Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.
[Review] Mitos Marvel !
Nome Original:Mythos: X-Men; Mythos: Fantastic Four; Mythos: Hulk; Mythos: Ghost Rider; Mythos: Captain America; e Mythos: Spider-Man.
Editora/Ano:Panini, 2010 (Marvel, 2006; 2007; e 2008)
Preço/ Páginas: R$22,90 / 153 páginas
Gênero:Ação/ Super-Herói
Roteiro: Paul Jenkins
Arte: Paolo Rivera
Sinopse:Homem-Aranha. Capitão América. Hulk. Motoqueiro Fantasma. Quarteto Fantástico. X-Men. Unidos pela fatalidade, pelo destino. Forjadas na tragédia, essas pessoas tão diferentes partilham um propósito em comum: usar seus dons únicos em benefício da humanidade, não importa a que custo. Assim nasceram verdadeiras lendas da era moderna, legítimos… Mitos Marvel! O premiado roteirista Paul Jenkins (Wolverine: Origens) une-se ao ilustrados Paolo Rivera para lançar um novo olhar sobre a origem de alguns dos mais populares heróis da Casa das idéias, num tributo a esses ícones da cultura pop.
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Mitos Marvel foi o último título da coleção Marvel Collection lançado pela Panini em 2010, uma coleção com mini-series completas em formato excelente, em capa dura e à um preço acessível. Foi nessa coleção que também saiu Namor: As Profundezas.
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Um pouco diferente das edições anteriores, Mitos Marvel traz seis histórias que recontam a origem dos heróis mais famosos da editora: X-Men, Quarteto Fantástico, Motoqueiro Fantasma, Homem-Aranha, Capitão América e Hulk. Para quem conhece ou acompanha tais personagens, já deve saber de cor essas origens, como a picada de aranha que levou Peter Parker a ganhar seus poderes ou o acidente espacial do Quarteto Fantástico. O interessante é que, em vez de publicar as primeiras edições de seus respectivos heróis, os autores se basearam nessas edições, deram uma roupagem mais atual e moderna à elas, com um ótimo traço, conseguindo fisgar o leitor.
O roteiro é de Paul Jenkins (Guerra Civil) que prima na narrativa e diálogos, principalmente os mais ideológicos, como o conflito de ideais entre Magneto e Xavier, ou os psicológicos, como a tensão vivida por Bruce Banner antes de se tornar o Hulk. Por se tratar de edições especiais, temos nos desenhos o artista Paolo Rivera, que foge dos traços comuns às HQs, com sua arte pintada. Mesmo “borrado” em algumas cenas, com poucos detalhes, todos os desenhos, no geral, são excelentes, principalmente por resgatar os primórdios dos heróis, com seus uniformes e aspectos originais, como a roupa amarela dos X-Men. Rivera já trabalhou, também, em edições do Homem-Aranha e já fez diversas capas para a Marvel.
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Em ano de adaptações cinematográficas, reboot de histórias e revistas que tentam agradar ao leitor novo, Mitos Marvel é outra tentativa de contextualizar os heróis Marvel, que possuem décadas de cronologia, sendo criados em épocas totalmente diferentes da que vivemos hoje, mas que conseguem ser tão atemporais que poderiam ser criados a qualquer momento. Confira a resenha para cada uma das edições presentes em Mitos Marvel.
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– Mesmo já recontada diversas vezes, e da maioria das pessoas saberem dos motivos que levaram esses personagens a ganharem seus poderes, alguns comentários a seguir podem conter spoilers para aqueles que nunca ouviram falar dos heróis.
Mitos Marvel: X-Men – inspirada em X-Men #1, lançada em 1963 por Jack Kirby e Stan Lee, essa versão de Jenkins foca mais nos ideais de Xavier e Magneto, deixando os X-Men originais em segundo plano. Magneto quer acabar com o plano governamental de registro de mutantes, atacando um local onde há tais documentos. Xavier e seus pupilos vão até o local, enfrentar o terrorista. É legal ver o grupo original trajando seus uniformes amarelos e sem a personalidade carregada que ganharam ao longo dos anos. De especial, vale destacar a fúria de Magneto, expressada brutalmente, com Erik matando quem estiver em seu caminho, sem nenhuma benevolência, como mostrado na seqüência inicial. Particularmente, prefiro o mutante desta maneira. No mais, é uma história razoável.
Mitos Marvel: Quarteto Fantástico– inspirada em Quarteto Fantástico #1, lançada em 1961 por Jack Kirby e Stan Lee, essa nova versão de Jenkins prima pela narrativa. O quarteto de amigos (Reed, Sue, Jhonny e Ben), estão sendo interrogados pelo que houve na nave Pégaso, como foi a explosão e como conseguiram chegar à terra firme. Entre desentendimentos e medos, o quarteto relembra os acontecimentos vividos por eles no espaço. A narrativa é rápida, cheio de flashbackes. Num momento, pensei que estava assistindo à um episódio de Law & Order, devido ao clima de investigação. Após uma edição razoável dos X-Men, essa do Quarteto é ótima. Detalhe para a cena em que mostra uma galeria com os futuros inimigos que a equipe enfrentará e a última página, com um mapa do edifício Baxter.
Mitos Marvel: O Incrível Hulk – inspirada em Incrível Hulk #1, de 1962, criado por Stan Lee e Jack Kirby. Assim como na história dos X-Men, nessa adaptação da origem do Hulk, o autor foca na personalidade de Bruce, com sua raiva reprimida e seu namoro conturbado com Betty Ross. O casal está trabalhando no projeto Raios Gama, uma espécie de alternativa à energia nuclear, o sogro de Banner, o general Ross, faz o possível para separar eles, já que não o considera estável o suficiente para namorar sua filha. Há um acidente no momento em que a bomba explode e expõe Banner aos raios gama. Com essa falha e o acidente, o general suspende o projeto, ameaça demitir Banner e o proíbe de sair com sua filha. Com os nervos a flor da pele, irritado por ter seu projeto arruinado, toda a fúria contraída de Banner é expressada na forma de Hulk, uma criatura verde capaz de destruir tudo que entrar no seu caminho. A arte, como no restante do álbum, é ótima, em especial as cenas de seqüência, como quando Banner banca o herói, os efeitos de iluminação são demais. É um dos pontos alto do album.
Mitos Marvel: Motoqueiro Fantasma– inspirada em Marvel Spotlight #5, de 1972, criado por Gary Friedrich e Mike Ploog. Jenkins reconta a origem do Motoqueiro Fantasma, que surgiu do pacto que Johnny Blaze fez com o diabo. O clima é bem country e é uma das melhores histórias do album, tanto roteiro quanto arte, que está incrível, apresentando uma caveira flamejante montada numa Harley Davidson como você nunca viu. O diabo participa dos grandes momentos da história, tanto em sua proposta de pacto quanto em seu surgimento na pista.
Mitos Marvel: Capitão América – inspirada em Captain América Comics #1, lançado em 1941, criado por Joe Simon e Jack Kirby. Já é a segunda vez que vejo a origem do Capitão América este ano, e esta nova roupagem de Mitos Marvel está excelente, se aprofundando na personalidade de Steve Rogers, de sua solidão e fraquezas, culminando no teste para super soldados. Como sempre, há todo o patriotismo do herói presente e o melhor é o foco dado por Jenkins à Guerra Mundial que ocorria na época. É nessa história que há uma das melhores cenas de todo o album, quando Steve Rogers acorda, no futuro, sendo encontrado pelos Vingadores.
Mitos Marvel: Homem-Aranha – inspirada em Amazing Fantasy #15, lançada em 1962, por Stan Lee e Steve Ditko. Nada de novidade nessa nossa roupagem da origem do Homem-Aranha, até porque já estamos cansados de saber que “com grandes poderes vem grandes responsabilidades”. Ao contrário das histórias anteriores, o protagonista não possui sua personalidade melhor aprofundada, e a rapidez na narrativa também não ajudou. É razoável.
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Como em qualquer coletânea, Mitos Marvel há grandes momentos e aqueles que poderiam ser melhores. Se destacam as histórias do Motoqueiro Fantasma e do Quarteto Fantástico. O acabamento é primoroso, em capa dura, papel de qualidade e costurado. Senti falta apenas de um editorial, apresentando o álbum ou alguma biografia dos autores, como tivemos em Namor: As Profundezas. Esse é um ótimo formato adotado pela Panini, unindo qualidade e preço. Pelo visto, foi uma iniciativa que deu certo, já que a editora lançou outros albuns semelhantes.