Nome Original: The House On The Borderland
Editora/Ano: Opera Graphica, 2002 (Vertigo, 2000)
Preço/ Páginas: R$9,90/ 10o páginas
Gênero: Terror
Roteiro: Richard Corben & Simon Revelstroke
Arte: Richard Corben
Sinopse: Dois irmãos passam a morar numa casa abeira do abismo cujos boatos locais dizem ser construída pelo próprio demônio. Com o passar do tempo descobrem um poço no porão que funciona como portal para estranhas feras em forma de javalis que os querem mortos. Adaptada de um clássico do terror.
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“A Casa do Fim do Mundo” é uma adaptação em quadrinhos do romance The House On The Borderland, um clássico de 1908 escrito por William Hope Hodgson, importante autor para o gênero terror que influenciou tantos outros como H. P. Lovecraft. Conta a história de um casal de irmãos que, após se mudar para uma casa na beira de um abismo, começam a confundir realidade e sonho ao investigar os jardins que os cercam e descobrirem que estranhas criaturas em forma de javali rondam o local, sedentos por sangue. No decorrer do romance eles encontram um poço no porão da casa que funciona como portão interdimensional para as feras e que possui grande importância na trama. Apesar de sua importância, o livro teve raras aparições em língua portuguesa: podendo ser encontrado por “A Casa Sobre o Abismo” ou “A Casa Sobre o Limiar” em edições dificílimas de achar.
A HQ reconta praticamente essa história, com poucas modificações do original: dois amigos, fugindo de camponeses irritados, se escondem sobre um abismo e encontram um antigo livro que, ao ler, percebem ser a história do local; a história da Casa do Fim do Mundo, de seu antigo morador. Foi adaptada pelo escritor Simon Revelstroke em parceria com Richard Corben, que já trabalharam juntos em contos para a Vertigo. Eles tomaram certa “liberdade criativa” e deram um final diferente do livro, que comentarei mais pra frente. Corben também assina a arte, ele é um desenhista conhecido por suas formas humanas “reais”, porém distintas ^^, e seu detalhamento; dentre seu currículo estão os títulos Hulk: Banner, Hellboy, Kripta, Batman Preto e Branco, Cage…
Esta graphic novel é um verdadeiro achado para os fans do terror fantástico. Sua narrativa em flashback é bastante realista e cativa o leitor. O interessante é que a linha entre o sonho e a realidade é muito tênue e acabamos por não diferencia-las, assim como o protagonista Lord Gault. Mesmo assim, não temos a sensação de que irá terminar “e foi tudo um sonho”; o autor é bem pessimista e em nenhum momento parece ter chance das coisas terminarem bem.
As criaturas de formas suínas também parecem terem saídas de verdadeiros pesadelos. A arte de Corben é muito bonita, ele tem uma forma peculiar de diagramação, com diversos quadros na vertical, porém o uso do preto e branco atrapalha um pouco na percepção das coisas. Tem hora que não dá pra saber o que está acontecendo no quadro.
Destaque para os momentos finais quando a trama se desenrola e os autores nos entregam um paradoxo do tempo-espaço bem interessante que dá um nó na cabeça. Lembram daquelas histórias que ocorrem dentro de histórias e, que, por sua vez, ocorrem dentro de outras histórias? É uma pegada mais ou menos assim. O fechamento bem espacial também nos remete à personagens cósmicos da DC e Marvel. Algumas cenas podem afastar leitores de estomago fraco.
Esta edição nacional foi publicada pela Opera Graphic em 2002 e traz na integra a introdução de Alan Moore (V de Vingança, Watchmen), que deixa muito claro sua adoração pela obra original e nos dá uma aula sobre a vida e obra de William Hope Hodgson, além de apresentar os autores da adaptação. Talvez “A Casa do Fim do Mundo” não seja uma obra prima do terror, porém cumpre muito bem seu papel e acaba sendo uma adaptação importante por trazer à tona o trabalho de Hodgson, há muito esquecido. Vale comentar que a HQ original é em cores, porém a nossa versão é em preto e branco.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.