Nome Original: O Curupira
Editora/Ano: Pixel, 2006
Preço/ Páginas: R$29,90 / 60 páginas
Gênero: Alternativo/ Fantasia
Roteiro/ Arte: Flavio Colin
Sinopse: Colin usa o folclórico personagem como o grande mestre de cerimônias de histórias que tratam de desmatamento florestal, progresso descontrolado, caça de animais silvestres, entre outros assuntos. Todo em cores, O Curupira é um álbum que mostra toda a maestria de seu criador e é uma obra que vai agradar crianças e adultos.
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Flavio Colin foi um importante quadrinista brasileiro, com traço e narrativa bastante característicos. Iniciou no meio comercial em meados da década de 1950 e permaneceu ativo durante os 50 anos seguintes, deixando para nós HQs como Fantasmagoriana (republicada este ano), Aventuras do Anjo, O Boi das Aspas de Ouro e Estórias Gerais, além de diversas histórias de horror e eróticas para as revistas Calafrio, Volúpia, Próton, Mestres do Terror entre outras.
É considerado um dos mais brasileiros dos quadrinistas, por sempre defender o quadrinho nacional e tratar de temas regionais, além da fuga das HQs de heróis. Colin morreu em 2002 e o álbum Curupira é seu último material póstumo inédito publicado, um achado que ao mesmo tempo em que traz o forte traço do autor e uma temática bem brasileira, é bem diferente de suas antigas histórias.
“O Curupira” reúne 5 contos protagonizadas pelo ser folclórico, ambientadas na Floresta Amazônica e tratando de temas ambientais como desmatamento, tráfico de animais silvestres e poluição. A Pixel caprichou na edição, com capa cartonada e miolo em papel couché. A introdução resume toda a carreira do autor e em vários momentos comenta como Colin não foi tão valorizado no mercado quanto merecia. Lourenço Mutarelli o chama de “maior quadrinista do país”. A arte dele é forte e bastante expressiva, com cores vibrantes e traços firmes.
O álbum, assim como qualquer coletânea, tem seus pontos positivos e negativos. As histórias primam pelo lado folclórico: Curupira é a famosa entidade de cabelos vermelhos e de pés virados pra trás, que guarda as matas brasileiras; e Colin apresenta um Curupira bastante fiel não apenas no visual estilizado, mas também em seus hábitos (como o de pedir fumo aos viajantes). Outro ponto forte é a inclusão de personagens do folclore como Iara, a famosa sereia Mãe-D’água que rouba várias cenas, sendo uma ótima coadjuvante; o demônio dos sonhos Jurupari; o jacaré Araruá; a Onça-Pé-de-Boi; entre outras citações.
Toda essa parte fantástica é o principal destaque do álbum, que pode funcionar muito bem didaticamente. A forma com que Colin retrata os problemas ambientais é muito interessante, principalmente na história “A Onça Pé de Boi”, onde fala do desmatamento para criação de bois (que, assim como os cavalos, não são naturais da mata). A história que mais gostei foi “O Garimpo”, cuja sequencia do jacaré gigante invadindo o garimpo é simplesmente sensacional. A última história é uma crítica bastante pessoal sobre os rumos do crescimento desenfreado, com o encontro incomum do Curupira com um ET.
Entretanto, alguns pontos poderiam ser melhores. Algumas situações são finalizadas de forma simplista, com o Curupira parecendo uma Dora Aventureira ^^, além de algumas falas superficiais. A numeração das páginas vieram como os originais, e não no formato de um álbum.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.