6 meses desenhando em tablet Android. Vale a pena? Que App usar?

Nesse artigo vou comentar um pouco sobre porque parei de criar as minhas colagens e migrei para o desenho digital, utilizando um tablet Android e como está sendo essa experiência. Além de compartilhar as ilustrações, que ainda não tinha colocado no site. Espero que curtam!

Sem título. Agosto de 2019.

Desde meados de 2018 que eu não estava muito satisfeito com as minhas colagens, sentia que não conseguia mais expor nem aproveitar tanto a técnica quanto eu gostaria e que caí numa espécie de zona de conforto. Em 2019, por exemplo, acabei criando apenas três trabalhos com colagem (sendo esse da imagem acima uma delas). Boa parte das que produzi entre 2014 e 2019 estão aqui no site.

Eu precisava de algo novo! Foi assim que cheguei na ilustração digital e quando também encontrei os primeiros problemas: qual equipamento comprar? Uma mesa de desenho digital ou Ipad? Na época também pensei em trocar de notebook e investir naqueles 2 em 1, com tela touch. Porém todas essas opções são relativamente caras. O Ipad, por exemplo, ainda teria que investir cerca de R$600 a R$700 na Apple Pencil. Uma outra alternativa seria pegar um tablet Android, até mesmo porque o tablet que eu tinha (e que usava pra ler HQs) tava bem velhinho. Pesquisei um tablet com bom custo benefício e terminei por comprar um Samsung Tab A T510 (10.1′) e uma caneta simples de touch da LG em outubro de 2019. E agora, 6 meses utilizando, vou trazer alguns pontos interessantes da experiência e te ajudar na decisão de investir em um ou explorar melhor o que você já possui!

VALE A PENA?

Um bom tablet é a melhor opção caso não tenha grana suficiente para investir num IPad + Apple Pencil. A Samsung também vem desenvolvendo alguns tablets que possuem uma caneta própria, a S Pen, porém o único a menos de 2 mil reais é o Tab A S Pen que possui tela de 8′, que pra desenhar ou ler HQs é muito pequena. Apesar de existir várias canetas touch no mercado, vale ressaltar que nenhuma possui a mesma precisão quanto uma Apple Pencil ou a S Pen, pois a maioria simula o toque do dedo (tendo a ponta mais gordinha) e as eletrônicas de ponta fina também costumam dar uns bugs. Ou seja, um tablet comum NÃO substitui um aparelho melhor preparado para desenhar, mas funciona muito bem como ferramenta de entrada e também para se familiarizar com o meio digital. Uma outra dúvida que eu tinha muito antes de comprar era se eu realmente me adaptaria a esse formato, pois eu nunca tinha desenhado em um antes, então ficava com um pé atrás de investir quase 3 mil reais num aparelho com a possibilidade de não gostar de desenhar nele.

Sendo assim, caso não tenha dinheiro para investir num IPad/ Tab S Pen grande ou tenha receio se vai gostar ou não, eu indico a compra do Samsung Tab A T510, que é robusto e possui uma ótima tela de 10.1 polegadas, podendo ser encontrado entre R$1200-1500. No meu caso, ele tem sido excelente e virou meu melhor amigo. Além de utilizar pra desenhar, ler HQs e livros, também vem substituindo meu notebook: conecto o teclado e acabo escrevendo meus contos e artigos, além de organizar e postar todo o conteúdo aqui do site. Então é uma mão na roda.

QUAL APP USAR?

Se você quer desenhar no seu tablet ou no seu celular Android, recomendo usar o app ibisPaint X! Claro que há muitos outros como Infinite Painter e Autodesk SketchBook, mas acho que o mais próximo do famoso ProCreate pra iOS é o ibisPaint, que não é pesado, possui tradução para PT-BR e versão gratuita. Entre seus diferenciais está a opção de exportar seu trabalho para o formato vídeo, mostrando todo o processo do desenho como num timelapse, ferramenta bem semelhante a do ProCreate. Pra ficar melhor organizado, vou listar algumas de suas características a fim de mostrar o quanto você pode explorar e mergulhar no desenho digital sem gastar muito, como também as suas limitações.

Pontos Positivos

+ Uso de layers, transparência e sobreposição.
+ Mover, ampliar ou diminuir partes ou camadas de maneira independente.
+ Ferramentas tradicionais como Laço e Varinha Mágica, Borrar, Desfoque, Lata de Tinta e Conta-gotas.
+ Ferramenta de texto bem completa com dezenas de fontes, sendo possível instalar uma fonte específica de maneira online também.
+ Diversos filtros pra correção de cor ou “efeitos especiais” pra borrar, pixelizar, gerar ondas, etc.
+ Dezenas de pinceis/ brushes, sendo possível editar e customizar suas características.
+ Em algumas ferramentas (como lata de tinta) é possível escolher em se basear na camada atual ou em cima do documento todo.
+ Ferramentas diversas de régua e de “espelho”, sendo possível editar o número de divisões/ seções.
+ Diversas texturas e backgrounds para utilizar.
+ Exporta em JPEG, PNG transparente, MP4 (video do processo) e em PSD.
+ É possível manter uma galeria com os projetos editáveis, para fácil acesso.

Pontos Negativos

– A resolução máxima é de 4096 x 4096 px.
– Procurar um pincel é uma odisseia, pois não estão divididos e não tem como pesquisar por nome. O melhor é sempre ir favoritando os que costuma usar, pra facilitar na hora de trocar.
– Não é possível pesquisar uma cor por seu código, dificultando o processo de usar uma cor específica. Nesse caso, é preciso encontrar o HSB da cor e achá-la manualmente.
– Não possui pinceis de aquarela realmente bons. É preciso ir trabalhando com a transparência e mistura para chegar num aspecto semelhante.

Esses são os pontos principais, que fui percebendo no dia a dia. Claro que algumas coisas a gente só percebe na hora de utilizar, como uma vez que quis pesquisar uma cor e percebi que não dava. Ou só recentemente que descobri como utilizar as texturas. Mas no geral é um aplicativo muito completo e se você é, assim como eu, uma pessoa que gosta de se adaptar e buscar outros meios para o mesmo fim, se dará super bem. Há ainda muitas ferramentas que não utilizei!

MINHA EXPERIÊNCIA

Vou ir mostrando de maneira cronológica as ilustrações que fiz nesses 6 meses, de Novembro até agora, e comentando as ferramentas e processos que fui aprendendo. Uma das razões que eu queria sair das colagens e ir para o desenho era a possibilidade de trabalhar melhor com o figurativo, algo que não faço há anos! Como recentemente venho me inspirando muito na cultura indiana e do Hare Krishna, vão perceber que algumas características e temas prevalecem em todas elas. Como comentado, todas foram feitas usando uma caneta touch comum da LG (da ponta gordinha) no tablet Samsung T510.

Esse “Infector” foi o primeiro desenho completo que fiz no tablet, inspirado nos Infectores, meus personagens da Central dos Sonhos. Como venho fazendo colagens há uns anos e nesse período mal peguei num lápis pra desenhar, estou super enferrujado (mas já estou corrigindo isso, fazendo cursos na Domestika!) e apanhei um pouco. Usei referência fotográfica pra ajudar na criação da figura, mas sem deixar de lado a psicodelia e o surreal que curto nos meus trabalhos. Como não estou habituado com o figurativo, as primeiras dificuldades foram exatamente sobre proporção e, principalmente, sombras. E vendo hoje, percebo que cometi vários erros quando estava desenhando e já deixo como dica pra quem está começando agora, também. O primeiro foi na resolução: sempre trabalhe com uma resolução alta! Não precisa ser os 4000px que é o limite do ibisPaint, mas pelo menos acima dos 2000px. Nesse desenho ele tá com menos de 1000px, ficando estourado quando se amplia.

Essas foram as duas ilustrações seguintes, onde tentei explorar outros pontos. Em Neon Blood quis buscar por algo com mais constraste e cores primárias. O Homem Árvore, inspirado no meu conto Ensaio sobre a natureza morta, foi quando tentei trabalhar com algumas deformidades e pinceis diferentes. E logo percebi que estava caindo novamente em alguns vícios, como o fundo preto que sempre usei nas colagens. Também descobri (e fica como dica) que um dos melhores pinceis para contorno é o Caneta de Tinta (macia), que não fica com uma aparência muito “dura” e possui as bordas da linha mais suaves.

Essas três foram feitas para os desafios do @ColetivoConfrontos no Instagram. A primeira para o confronto de Autorretrato, a segunda com o tema Religão e a terceira sobre Nostalgia. Já tentei fugir do fundo todo preto e retomei algumas características do primeiro desenhos, como os detalhes mais indianos e mandalas, também aproveitei pra retratar duas coisas que gosto muito: Krishna, que vem me inspirando desde o ano passado; e Arquivo X, minha série preferida! Uma dica (que só fui aprender tarde): utilizem os layers! Várias vezes eu sofri pra fazer alterações ou apagar certas áreas porque não separei nas camadas certas. Então se estiver começando nessa de desenhar no digital, pode abusar dos layers. O básico é separar o de linhas e contornos e os de cores, tudo que for sobrepor ou deixar “atrás” faça numa camada diferente, melhor coisa caso precise fazer alterações.

Quando se está aprendendo uma técnica nova, você tem o lucro de poder errar e acertar, de poder experimentar sem medo. Lua de Sangue foi minha tentativa de emular o efeito aquarela e também fugir das coisas mais “certinhas”. Percebi que estava me preocupando muito em manter a grossura da linha sempre igual, de deixar tudo preenchido de maneira correta, me impedindo de desenhar mais livremente. Então fiz o esboço e utilizei da “tinta aquarela” pra ir pintando, sempre misturando e trabalhando com transparência. Utilizei a Caneta de tinta (sangramento), alterando a opacidade para pelo menos 50% e, nas definições, deixando no modo “água” e que misture as cores, com o pincel bem largo. Assim, a cor vai ficando cada vez mais forte quando ficam sobrepostas. Acabei misturando demais, mas o efeit ficou interessante.

Foi aqui que percebi que não tem como pesquisar a cor pelo código no ibisPaint. Nesse caso, você pode procurar através do sistema HSB (definindo os valores) ou pelo modo preguiçoso (meu), que é printar a cor em algum site, colar no programa e então utilizar o conta-gotas pra registrá-la. Também é importante gravar as cores que gosta, arrastando-a para um quadradinho vago, pra não perde-la caso saia do programa. Nessa ilustração, feita para o Coletivo Confronto de abril sobre Isolamento, tentei unir dois cursos (estou empenhado!) que venho fazendo no site da Domestika: personagens e padrões. O padrão de fundo é de continuação infinita (que deu um certo trabalho adaptar pro app, sem usar nada externo). Também usei duas texturas, uma para a imagem toda (dando uma aspereza) e outra na roupa da personagem. A textura é uma imagem inteira que você pode editar a opacidade e como ela será sobreposta às camadas, tem várias para poder escolher, vale a pena explorar. Fiquei bastante feliz com o resultado desse!

Desde o início eu amei uma ferramenta do app: a regua de caleidoscópio. Com ela é possível dividir a imagem em quantas partes preferir e o que você desenhar numa parte irá se replicar em todas as outras. Isso tornou o processo de criar minhas mandalas (que viraram meu passatempo quando parei com as colagens) muito mais prático. Eu comecei com as comuns, preto e branco, e fui mudando para as coloridas e chegando nessa última que fiz esse mês. Boa parte das minhas colagens tem um efeito de espelho (como aquela primeira lá em cima), então é ótimo poder trabalhar com isso de maneira mais intrincada. Outro ponto que comecei a explorar agora e fica como dica pra quem também está iniciando: paleta de cores. Encontre uma ou algumas paletas que você se identifique, acrescente à sua grade de cores e foque em utilizá-las, ajuda a manter uma harmonia entre as cores da ilustração.

Espero que o artigo tenha ajudado quem estava com dúvida se vale ou não a pena desenhar num tablet Android (ou celular Android, se for o caso) e qual app usar, nesse caso com algumas dicas sobre o ibisPaint X (que é o que estou utilizando). Ainda tenho bastante o que melhorar na ilustração digital, mas estou curtindo o processo e o resultado, espero que também tenham curtido essas! Ando explorando e imprimindo muito a questão Hare Krishna e do Yoga, as mandalas e outros padrões nas minhas criações.

Siga meu perfil lá no Instagram: @Central.dos.Sonhos, onde posto todas as artes, os produtos da Central e os bastidores. E se gostou do artigo ou quer que eu faça algum tutorial do ibisPaint sobre algo que falei, só mandar mensagem ou comentar aqui embaixo!

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