Editora/Ano: Pandora Books, 2003 (IPC Magazines, 1979; 1980; 1981)
Infelizmente, a série nunca fez muito sucesso no Brasil e temos poucos títulos lançados por aqui. Juiz Dredd – Os Juizes do Apocalipse reúne alguns arcos e histórias paralelas publicadas entre 1979 e 1981, escritas pelo próprio John Wagner e desenhadas pelo Brian Bolland (Camelot 3000, Batman – A Piada Mortal), renomado artista e capista de séries como Homem Animal e Os Invisíveis. O principal arco (que leva o título) apresenta o Juiz Death, uma criatura de outra dimensão e um dos mais famosos inimigos de Dredd.
O futuro apresentado por Wagner é caótico, com super população e mega construções verticais, para aproveitar o espaço. A polícia do jeito que conhecemos já não funciona mais e o governo cria o conceito dos Juízes, soldados capazes de julgar, prender ou matar qualquer um que saia da linha. O Juiz Dredd é o mais famoso dentre eles, sua noção de certo e errado é inigualável. O ditado “bandido bom é bandido morto” nunca foi levado tão a sério; não há distinções entre um simples roubo à um assassinato, o que importa é que infligiram a lei. Esse conceito de futuro é o maior destaque da série do Dredd, gerando, também, alguns debates calorosos do tema.
No primeiro arco temos a estréia do Júiz Death, vindo de uma dimensão onde a vida é um crime. Com isso em mente, ele mata todos que cruzar seu caminho. Dredd recebe a ajuda da agente Anderson da divisão-psi, uma “mutante” com poderes psíquicos. Os outros “juízes do apocalipse” (Fire, Mortis e Fear) darão às caras mais pra frente no volume. Nas demais histórias o destaque fica para os “Punks” e o arco final, sobre o Pai-Terra. Particularmente, este último arco é o melhor da edição, possui mais empolgação, revolta, crises, eleições etc.
Os desenhos de Brian Bolland são ótimos, como sempre. Suas expressões exageradas e grandes closes são fortes características de seu traço. Por se passar numa época fictícia, fica a importância do desenhista em criar cenários, trajes e etc convincentes, e nisso Bolland se saiu muito bem. Tira toda aquela parafernália futurística que estamos acostumados a ver e nos apresenta um lugar bastante real, com pessoas de todos os gêneros e crimes sendo cometidos à torto e a direito.
Juiz Dredd é uma boa leitura, com grandes momentos e outros nem tanto, com cenas que chegam a ser cômicas, mas no geral um material clássico para os leitores. Preciso comentar que há algo nele que me lembra os filmes da década de 1940 e 1950 (além de ser em preto e branco ^^), algo nos recordatórios exagerados, altas descrições e à arte de Bolland. Fiquei curioso para conhecer as histórias mais atuais, espero que alguma editora aproveite o lançamento do filme (que é ótimo) para publicar mais material da série.
A Pandora Books caprichou no acabamento, com capa cartão, miolo off-set e alguns extras interessantes. Além dos resumos, há uma relação dos principais acontecimentos no mundo até a data em que ocorre a história, tem bio dos autores, além de explicações sobre a figura dos Juízes e da construção das Mega-Cities. Só deixaram passar alguns erros de português. Será que um dia chegaremos à tal realidade onde a cidadania é um privilégio e não um direito?
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.