Nome Original: Alice in Wonderland – Fushiginakuni no Arisu
Editora/Ano: NewPop, 2010 (Gentosha, 2006)
Preço/ Páginas: R$12,00/ 84 páginas
Gênero: Comédia/ Fantasia/ Mangá
Roteiro/ Arte: Sakura Kinoshita
Sinopse: Alice é uma menina curiosa que, numa tarde tediosa, persegue um coelho branco até sua toca, caindo num buraco e indo parar no País das Maravilhas. Nessa versão, da autora Sakura Kinoshita, encontramos uma Alice mais engraçada e sapeca, mas sem perder a fidelidade à obra original. Baseada diretamente no livro “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carroll e completamente em cores.
***
Acho que Alice no Pais das Maravilhas dispensa comentários. É uma obra-prima da literatura, criada por Lewis Carrol em 1865 e se tornando um ícone absoluto do fantástico e nonsense. Desde sua primeira publicação, ganhou diversas versões, ilustrações e adaptações para os mais diversos meios, sendo talvez a animação da Disney a mais famosa, de 1951. Esse mangá de Sakura Kinoshita é mais uma adaptação do livro e, se não é brilhante, é bastante simpático. E é sempre bom vermos como cada um visualiza o Universo de Alice, a Rainha de Copas, o Sr. Lagarta e Cia….
Sakura Kinoshita não é uma mangaká muito conhecida por aqui, é autora dos animes “Mythical Sleuth Loki” (que já passou no Animax) e de “Tactics”, além de diversas séries em mangás. Também é conhecida no Japão por seus yaois (mangás com conteúdo gay voltado para o público feminino). E “Alice” é sua primeira obra lançada no Brasil, totalmente em cores e com um traço bastante amigável, vai agradar principalmente as crianças. Talvez funcione como uma porta de entrada dos pequenos para os quadrinhos japoneses, já que não é tão “carregado” como de costume.
Vendo por esse lado, esta versão de Alice é muito boa. Principalmente levando em consideração o acabamento da NewPop, que está entre os mais caprichados no mercado nacional de HQs: capa cartonada com orelhas, papel off-set em boa gramatura e extras. Quase que como um livro tradicional, sendo de fácil acesso e divulgação até em bibliotecas de escola. Mas por outro lado, para os leitores mais crescidos e fans de Alice como eu, o mangá é bastante simples.
O livro original, com seus quase 150 anos, é um primor por trazer uma ludicidade tão boa a ponto de agradar as crianças e fazer refletir os adultos, gerando teorias e questionamentos em torno da história até hoje. Nesse ponto, o mangá não funciona, apesar de bem fiel: Kinoshito dividiu a história por capítulos, assim como no livro, e se inspirou nas ilustrações originais de John Tenniel para a construção dos personagens.
Em suas 80 páginas Alice desce pela toca do Coelho, conhece o Sr. Lagarta, o Gato de Cheshire, toma um chá com o Chapeleiro Maluco e Lebre de Março, escuta uma história da Tartaruga Fingida, passa pelo Tribunal da Rainha e todas as outras situações que já conhecemos. Talvez por tentar englobar tudo, algumas passagens são bem rápidas e ficam até superficiais. A cena com a Lagarta, por exemplo, está entre meus momentos preferidos, com diálogos sensacionais, mas que aqui foi resumido numa simples página. Assim como a cena com o Gato e a Duquesa. Já o Chá, como de costume, é um pouco mais longo.
Isso faz com que a profundidade da obra original se perca. Entretanto, é uma boa leitura. A autora tem uma sacada muito boa ao modificar o visual de Alice a cada capítulo, trazendo a mesma personagem mas com vestido e cabelos diferentes. Dá pra viajar bastante em cima disso, aumentando a sensação de que Alice está procurando seu verdadeiro “eu”, ou até mesmo a estranheza em se adaptar ao País das Maravilhas (lembram do problema com seu tamanho?).
E ainda tem as cores, talvez o ponto alto da edição, já que é bem difícil encontrar mangás coloridos. Com a ajuda do traço leve e detalhista da autora, temos algo muito bonito nas mãos. Os personagens são carismáticos e a narrativa segue como um anime, com momentos típicos e bem cartoon (como a chibi-Alice) e outros bem mais “sérios” e estilizados. Seus vestidos são bonitos e exagerados na medida certa.
O acabamento da NewPop, como comentei lá em cima, é ótimo e ainda traz vários extras como rascunhos e estudo de personagens com comentários da Kinoshita, algumas tirinhas e até uma receita em quadrinhos da tão famosa “tarte” (torta francesa). “Alice no País das Maravilhas” em mangá não é das melhores adaptações, trazendo o nonsense da obra original de maneira bem superficial, mas como material infantil é muito bom, principalmente por ser colorido, engraçado, caprichado e conseguir apresentar o universo dos mangás aos pequenos.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.