Arcos Principais: A Queda dos Batmen (The Fall of the Batmen).
Publicação Original/ Brasil: Detective Comics #969-973 (DC, 2017)/ Inédito.
Roteiro/ Arte: James Tynion IV/ Guilem March e Miguel Mendonça.
Desde o início, sempre comentei que a adição do Cara de Barro à equipe do Batman em Detective Comics foi uma das melhores coisas que fizeram nesse Rebirth. O autor James Tynion IV conseguiu redimir o vilão, dando uma maior empatia e profundidade pra ele, que aos poucos se tornou um dos meus personagens preferidos. Mas a cada arco, sempre ficou aquela dúvida no ar: o que aconteceria se o seu cérebro virasse barro de vez? E é nesse arco, A Queda dos Batmen, que finalmente vemos o estrago que foi o Sindicato da Vítima ter cutucado o Basil até ele se descontrolar e se transformar numa força da natureza, exigindo decisões fora do eixo do Batman. Review especial com spoilers!
A QUEDA DOS BATMEN
Confesso que já não aguento mais o Sindicato da Vítima, mas okay. Com o retorno do Robin Vermelho, a Stephanie (agora Spoiler) decide voltar ao grupo, depois de passar um tempo longe. Ela espera que o Robin vá pra faculdade, que mude de vida, após ela ajudá-lo numa última tentativa de melhora na Torre do Sino. Enquanto isso, um novo prefeito surge em Gotham e o Sindicato da Vítima domina o Arkham, sequestrando o Cara de Barro, que é o trunfo deles. O Basil é o verdadeiro protagonista desse arco, participando de cenas muito boas. Seu sonho é poder voltar ao normal, mas a “cura” que a Dra. October fez ainda não está 100% potente, então ele decide chamar a Glory Cara de Lama (a garota que ficou no fogo cruzado entre ele e o Batman no passado, virando lama) e falar da cura, de ser a primeira a ser curada, ele sente que deve isso à ela. Porém Glory só quer vê-lo sofrer, entregando-o pro Sindicato.
Um ponto interessante é que fica bastante claro que a Dra. Victoria October é uma mulher trans, quando ela comenta que sabe como é “estar num corpo que não te pertence“, aproximando os dois personagens. O Sindicato está torturando o Cara de Barro até ele ceder e perder totalmente o controle, enquanto um grupo de manifestantes invadem as ruas de Gotham. O plano é simples: com o Cara de Barro insano na cidade, todos saberão que o Batman estava com um vilão perigosíssimo como aliado, acabando com o grupo “militar” que vinha criando. Inclusive o novo Prefeito exige que o Batman se renda ao Sindicato. Na edição #971, desenhada pelo Miguel Mendonça, o Bruce chega no Arkham e detona com todo mundo, numa versão quase que igual à do Miller em Cavaleiro das Trevas, grandão.
O Cara de Barro se tornou um dos meus personagens preferidos, sempre fiquei na expectativa de como seria se ele perdesse o controle. E, felizmente, a expectativa foi suprida! Não só o Batman chega tarde demais, como o Basil se transforma numa força da natureza, destruindo e matando tudo o que vê pela frente. Quando ele chega na Torre do Sino, seu único ponto fraco é a Órfã: ele consegue raciocinar um pouco quando a vê, mas o estrago já estava feito e a Sala de Lama acaba cedendo, com toneladas de lama caindo sobre ele, transformando-o numa espécie de Godzilla de Barro. É uma cena muito boa, porque conta num flashback como o Robin Vermelho teve a ideia de construir a Sala (que é como a Sala de Perigo dos X-Men) a partir de todas as coletas que o Batman fazia dos restos do Cara de Barro nas cenas de crime.
O caos é instaurado na cidade e só temos duas opções: a Órfã utilizar a cura bem no cérebro dele e torcer para que dê certo; ou a Batwoman utilizar uma arma especial dada por seu pai e matá-lo. As cenas finais são ótimas, fiquei numa aflição danada. Começando com o Robin vendo todo o seu projeto indo por água abaixo, com a Torre do Sino totalmente destruída. O relacionamento dele com a Spoiler também sai prejudicado, com discussões e pontos de vista diferentes sendo expostos. Mas o clímax ocorre mesmo nas últimas páginas. A Órfã de fato utiliza a cura, mas ela ocorre temporariamente, com o corpo dele começando a se dissolver. Com medo, a Batwoman mira nele e pede pra Cass fechar os olhos… e eu aflito. Vai atirar ou não? E quando menos esperamos, uma bala atravessa o crânio do Basil! Uma cena WOW! Isso porque, momentos antes, a própria Batwoman tinha dito ao pai que o Batman não permitiria que matassem seus próprios vilões, dirá um aliado! Um arco que, literalmente, detona algo que estava ameaçando explodir desde o início, além de mostrar até onde os poderes do Cara de Barro podem ir e trazer pra discussão algo que sempre fez parte do legado do Morcego: não usar força letal. Seria essa a grande diferença entre o Batman e a Batwoman? Ansioso pelas consequências. Sem contar que agora temos certeza: James Tynion tem um fetiche sério com kaijus!
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.