Nome Original: Vigor Mortis Comics
Editora/Ano: Zarabatana, 2011
Preço/ Páginas: R$30,00 / 112 páginas
Gênero: Alternativo/ Terror
Roteiro: Paulo Biscaia Filho & José Aguiar
Arte: José Aguiar & DW Ribatski
Sinopse: Sucesso no teatro e no cinema a linguagem da Cia. Vigor Mortis agora chega aos quadrinhos. Mas não se trata de adaptações das peças para as HQs, e, sim, de histórias inéditas com os personagens nelas surgidas. O livro Vigor Mortis Comics é uma união de forças dos quadrinistas José Aguiar e DW Ribatski com o dramaturgo e diretor Paulo Biscaia Filho.
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“Vigor Mortis” é uma companhia de teatro paranaense criada em 1997 pelo diretor Paulo Biscaia Filho, inspirado no estilo do Teatro Grand Guignol de Paris: mortes, sangue e violência. Biscaia une o horror à cultura pop-trash atual em suas peças, criando um universo fictício povoado de serial killers, prostitutas insanas e quadrinistas frustados. Ele trouxe para suas peças diversos aspectos multimídia como reprodução de videos e quadrinhos, não apenas por estética, mas na forma de personagens, acontecimentos; tudo mesclado.
Dentre as peças da Vigor Mortis estão Graphic (2006), Garotas Vampiras Nunca Bebem Vinho (2007) e o sucesso de crítica e público Morgue Story – Sangue, Baiacu e Quadrinhos (2004), que mais tarde virou filme. “Vigor Mortis Comics” é uma extensão deste universo criado no teatro, trazendo suas personagens às HQs em histórias curtas e inéditas. Os roteiros são do próprio Paulo Biscaia em conjunto com José Aguiar (Quadrinhofilia, Folheteen), que também assina os desenhos junto de DW Ribatski (Como Na Quinta-Série).
O álbum reúne 8 histórias distintas, mas conectadas entre si. E aqui está o grande diferencial de Vigor Mortis Comics, pois se o leitor ler aos poucos ou fora da ordem, poderá não aproveitar o seu melhor: a conexão entre personagens e eventos. Entretanto, somente perto do final que estamos realmente mergulhados neste “universo”. É a primeira vez que leio algo nacional tão “emaranhado” que mistura, inclusive, a própria linguagem dos quadrinhos dentro dos quadrinhos. Ana, por exemplo, é uma quadrinista depressiva que criou o personagem do momento (um Morto-Vivo) e que ensina HQ à uma turma que detesta. Em algumas histórias temos o zumbi protagonizando, em outras o aluno criador do personagem “Homem-Sombra, e em outras o próprio Homem-Sombra.
Qual a linha narrativa “real”? Qual a dos personagens de quadrinhos? E quando se misturam? Deu pra perceber o clima “história dentro da história”. Os demais contos apresentam outros personagens da Vigor Mortis: Wanda, uma policial que se auto-denomina “vampira” (afinal de contas, como provaria que não é?); a famosa atriz pornô Ursula, sequestrada por um fã; Oswald, o zumbi que entra num relacionamento fetichista; e por aí vai. Mas como em qualquer coletânea, tem às histórias que gostemos mais e outras menos.
Destaque para “Oswald Apaixonado”, com as cenas de sexo fetichista e bizarras. “Freddy in Wonderland”, com as prostitutas insanas e assassinas. “Ursula Unchained”, cuja arte é a mais interessante do álbum (feita por José Aguiar), cheia de quadrados pequenos e padronizados. E as últimas histórias relacionadas à Ana e as HQs.
O visual de Vigor Mortis é bastante influenciado por nomes como Frank Miller e Tarantino, principalmente pelo uso exclusivo do preto/ vermelho. Impossível não lembrar de Sin City nas cenas da cidade ou das prostitutas, assim como a fonte utilizada é bastante semelhante à de 300. O próprio Biscaia comenta como Tarantino e seu horror trash o inspirou. Também está presente homenagens à Marvel/ DC, ao diretor e roteirista Dario Argento e às HQs de terror erótico como Kripta. Os traços de DW são mais estilizados, com bastante claro/ escuro, semelhantes ao de Mike Allred (Madman); enquanto os de Aguiar são mais “tradicionais”, numa diagramação rápida.
O acabamento segue o padrão da Zarabatana: formato magazine (maior que o tradicional), capa cartão e papel de qualidade no miolo. Entre os extras há a bio dos artistas, fotos das peças originais e comentários sobre a origem e história da Cia. de Teatro Vigor Mortis.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.