Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.
[Review] O Ladrão da Eternidade !
Nome Original: Clive Barker’s The Thief of Always
Editora/Ano:Pixel Media, 2006 (IDW Publishing, 2005)
Preço/ Páginas: R$33,00 / 144 páginas
Gênero:Suspense/ Fantasia
Roteiro:Clive Barker & Kris Oprisko
Arte:Gabriel Hernandez
Sinopse:Criada por Clive Baker, escritor e cineasta que nos anos 80 virou sinômino de “terror”, essa HQ é um conto sobre tornar-se adolescente em um mundo de fantasias. Na trama, o pequeno Harvey vai parar na Casa de Férias, um lugar onde todas as estações do ano acontecem em um único dia e onde os sonhos viram realidade de imediato, mas a um preço alto.
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Clive Barker é considerado um dos mestres da literatura e do cinema de horror, sendo o criador da famosa série Hellraiser, além de um ótimo ilustrador, já tendo criado figuras de ação para a McFarlane Toys, em sua coleção Tortured Souls. Apesar de sempre estar envolvido com o terror, Barker lançou, em 1992, um livro infanto-juvenil chamado O Ladrão da Eternidade. Mesmo voltado ao público infantil, pode ser considerado uma fábula “adulta”, sombria. O livro fez certo sucesso e ganhou uma adaptação em quadrinhos pelas mãos de Kris Oprisko, a graphic novel Clive Barker’s The Thief of Always, lançada em 2005, originalmente em 3 edições, com os desenhos de Gabriel Hernandes. Mais tarde as edições foram compiladas numa única edição especial.
É essa edição especial que a Pixel lançou aqui no Brasil e, como em seus outros lançamentos, o acabamento é de qualidade, trazendo mais uma ótima obra à nós. Harvey é um menino entediado, que não sabe mais o que fazer para se divertir, ainda mais em fevereiro, “a grande besta cinzenta”, como diz o autor. Eis que surge em seu quarto uma estranha figura, Rictus, com um enorme sorriso, que promete levar o garoto à uma casa de férias, onde todos os seus desejos serão atendidos e que nunca mais se queixará de tédio. No começo ele estranha a situação, mas acaba cedendo e segue Rictus até o final da cidade, onde passam através de um muro e chegam à Casa de Férias, cercada por um lindo campo. Além de Harvey, também está morando na casa as crianças Lulu e Wendell, a velhinha Sra. Griffin e os, também estranhos, irmãos de Rictus. Tudo parece perfeito: num único dia ocorre as quatro estações do ano, com brincadeiras na neve, travessuras de Halloween à noite, festa de Ação de Graças e Natal, onde as crianças fazem um desejo, que certamente será realizado. Isso o dia inteiro, todos os dias.
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Mas Harvey começa a estranhar que um “mundo” perfeito como esse possa realmente existir: liga para seus pais, que misteriosamente sabem onde ele está e que aprova a ideia; o muro que cerca a casa, que não os deixam sair; um lago com peixes assustadores nos fundos; entre outras coisas, como Sr. Hood, o dono da casa, que nunca aparece. Harvey decide desvendar esses mistérios e acaba por descobrir o preço que está pagando para permanecer na Casa.
O texto de Clive Barker foi adaptado por Kris Oprisko, um dos fundadores da IDW e também escritor das adaptações para quadrinhos de CSI, com desenhos de Gabriel Hernandez, que está trabalhando em diversas mini-séries dos X-Men. A arte é um dos pontos alto da HQ, com cores em tons pastéis e cheio de detalhes, principalmente dentro da Casa de Férias. Também é de se destacar a excelente ambientação dada à cidade cinzenta, que permanece em segundo plano com as cores mais vivas dos personagens. Esse jogo de contrastes é usado em várias cenas, servindo para demonstrar a mudança de estações, também.
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Os personagens são cativantes, não necessariamente o trio de amigos, mas os outros “hóspedes” da antiga casa, em especial a Sra. Griffin, que tem sua história mais aprofundada no decorrer da trama. Os irmãos de Rictus também são interessantes e diferentes, ganhando destaque no final da HQ, protagonizando ótimas cenas. A própria Casa de Férias é um personagem a parte e é incrível que um espaço tão delimitado como uma casa, um jardim e um lago, podem ser expandidos desta forma, com grande profundidade.
Algo que poderia ter sido retratado melhor é a amizade de Harvey, Lulu e Wendell, que surge muito rápido e não dá tempo do leitor absorver e acreditar nesta amizade, pois não foi aprofundada o suficiente. Não que seja forçada, as três crianças até que são bem realistas, mas tudo ocorre muito rapidamente. Fora isso, O Ladrão da Eternidade é uma excelente leitura, tanto para o público infanto-juvenil quanto para adultos, e um material ótimo para conhecer o outro lado de Clive Barker, fugindo de almas agoniantes e sangrentas. O desenrolar da trama é incrível, principalmente pelas cenas onde Rictus e seus irmãos participam.
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O acabamento, apesar de simples, é primoroso: capa cartonada, páginas de papel de qualidade e numeradas. Há uma introdução sobre Clive Barker e uma entrevista com o mesmo, além de algumas páginas com a arte original de Gabriel Hernandez, num sketchbook.
[…] *Para quem achou a arte de Clive Barker um tanto… pesada, saiba que ele também já fez trabalhos infanto-juvenis. Entre eles o livro O ladrão da eternidade, que depois foi adaptado para quadrinhos por Kris Oprisko e ilustrado por Gabriel Hernandez. Confira minha resenha da HQ aqui. […]