Nome Original: Mouse Guard #1 e #2
Editora/Ano: Conrad, 2008 (Archaia Studios Press, 2006)
Preço/ Páginas: R$12,00/ 24 páginas cada
Gênero: Ação/ Fantasia/ Infantil
Roteiro/ Arte: David Petersen
Sinopse: Em um mundo hostil e repleto de predadores, os ratos lutam todos os dias pela sua sobrevivência e bem-estar das suas moradias. Para a proteção do povo foi criada a Guarda. Depois de vencida a guerra do Inverno 1149 contra o general-andorinha, veio um período de certa calmaria e então a Guarda passou a ter outras funções. Sentinelas, meteorologistas, acompanhantes e exploradores substituíram os soldados. A Guarda localiza-se na cidade de Lockhaven.
Os Pequenos Guardiões fez bastante sucesso quando foi lançado nos EUA, em 2006, ainda no cenário independente. Se esgotou em poucas semanas e ganhou elogios de todos os lados. No original “Mouse Guard: Fall 1152″, é uma série de ação e fantasia, com toques a lá Senhor dos Anéis, onde os protagonistas são ratos antropomorfizados com capa e espada. A Conrad lançou por aqui em 2008, mantendo o formato original em 6 partes e com papel de qualidade. Lá fora Mouse Guard virou série e já ganhou algumas continuações, ainda inéditas por aqui.
Antes de mais nada, a parte técnica: formato quadrado, papel de alta gramatura (tanto de capa quanto de miolo), excelente impressão e custando R$12,00 cada edição. Apesar do bom acabamento, não há extras, apenas uma ilustração feita por um artista convidado no final, ficamos na esperança de um relançamento, reunindo todas as 6 edições e extras num só encadernado 🙂
A primeira impressão que Pequenos Guardiões passa é de um livro infantil, mas está longe disso, apesar de ainda funcionar bem para as crianças. No mundo criado pelo autor, passado em campos e florestas, existe toda uma divisão de afazeres para os ratos, com alguns responsáveis pelo transporte, outros pela comida e assim por diante. Para manter segura as fronteiras de cada “cidade” existe a Guarda, composta por ratos fortes e destemidos, que acompanham viajantes e desbravam novos lugares. Um mercador de grãos some enquanto viajava sozinho para uma cidade e a Guarda é avisada do ocorrido, enviando para as estradas os ratinhos Saxon, Kenzie e Lieam para averiguarem. É aqui que começa Pequenos Guardiões #1, simples, mas não simplista.
O trio de guerreiros acabam enfrentado algo maior que o sumiço do mercador. O destaque fica para as cenas finais do confronto, frias e realistas, deixando de lado o ar infantil que o título passa. Na edição #2 as coisas melhoram, pois temos outro fato interessante sobre a mitologia dos ratinhos: Sadie é enviado à um distante lugar para investigar Conrad, um outro integrante da Guarda, que não vem dando sinais de vida há bastante tempo. Além da invasão de siris (simplesmente incrível), se inicia o mistério do “traídor”, interligando os fatos com a edição anterior. Ao término das duas primeiras edições percebemos que o autor está arquitetando algo maior, sem focar num determinado personagem, e sim num acontecimento que pode afetar todos os ratos protegidos pela Guarda. É impressionante a quantidade de informações passadas em tão pouco tempo, afinal de contas, são 24 páginas pequenas e quase sem diálogos.
David Petersen já havia criado outros contos, quase todos voltados ao público infanto-juvenil. Mas é com Pequenos Guardiões que fica conhecido no meio quadrinístico. Sua narrativa é rápida, dinâmica e suave, similar à uma animação. Sua arte é excelente, consegue humanizar os ratos sem deixá-los caricatos; andando, falando, lutando e repletos de emoção, mas ainda assim continuam ratos, algo difícil de ser ver em histórias do gênero, ainda mais realizado com competência. Os inimigos, ao contrário, são bastante realistas e imponentes, verdadeiras bestas perto dos protagonistas, o que torna as batalhas mais interessantes. Os cenários, roupas e acessórios possuem uma simpatia única, todos muito bem trabalhados e desenhados.
Devido a narrativa toda cinematográfica, algumas cenas acabam caindo no clichê, principalmente no código de honra e alguns desfechos. Um pouco mais de audácia seria muito bem vindo, já que traz sangue, morte e não trata-se explicitamente de um título para crianças. No mais, é excelente, mal posso esperar pra continuar lendo.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.