Arco original: sem nome. Publicação original: Catwoman #1-4 (DC, 1989) Roteiro/ Arte: Mindy Newell/ J. J. Birch.
Sinopse: Selina Kyle é espancada e humilhada por seu gigolô, Stan, a ponto de vestir uma velha fantasia, assumir uma nova personalidade e decidir tomar outro rumo na vida, se tornando a Mulher-Gato! Como forma de vingança, Stan sequestra sua irmã, a freira Maggie Kyle, e somente a felina pode salva-la. .
Temos nesta “Mulher-Gato” a primeira origem da carismática vilã. De prostituta à ladra noturna, tudo é mostrado nesse especial, reunindo as 4 edições da série Catwoman, de 1989. É interessante ressaltar que os eventos aqui mostrados foram influenciados por Batman – Ano Um (Frank Miller), possuindo diversas ligações entre si. Anos depois essa “origem” sofreu algumas modificações, principalmente pelo seu conteúdo “ousado”.
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O roteiro é da Mindy Newell, que criou uma história madura e concisa. Ela já havia escrito, na década de 1980, para séries como Legião dos Super-Heróis e Mulher-Maravilha. Na trama, Selina Kyle sofre diversos abusos nas mãos de seu gigolô, o Sr. Stan, até o momento que é espancada por ele e jogada na rua. Após se recuperar, começa a treinar com o Pantera, por sugestão de um policial, e decide que nunca mais vai se submeter às ordens de seu “dono”. Stan, por outro lado, fica furioso com as novas atitudes da moça e começa a ameaçar sua pupila, Holly, para tentar atingi-la, mas não consegue o efeito que queria e sequestra Maggie Kyle, a irmã freira de Selina.
Inspirada pela imagem do Batman, ela decide fazer justiça com as próprias mãos e ir atrás do vilão. Adotando uma antiga fantasia de gato (utilizada para seus clientes fetichistas) e fazendo alguns ajustes, Selina se torna a Mulher-Gato que, na busca pela salvação da irmã, não se importa em realizar pequenos furtos por onde passa. A personagem está longe da que conhecemos hoje em dia, forte e decidida. Sua personalidade ainda está sendo lapidada, indo da mulher frágil à uma verdadeira guerreira. A evolução de Selina é gradual, nada gritante, e mesmo nos momentos finais ela demonstra a fragilidade de uma principiante. Isso deu um tom mais natural à obra, ponto para a roteirista.
No seu derradeiro encontro com o Batman, temos um importante momento na história da personagem, pois pode ser considerado o início do conturbado relacionamento que os dois possuem até hoje. Com o reboot da DC ainda não ficou claro a nova origem da Mulher-Gato, se será criada uma ou se irá reciclar esta. Os desenhos são de J.J. Birch (Xombi), que realizou um bom trabalho, principalmente no uniforme que, particularmente, é um dos que mais gosto. O destaque fica para suas páginas amplas e as de “abertura” de cada capitulo, que ficaram excelentes. As cores de Adrienne Roy (Batman, Novos Titãs) é outro atrativo, que fizeram à diferença, com seus ótimos contrastes (veja as páginas acima e abaixo) . Apenas os traços dos rostos, principalmente nos homens, que poderiam ser melhores, pois o aspecto é mais “sujo” em relação aos demais. Pode ter sido proposital, mas ficou estranho.
A revista é de 1989, da editora Abril, quando ainda valia o Cruzado Novo como moeda vigente e a história nunca mais foi republicada, então não deve ser fácil de encontrar, mas não chega a ser uma raridade. Comprei a minha por R$2,00 num sebo! É uma ótima edição, tanto para os fans do morcego quanto para quem não a conhece, pois é contada sua origem sem as velhas artimanhas das histórias de super-heróis (tá, nem tanto), de um modo mais adulto e real. O time de criadores também é da velha guarda, com diversas participações em séries dos anos 1970 e 1980 da DC. O acabamento é simples, mas bonito, com capa semi-cartonada e papel de qualidade, algo difícil de encontrar em revistas da época. Tudo com os devidos créditos, as cenas de abertura e sinopse. A única falha foi de alguns erros de português, mas nada do outro mundo.
*Lembrando que a história, apesar de ser de super-herói, é recomendada para adultos por conter linguagem obscena.
Confira outros reviews de Mulher-Gato que fiz aqui no site:
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.
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