Nome Original: Marvel Graphic Novel #5 – X-Men: God Loves, Man Kills
Editora/Ano: Panini, 2003 (Marvel, 1982)
Preço/ Páginas: R$6,50/ 68 páginas
Gênero: Super-Herói
Roteiro: Chris Claremont
Arte: Brent Anderson
Sinopse: O Professor Charles Xavier e seus pupilos, Ciclope, Tempestade, Wolverine, Noturno, Kitty Pryde e Colossus, os X-Men, entram na mira do fanático pastor William Stryker, um influente religioso que considera os mutantes uma cria diabólica e uma afronta contra Deus e Sua Criação. Seja com suas palavras, seja com sua milícia assassina de mutantes, os Purificadores, Stryker quer guerra e até Magneto se unirá aos X-Men nesse confronto feroz combatido não só com punhos, mas com palavras e sentimentos.
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“X-Men – Deus Ama, o Homem Mata” foi publicada originalmente em 1982, numa linha de graphic novels da Marvel. Já se foram mais de 30 anos desde então e, por mais que roteiro e arte estejam bastante datados hoje em dia, essa HQ é pra mim uma das melhores histórias dos X-Men, ela traz toda a essência da série, toda a discussão que os mutantes propõem.
Chris Claremont foi um dos mais expressivos roteiristas dos X-Men, ficando no título por mais de 15 anos consecutivos (1975-1991), responsável por grandes sagas e mudanças na mitologia mutante. Adorado por muitos, voltou à escrever pra série no começo dos anos 2000, mas talvez sem a mesma força. Seu estilo narrativo é bastante característico dos anos 1980, lotado de balões de pensamento e recordatórios. Algo que não envelheceu bem e que talvez seja o calcanhar de Aquiles desta HQ.
Na história temos o reverendo William Stryker, religioso que quer convencer os EUA que os mutantes são uma ameaça não apenas à raça humana, mas também à todos os costumes e dogmas cristãos. Para ele os mutantes são crias do demônio e que precisam ser extintos. Dentre sua equipe estão os “Purificadores”, assassinos dos mutunas. Professor X e Stryker protagonizam debates ideológicos na TV, mas parece que aos poucos a população começa a acreditar no fanático.
A HQ já se inicia com uma perseguição dos Purificadores à duas crianças mutantes, assassinadas à sangue frio. Tendo em vista a época em que foi publicada, essa é uma das histórias mais chocantes dos X-Men. Em seu decorrer Stryker captura Xavier para utilizar de sua telepatia e localizar e matar pessoas com o gene X. Preso numa ilusão, o Professor se imagina sendo capturado e crucificado pelos X-Men numa sequência excelente.
O auge de “Deus Ama, o Homem Mata” está perto do final, quando Stryker organiza uma assembléia para convencer o povo e as autoridades da ameaça mutante, mas acaba num debate contra Ciclope. É aqui que ocorre a famosa cena em que ele aponta para Noturno e pergunta “se aquilo pode ser humano?”. O roteiro é de uma frieza, sem floreios. E quando se trata de supremacia humana/ mutante, não pode faltar o Magneto, que se alia aos X-Men para combater o inimigo em comum.
Outro ponto bastante interessante é a origem de Stryker, que trabalhava para o exército e, viajando com sua esposa grávida, sofre um acidente de carro. Em meio aos destroços, ele precisa fazer o parto dela às pressas, ficando surpreso com a aparência no bebê ao nascer, possivelmente um mutante, que ele considera fruto do Inferno e o mata ali mesmo, assim como a mãe. É, o cara é louco.
Um debate que merece destaque é o que questiona a “humanidade” dos mutantes, hoje um tema já batido. Se não forem considerados humanos, os mutantes não se aplicam às leis e podem ser chacinados como animais, como o próprio Wolverine comenta. E a principal defesa dessa teoria está na Bíblia, que Stryker tanto cita no decorrer da HQ. São trechos e mais trechos do Livro Sagrado dizendo o quanto o “diferente” tem que sofrer, o quanto aquele que não se encaixa ali precisa ser “apedrejado até morrer”. Algo não muito diferente do que vemos hoje em dia, da perseguição dos evangélicos contra a comunidade LGBT.
Volto a dizer que toda a essência dos X-Men está aqui, implantando debates que mais tarde seriam retratados à exaustão. O que prejudica a leitura são os textos infinitos de Claremont, com os graças a Deus extintos balões de pensamento, dizendo exatamente o que a gente tá vendo. Sem contar partes extremamente desnecessárias, que dão uma diminuída no gás da história. A arte de Brent Anderson também é outra coisa que não envelheceu bem, mesmo com algumas sacadas mais ágeis e interessantes (como a rajada do Ciclope), no geral ela soa muito antiquada, as cores parecem um borrão. Claro, estamos falando de uma revista de 1982 (a Lince Negra era chamada, inclusive, de “Ariel”).
Pra muitos esses são os motivos por “Deus Ama, o Homem Mata” ter perdido sua força. Pra mim, são detalhes perto do contexto e ideias propostas. Sua trama serviu de base para o segundo filme dos X-Men, com William Stryker capturando o Professor pra usá-lo contra os mutantes. Em 2003 Claremont escreveu o que seria a continuação desta graphic novel, trazendo de volta Stryker e seus ideais. Publicada originalmente em X-Treme X-Men, saiu por aqui em X-Men Extra #31 à #34, uma completa bomba que nem chega aos pés do original.
Esta edição da Panini é a mais recente, bastante simples e barata, com capa cartão e miolo LWC, sem nenhum extra. Lançada pelo embalo da estréia de X-2 nos cinemas e trazendo na capa a arte fenomenal de Bill Sienkiewicz (Elektra – Assassina). Apareceu pela primeira vez no Brasil em 1988 pela Abril, num formato magazine e com o título “O Conflito de Uma Raça”.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.