Nome Original: The Pro
Editora/Ano: Devir, 2003 (Image, 2002)
Preço/ Páginas: R$17,50/ 64 páginas
Gênero: Alternativo/ Super-Herói
Roteiro: Garth Ennis
Arte: Amanda Conner
Sinopse: Os heróis não fumam, não xingam e, apesar de tudo, são pacifistas. Algumas virtudes parecem ser pré-requisito para ganhar poderes além da humanidade, não é o que pensa Garth Ennis, premiado roteirista irlandês. “A Pro” é a história de uma prostituta que recebe poderes e vai às ruas combater o crime como qualquer outro herói ou heroína.
***
Garth Ennis é um roteirista conhecido por seu estilo “bruto e cru” de contar histórias. Não tem muito rodeio ou técnicas rebuscadas. É criador de diversos títulos, entre eles Preacher, Hitman e The Boys, além de ter passado por séries como Justiceiro e Hellblazer. Em “A Pro” ele satiriza o gênero super-herói e faz críticas à industria (em especial a DC). O resultado, porém, é um amontoado de cenas de sexo, violência e baixaria, o leitor sequer precisa pensar pra pegar as referências.
Na história, uma prostituta e mãe solteira ganha poderes de um alienígena e é recrutada para a Liga da Honra. Tudo não passa de uma aposta deste E.T. e seu robô-assistente, querendo provar as qualidades da raça humana. Mas a “Pro” (como fica chamada) não se encaixa no padrão da Liga, eles são certinhos de mais, não matam, não machucam, buscam por ideais impossíveis e ela é totalmente o contrário. Aproveitando de seus poderes novos, além de humilhar os demais heróis, resolve também se vingar de um ex-cliente que quase a matou.
Uma premissa bem interessante, e uma crítica ácida aos heróis. A Pro quer provar que qualquer um pode ser um herói, independente de sua origem ou modo de viver. Mas no final, a HQ acaba ficando bem superficial, com dezenas de palavrões, violência e cenas de sexo jogadas na cara do leitor, que parecem estar ali apenas pra chocar. E não de uma forma boa.
A sátira à Liga da Justiça não poderia ser mais óbvia. Temos um Superman bobão e certinho, a dupla fetiche Batman & Robin, a pseudo lésbica-filosofa Mulher-Maravilha, um Lanterna Verde rapper e por aí vai. Mas tudo bem simples. Talvez ele não tenha explorado tanto pra tornar a história engraçada, mas o fato é que A Pro poderia ter sido algo maior e melhor. O próprio Ennis, mais tarde, criou a série The Boys que é igualmente violenta e sexual, tirando onda com os super-heróis, só que de uma maneira muito melhor.
A própria ideia de uma prostituta heroína/ vilã já foi utilizada antes, como por exemplo no especial Mulher-Gato de 1989, com a “origem perdida” da Selina. Mesmo assim a ideia continua sendo um tabu dentro das HQs de heróis, principalmente em se tratando da DC, cuja fama é de ser uma editora mais conservadora, trazendo heróis e vilões mais tradicionais.
A Pro ainda tem um “q” de interessante, seja pela temática, seja por criticar o gênero e a própria DC, ou até por alguns momentos engraçados. Mas, particularmente, achei bem raso e com saídas óbvias. Garth Ennis esculhambou gerou e muitos podem dizer que isso foi intenção dele, e até pode ter sido mesmo! Mas olhando para outros trabalhos seus, como o próprio The Boys, esta A Pro fica bem aquém.
A arte é da Amanda Conner (Antes de Watchmen: Espectral), bem clean e objetiva, assim como o roteiro. Dá pra perceber que ela curte um lado mais cômico-erótico, não deixando escapar uma bunda ou peitinho de aparecer. “A Pro” foi lançada pela Devir em 2002 com capa cartão e miolo LWC, caprichada apesar de não ter extras.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.