Para os desavisados, os X-Men sofreram uma reformulação total em 2001 pelas mãos do roteirista Grant Morrison, o mesmo criador da psicodélica série Os Invisíveis (que adoro) e de Como Matar Seu Namorado, dois títulos que representam muito bem o estilo do autor. Para conhecer um pouco mais sobre os Novos X-Men, confira o review da edição #9.
A primeira e segunda história é o término do arco E de Extinção. É incrível como Morrison expôs tantas ideias, revirou personagens, incluiu novos conceitos e destruiu tantos outros em apenas três edições originais. Um dos temas principais é a evolução, tratando os mutantes como o verdadeiro substituto do homo sapiens, causando medo na humanidade. Cassandra Nova não é humana e nem mutante, um raça totalmente nova e letal; surgiu na edição anterior junto de Donald Trask, investigando uma base secreta de Sentinelas modificados. O plano de Nova: enviar esse exército de robôs à Genosha, nação-mutante comandada por Magneto. O resultado: o maior genocídio de mutantes de todos os tempos, com milhões de mortes!
Tudo muito rápido e dinâmico. As consequências do ataque são inúmeras, mostradas na terceira parte, cheia de surpresas. É aqui que aparece Emma Frost, ex-Clube do Inferno e vilã dos X-Men, como professora em Genosha, bem na hora do ataque. Como tudo é destruído, até Magneto pode ter morrido (de novo?). Surgem explicações da “mutação secundária”, responsável por dar ao Fera essa nova aparência felina (ótima, por sinal), o corpo de diamante da Rainha Branca e, possivelmente, a volta dos poderes telecinéticos da Jean. Suspeitas da relação entre Cassandra Nova e o Professor X também são comentadas.
Dando uma resumida: Scott, Logan e John Feioso viajam até à América do Sul para averiguar um sinal estranho que Cérebra detectou. Por azar, é o mesmo lugar onde Nova e os novos Sentinelas se encontram. Mesmo conseguindo aprisiona-la, o ataque à Genosha é realizado. Fera e Jean vão até a nação-mutante em busca de sobreviventes e encontram a cínica Emma Frost, levando-a ao Instituto. Lembrando que Emma era diretora, junto com Banshee, da Academia X e não é a primeira vez que seus alunos são assassinados, o que causou um grande trauma no passado. Todos reunidos na mansão, Nova se livra da prisão e se inicia uma das melhores sequências de ação que já vi com os X-Men, principalmente se lembrarmos das últimas histórias (reparem na imagem abaixo).
A personalidade dos personagens também foi bastante transformada, como Scott estar mais sério e frio como de costume, Wolverine de volta as origens e Professor X perdendo um pouco da sua ética e moral. A revelação de Charles ao final também é impressionante. Volto a dizer que o trabalho de Morrison foi incrível. Como tratar de tantos temas ao mesmo tempo e não perder o sentido, como ocorre em Cable? Lembrando que E de Extinção não é uma obra prima dos quadrinhos, longe disso, mas para quem vem acompanhando as últimas histórias da equipe, a melhora foi impressionante. A arte de Frank Quitely (Authority) é, a principio, muito estranha (apesar deu continuar achando estranha), mas se adaptou muito bem ao roteiro e ele possui um dinamismo pouco visto nos demais artistas que passaram na revista, principalmente por seus enquadramentos e diminuição do tamanho dos personagens, permitindo focar em mais coisas. A mudança nos uniformes também foram bem vindas, a única coisa que ainda incomoda um pouco é a feição dos personagens.
Mas como nem tudo são flores, após o final do arco ainda tem as séries do Wolverine e do Cable.
OK, a série do Wolverine é legal e traz a violência que sempre esperamos do personagem, agora com o roteiro de Frank Tiery (Arma X). Segunda parte do arco Caçado, um possível clone de Logan é visto entrando na casa de um político e chacinando todo mundo na residência. O video é mostrado em todo o país e agora o baixinho (nem tão baixinho nessa história) é caçado por todos, inclusive pela SHIELD. Infelizmente, Nick Fury não consegue encabeçar a missão (e tentar livrar a barra do amigo), mas acaba contratando um tal de Calafrio, um caçador de recompensas misterioso que ninguém sabe ao certo o que ele é, para encontrar Wolvi. O porém é que esse caçador costuma punir os culpados por crimes e Logan teve vários sonhos em que matava o político. O encontro entre os dois (mais o Fera, que embarcou na aventura por engano) é boa. O artista convidado para essa edição é Mark Texeira, responsável por mini-séries como a do Cavaleiro da Lua e do Dentes-de-Sabre na década de 1990. Os enquadramentos são inesperados e mantêm a arte estilizada que o Sean Chen vinha realizando.
Alguns dos destaques é o visual do protagonista, que está mais alto (uma das principais características do Wolverine é ser baixinho); no novo corte de cabelo do Logan, para se livrar das suspeitas; do estressado Nick Fury, lembrando o J. Jonah Jameson do Homem-Aranha; e o próprio Calafrio, que rouba as cenas, principalmente no final, quando ele pega o “braço”. Apesar dos clichês usados, consegue manter a atenção do leitor, ao contrário da história a seguir.
Como de praxe, Cable finaliza a edição. Eu critico tanto essa série que as vezes penso se não é implicância minha com o personagem. O último arco, envolvendo as três bruxas, realidades paralelas, salvação do mundo, espíritos imortais e tumbas alienígenas finalmente acabou, depois de se arrastar por uma eternidade e, quando penso que o pesadelo Cable havia acabado, heis que surge um novo arco tão confuso quanto o último!
Além da história ser bastante defasada da “atual” cronologia, onde Scott ainda está “morto”, o roteirista Robert Weinberg tenta incluir informação demais, com várias linhas paralelas, mas mal desenvolvidas, ao contrário do que ocorre em Novos X-Men. Só para exemplificar: Cable encontra uma academia secreta, luta contra uma professora-ninja, que dá alguns conselhos estranhos à ele; em seguida, a repórter Irene recebe a visita de uma espécie de bruxa que diz alguns segredos em relação à vida de Nathan; em seguida, ele resolve procurar a irmã desaparecida, a mutante Rachel Summers, para isso usa um traje especial e viaja BILHÕES de anos no futuro, encontrando a ruiva presa por um vilão. E os acontecimentos paralelos e/ou sem sentidos continuam. Foi assim no último arco, com a aparição das três bruxas profetizando situações que, infelizmente, se arrastaram demais. A arte continua com Michael Ryan, mas bem longe de sua boa fase em títulos como Fugitivos.
X-Men #10 é isso, um misto entre a ótima nova série dos X-Men é a péssima série do Cable. Felizmente, os novos rumos criados por Grant Morrison se sobressai às demais histórias, com a finalização de um ótimo arco que possuiu apenas três histórias, mas conseguiu revirar o universo mutante de cabeça pra baixo. Só resta saber até quando esse “hype” em torno das mudanças continuará. A Panini também incluiu as capas das edições originais, entre elas a que estrela a Rainha Branca e sua nova caracterização, além do uniforme mega ousado.
*Agora que New X-Men finalmente estreou, serei mais crítico com essas duvidosas escolhas que a Panini realizou nos mixes dos mutantes, prometo!
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.