcional, com uma bela construção narrativa e arte de encher os olhos, mas precisa ser apreciada aos poucos, devido seu excesso de informação, que não é fácil de ser absorvida.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.