Como prometido no post A Importância das Capas + Os Melhores Capistas, começa uma nova sessão aqui no blog: as Galerias de Capas, com a reprodução das capas originais, comentários e informações a respeito do(s) desenhista(s) de alguma série em específico. E para iniciar, a série Moonshadow: Um Conto de Fadas Para Adultos.
Moonshadow é uma série em 12 edições criada por J. M. DeMatteis, publicada em 1985 pela Marvel, através de seu selo mais “adulto”, o Epic. Quase 10 anos depois, em 1994, a DC relança as edições numa versão “remasterizada”, através do selo Vertigo, além de uma edição especial intitulada Farewall Moonshadow, sendo um dos poucos títulos publicados pelas duas editoras. DeMatteis é um roteirista versátil, tendo trabalhado para a Marvel e DC, tanto em títulos de super-heróis (Espetacular Homem-Aranha, Liga da Justiça), como outros mais alternativos, como Blood – Uma História de Sangue.
Além da temática onírica, da arte totalmente pintada (inédita na época), o clima de fábulas, ficção científica e sátiras, as capas de Moonshadow são uma obra a parte. Todas seguem o mesmo estilo, dividida em 3 quadros onde: o primeiro possui as informações de expediente, edição, logo da editora, preço e o rosto de um senhor barbudo, presente na série; no quadro seguinte, já ornamentado, traz uma arte diferenciada e uma frase de um crítico ou escritor de quadrinhos, elogiando a série; e no terceiro quadro, também ornamentado, temos a arte principal, maior e detalhada.
O desenhista responsável pelas capas (assim como boa parte da arte interna) é Jon J Muth, conhecido por sua arte pintada, geralmente em aquarela, e por obras como Wolverine & Destrutor: Fusão, Lucifer: Nirvana e Mistério Divino, além de ilustrações para livros infantis e cartas do TCG Magic The Gathering. Apenas a edição 6 não foi feita por ele, e sim por Kent Robert Williams, que também ilustra algumas cenas internas.
Quando a DC relançou Mooshadow, todas as capas foram refeitas por Jon Muth, realizando algumas releituras, mas em sua maioria uma arte original. A divisão por quadros foi deixada de lado, com a ilustração ocupando a página inteira e o título ocupando a parte superior. A técnica em pintura continuou e, desta vez, numa forma mais polida, com mais efeitos e mantendo a simplicidade das originais, mas sem perder o clima de sonhos.
Dentre as 24 capas que Moonshadow recebeu destaca-se a edição #1 de ambas versões, com Moonshadow criança observando uma grande lua. O olhar, as luzes, sombras e movimentos ficaram perfeitos, além de simbolizarem toda a série. As capas da edição #2, com o vulto de uma caveira, e as da edição #5, com o protagonista utilizando asas artificiais, também se destacam.
(na esquerda: capa original; na direita: capa relançada)
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Para a edição especial, “Farewell Moonshadow”, Muth altera um pouco o estilo da capa, se comparada às anteriores, sendo mais “clean”, com cores mais claras, além de se passar numa rua de terra, com casas ao redor, perdendo todo ar surreal/ espacial que antes transmitia. Entretanto, numa melhor análise, podemos perceber uma meia lua bem no centro do céu, apesar de estar de dia, e o menino de costas, com mala de viagem, o jogo de sombras e a ambigüidade no título: “farewell” (despedida, em português), pode remeter à volta de Moonshadow tanto ao “espaço” quanto à “terra”, uma alusão a inocência retratada na série. Mesmo sendo a última capa e, ao mesmo tempo, diferente das anteriores, Jon Muth fez um ótimo trabalho de “despedida”.
Moonshadow é considerada uma das melhores séries dos anos 1980, porém é desconhecida do grande público. No Brasil, as 12 edições originais saíram entre 1990 e 1991 pela editora Globo e, no ano seguinte, relançada num único volume. Ambas versões são difíceis de encontrar e vendidas à um alto valor. Como agora é a Panini que lança material da Marvel e DC, fica a esperança de relança-la, trazendo todas as capas originais e a edição especial, ainda inédita por aqui.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.