Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.
[Review] Menina Infinito !
Editora/Ano:Desiderata, 2008
Preço/ Páginas:R$39,90/ 120 páginas
Gênero:Alternativo
Roteiro/ Arte:Fábio Lyra
Sinopse: Lamento lhe informar, mas a Menina Infinito não voa, não fica invisível e nem tem os peitões gigantescos das super-heroínas de hoje. Como ela mesmo diz, é uma garota normal. Ligeiramente neurótica, discretamente acima do peso, insegura e adorável. E, como toda pessoa normal, não é igual a ninguém. Tem tiques, manias, listas e gostos pessoais intransferíveis. Coleciona bandas, vinis, shows de rock e amores imperfeitos. E está naquela fase da vida em todo emprego é temporário e toda obsessão parece eterna. O mais importante é que ela existe, que Fábio Lyra criou aqui um universo real, meticulosamente desenhado, onde nenhuma capa de disco é genérica e, se um fio de cabelo está fora do lugar, é porque o personagem prefere assim. Este álbum tem três histórias que, como a canção pop perfeita, passam rápido, parecem que nasceram prontas e vão para o topo da sua playlist. É só tocar.
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Menina Infinito foi um dos títulos que aparecia na revista independtente MOSH!, em seus 12 números (2003-2006), rendendo à Fábio Lyra o HQ Mix 2007 de Artista Reveleção. Sendo uma das histórias que mais chamava atenção do público, a personagem ganhou seu primeiro álbum próprio em 2008 pela Desiderata, com 3 histórias longas e uma curta, de abertura, apresentando a personagem aos novos leitores.
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Mônica, a protagonista da série, é a melhor amiga de Pedro, já dividindo um apartamento com ele. Ela adora filmes cult e bandas underground, além de sonhar com o Morrisey e colecionar vinis, é gordinha e descolada. Menina Infinito retrata o cotidiano de Mônica, mostrando situações que poderiam acontecer com qualquer adolescente ou jovem que perambula à noite pela cidade.
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O título é repleto de referências, muitas mesmo. Há diversas capas de vinis espalhadas pelas páginas, todas iguais ao original, como também nomes de bandas estampados em camisas e citações de filmes e músicas. Mônica é fan de Amélie Poulain e, as vezes, até lembra a personagem francesa, principalmente nas cenas em que imagina algo mas fala outro.
A primeira história é uma apresentação da personagem ao leitor que não a conhece. Ela comenta de seus gostos, coleções, listas, cotidiano etc. Você se simpatiza logo de cara, como se Mônica fosse algum amigo próximo. É nessa verossimilhança que o título se destaca. Por se tratar do cotidiano, o leitor pode se identificar com muitos dos acontecimentos. Quem não conhece alguém que começou a namorar e se distanciar dos amigos? Ou ir a uma festa super chata só pra agradar alguém? Se meteu num grupinho de amigos e percebe que eles são totalmente diferentes de você? São essas situações que fisgam o leitor.
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Mas nem tudo são flores. Na primeira história “longa”, após a apresentação, Mônica quer tirar satisfação com um antigo colega, indo até o apartamento do mesmo iniciar uma confusão. Mesmo sendo legal, algumas atitudes dos personagens parecem forçadas e é a história que menos agradou, pessoalmente falando. Por sorte, a edição seguinte, com o namoro e o sonho com Morrisey, é melhor. O mesmo pode se dizer da última história, onde Pedro relembra a época em que dividia o apê com Mônica e como que os dois se separaram, graças à uma namorada encrenqueira dele, sendo bem agradável de ler.
Em alguns momentos Menina Infinito nos lembra outros álbuns do mesmo gênero, como Mundo Fantasma (as personagens até que se parecem), retratando o cotidiano de personagens mais “alternativos”. Quem curte esse tipo de narrativa provavelmente irá gostar de Menina Infinito. Mesmo sem possuir nenhum momento surpreendente, é uma boa leitura, de uma personagem interessante à se acompanhar.
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Os desenhos de Fábio Lyra são simples, mas ideais. A arte é em preto e branco, sem muitos detalhes, ficando leve e fluída. O destaque fica para os posters e referências musicais que vão surgindo durante a história. O álbum está em formato magazine, maior que o “americano”, utilizando de folhas grossas, valorizando melhor o traço. Recomendado para aqueles que curtem histórias alternativas, de pessoas comuns. Passe longe quem só curte ação e heróis.