Nome Original: Black Orchid #1 a #3
Editora/Ano: Panini, 2013 (DC, 1988/89)
Preço/ Páginas: R$24,90/ 180 páginas
Gênero: Alternativo/ Fantasia
Roteiro: Neil Gaiman
Arte: Dave McKean
Sinopse: Uma super-heroína recebe um tiro na cabeça em uma sala de reuniões de uma corporação anônima. O corpo dela é consumido pelas chamas, e seu assassino vai embora em liberdade. Assim começa ORQUÍDEA NEGRA, de Neil Gaiman e Dave McKean, uma das histórias em quadrinhos mais marcantes e de maior influência. Destruindo e recriando ao mesmo tempo todo um gênero, esta história das incríveis vidas de Susan Linden trouxe uma nova maturidade à narrativa gráfica e revolucionou o meio, sendo uma precursora da criação da linha Vertigo.
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Orquídea Negra foi uma heroína criada em 1973 para a revista Adventure Comics, protagonizando algumas histórias ao lado do Vingador Fantasma e caindo no esquecimento logo em seguida. Na tentativa de escrever uma série de heróis, Neil Gaiman decide retomar a personagem, apresentar sua origem e quebrar os paradigmas das HQs de super-heróis da época. Para isso, se une ao ilustrador Dave McKean e criam a mini-série “Orquídea Negra” em 1988, antes mesmo do surgimento de Sandman, em 1989, que também era outro herói esquecido da DC.
Gaiman já demonstra suas principais características como escritor com os personagens bastante humanos, interação sútil com o UDC, situações verossímeis misturado à momentos fantásticos. McKean, por outro lado, abusa de sua arte pintada e fotorrealística, porém de maneira menos experimental que em Sandman. Ao lado do Monstro do Pântano de Alan Moore, tais obras ajudaram a formar a ideia da linha Vertigo.
A edição começa com uma introdução bastante otimista, explicando sua importância para o universo das HQs, de como modernizou a narrativa e compara à títulos como Demolidor do Frank Miller e V de Vingança do Alan Moore, que quebraram os padrões de narrativa da época. E Orquídea Negra começa justamente assim: a heroína é capturada enquanto investiga uma empresa ilegal e o vilão, ao invés de enrolar e dar discursos intermináveis, a mata ali mesmo – com um tiro na cabeça e, como ela é de planta, ateia fogo no local. A combatente do crime morre e o vilão vence, sai ileso. Como ele mesmo diz: “eu já li gibis, sei como terminam”.
E a partir de então a história se desenrola. Gaiman retoma a origem da heroína, que era uma híbrido humana/ planta criada por Phil Sylvain a partir do DNA/ RNA da Dra. Susan Linden-Thorne, sua esposa assassinada pelo ex-marido Carl Thorne. Phyl criava outras “Orquídeas”, porém sua estufa é atacada por Carl e somente duas delas conseguem escapar: uma versão adulta (Flora Black) e outra criança (Suzy), ambas confusas e com memórias de Susan. Em meio a isso tudo temos Lex Luthor, que deseja capturar a todo custo as “mulheres-roxa”, para investir numa pesquisa.
A narrativa é devagar e pode perder leitores logo no início, pois ela é bem trincada e as coisas vão se encaixando aos poucos. Ao contrário do que podemos esperar de HQ de heróis, a nova Orquídea Negra não quer vingança pela morte da “irmã” ou de seu criador, muito menos ir atrás dos criminosos. Ela deseja apenas descobrir sua história. E é aqui que está o diferencial desta mini-série. Nada de lutas épicas ou mulheres sensuais, muitos menos super-seres detonando a Terra. Até mesmo Lex Luthor, o arqui-inimigo do Superman, faz aparições sombrias e poderia ser qualquer dono poderoso de uma empresa.
A sutileza com que os personagens DC foram usados merece destaque. Pra começar, não é citado nenhum codinome. Sendo assim, pode ser lido por qualquer um que não conhece o Universo DC, o único porém é que não pegará as referências. Como está diretamente ligada ao Verde, a Orquídea procura por seus “parentes” mais próximos em busca de respostas: Pamela Isley (a Hera Venenosa) dentro do Asilo Arkham e mais tarde Alec Holland (o Monstro do Pântano). Inclusive o Batman marca presença, de forma obscura, onde o reconhecemos apenas pela silhueta. Tais encontros rendem ótimas sequências como da “gravidez” e da Hera, presa.
A arte de Dave McKean é espetacular. Menos experimental que de costume, ele utiliza de uma diagramação padrão, geralmente com 6-8 grandes quadros pelas páginas, com exceções e “splash pages” na medida certa. Seu traço mistura pintura, desenho tradicional, aquarela e suas tradicionais manipulações fotográficas. A Orquídea Negra, por si só, já é linda em seus tons de roxo ^^. As sequências finais na Amazônia são excelentes, tudo bem verde e vivo. E a caracterização dos demais personagens como Hera e Monstro ficaram ótimos, misteriosos e “reais”.
O acabamento da Panini é em capa dura, miolo de qualidade e repleto de extras à um preço bem convidativo. Temos uma sessão com as referências musicais (algo que o Gaiman adora usar), esboços da Orquídea, cartas dos autores, roteiros originais e as anotações escritas à mão.
O principal problema de “Orquídea Negra” pode ser sua narrativa devagar e o típico “contexto Gaiman”, porém a busca da Flora por seu passado e de conhecer a si mesma é bastante tocante e bonita. O final, tão inesperado quanto o início, comprova que nem sempre o “paraíso” é o melhor dos lugares. Como curiosidade, a personagem ganhou uma série própria em 1993 que durou 22 edições, das quais as 5 primeiras + um crossover com o Monstro foram publicados por aqui. De lá pra cá, a personagem voltou ao esquecimento.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.