Arcos Principais: A Morte dos Mutantes (Death of X).
Publicação Original: Death of X #1-4 (Marvel, 2016).
Roteiro/ Arte: Jeff Lemire e Charles Soule/ Aaron Kuder.
A Morte dos Mutantes é uma minissérie em 4 edições que funciona como introdução para a saga Inumanos Vs. X-Men, que colocou as duas raças de heróis uma contra à outra, dando coro aos boatos de que a Marvel estava valorizando mais a equipe do Raio Negro e Medusa e sabotando os mutantes, que chegaram a perder várias revistas na época, devido aos direitos dos personagens no cinema estarem com a Fox (hoje retornados à Marvel/ Disney). De qualquer forma, fizeram com que a nevoa terrígena dos Inumanos matassem os mutantes, forçando o Ciclope e a Emma Frost declararem guerra a eles e se transformando em quase vilões. Review especial com spoilers!
A MORTE DOS MUTANTES
Durante a saga do Infinito, o Raio Negro explodiu uma bomba terrígena sobre a atmosfera da Terra, gerando depois o evento Inumanidade, com a névoa ativando o gene inumano de várias pessoas comuns (que se transformam em casulos e, ao eclodir, ganham poderes). Até então, a terrígena não causava nada aos humanos ou mutantes, afetando apenas aqueles que possuíam algum traço inumano, então a nuvem continuou a percorrer o mundo. A Ms. Marvel Kamala Khan, por exemplo, ganhou seus poderes ao cruzar com a névoa. Inclusive Emma Frost, Kitty e Magia já haviam lidado com a névoa e visto um casulo de perto num tie-in de Inumanidade. Mas eis que, nessa minissérie (que tenta preencher um vácuo de 8 meses pós-Guerras Secretas), o Ciclope e seu time (Emma, Magia, as Cucos, Homem de Gelo e Bolas Douradas) vão à Ilha Muir após receberem um chamado de emergência, que suspeitam ter sido feito pelo Madrox. A equipe encontra vários mutantes mortos no local, inclusive dezenas de clones do Homem Múltiplo (que foi o líder da X-Factor Investigações), cujo original morre ao avisar sobre os riscos da nuvem terrígena. É aí que começa toda a bagunça.
A Ilha está coberta pela nuvem e o Ciclope e a Emma encontram os arquivos de pesquisa do lugar, contendo informações sobre o perigo da terrígena para os mutantes. Eles rapidamente enviam para o Fera analisar os dados, mas não demora muito para o gás começar a fazer efeito e deixar o Bolas Douradas, o membro mais novo, e até mesmo o próprio Ciclope, doentes. Forçando-os a bater em retirada.
Em paralelo, uma equipe de inumanos liderada pela Cristalys acompanha uma enorme nuvem de terrígena que chega em Tokio, a fim de resgatarem os possíveis humanos que podem vir a serem inumanos também. Eles enfrentam soldados da Hidra, mas recebem o apoio de Sonífero (que acabou de eclodir de um casulo) e conseguem a vitória. Cristalys logo acolhe o novo inumano e, numa cena muito boa, ela divide o quadro lado a lado com o Ciclope: enquanto ela diz ao jovem que os Inumanos cuidam dos seus; o Ciclope, furioso pela questão da terrígena, diz que agora é guerra e os mutantes também cuidam dos seus. E aqui fica claro o que há de melhor e o que há de pior nessa história do Jeff Lemire (Cavaleiro da Lua) e Charles Soule (Demolidor): ver as duas equipes em conflito, cada uma defendendo seus próprios princípios e povo, é um aspecto interessante e também divertido, que funciona como entretenimento, afinal de contas quem não curte ver uma boa porradaria? Mas não é bem isso o que ocorre, além do lado ruim pesar pros mutantes (em especial Ciclope e Emma), que ficam parecendo histéricos e que provocaram tudo de propósito.
Na edição #2, após a descoberta, a Tempestade vai ao salão real dos inumanos tirar uma satisfação com a Medusa, jogando a real sem muita enrolação: eles sabiam sobre os efeitos colaterais da névoa? A Medusa se defende, dizendo que os humanos e mutantes já passaram por ela e não foram afetados (como comentado no início do review), mas que se compromete em ajudar no que for preciso, inclusive liga pra Cristalys e pede para supervisionar a nuvem e evacuar todos os mutantes da próxima cidade. A Tempestade aceita a ajuda, mas enfatiza que precisava descobrir a verdade cara a cara. Poderia até finalizar aqui, criar uma história de união… Mas como em qualquer minoria, nem sempre todos se entendem como um só, e de surpresa o Ciclope (com ajuda dos poderes da Emma e das Cucos) manda uma mensagem psíquica para o mundo todo. Sim, o mundo todo! Emma mostrando que é poderosíssima. Ele diz que os Inumanos mentiram, que a nuvem é tóxica, que mata mutantes e que não ficará assim, que os X-Men irão defender a Terra e se vingarem. Assim, na lata! Sem tempo, irmão! Praticamente jogando a merda no ventilador. A Tempestade, preocupada, se une à Cristalys para ajudar a dissipar e mudar a enorme nuvem terrígena de rota, evitando chegar em Madrid. Mas o estrago do Ciclope já está feito: a população local enlouqueceu, com medo.
E eis que ocorre uma outra característica dessa mini: as famosas escolhas ruins. Parece que ninguém raciocina muito. O novo inumano, Sonífero, com a boa intenção (e pressionado pela Cristalys), usa seu poder e faz toda a cidade dormir, inclusive a Tempestade e os X-Men que foram ajudar. Os próprios inumanos ficam com receio depois, imaginando os mutantes acordando e pensando que sofreram um ataque deliberado deles. A Emma, do outro lado, também faz outra escolha ruim (ou boa, dependendo do ponto de vista): chama o Magneto para a guerra. O mesmo Magneto que, em Mutante Ômega, havia repreendido o Ciclope. Mas o Eric sempre foi assim, né?
Pra piorar mais a situação, a Tempestade e sua equipe acorda e querem saber o que aconteceu, se sofreram um ataque, mas o diálogo é interrompido por um Magneto nas alturas e suas inúmeras vigas de metal (numa cena mal aproveitada), que deixam todos presos no lugar, pra não saírem. Inclusive a Magia surge e sequestra o Sonífero, minando os Inumanos. O plano da Emma é simples: deixar o máximo de X-Men e Inumanos longes o possível da nuvem terrígena, para que ela e o Ciclope possam aproximar o Alquimia à ela, para que ele mude a substância do gás e a destrua.
Os desenhos de Aaron Kuder possuem uma feição meio estranha as vezes, principalmente a Emma, mas confesso que a sequência do Alquimia sendo arremessado e transpassando a nuvem é muito boa! O gás se transforma numa enorme nuvem vermelha, que começa até mesmo a chover. A promessa do Ciclope de transformar o garoto em X-Men vai pro ralo, já que ele é afetado pelo gás e morre, gerando um momento mais dramático. Com todas as cenas em tons de vermelho, a realeza inumana chega ao local para ver o estrago, furiosos com os mutantes (tendo em vista que a terrígena é sagrada pra eles) e a Medusa, sendo a porta-voz do Raio Negro, pede que todas as alternativas sejam vistas, pra não gerar uma tragédia maior. O Ciclope atravessa a nuvem e a chuva, iniciando um discurso contra eles: os mutantes nunca mais ficarão para trás! Além de gritar que a revolução é vermelha! Ele ganha um tiro sônico em troca.
Apesar de toda a pegada meio forçada do conflito, confesso que as cenas finais me empolgaram. Principalmente com o Raio Negro, irritado pelo discurso, que só abre a boca e assassina o Magrão com sua super-voz. O pior, pra mim, foi o Ciclope ter sido tratado como um insano, que não pensa muito nas consequências para os próprios mutantes e toma medidas irresponsáveis. Desde a cena em que ele passou mal na Ilha Muir eu já suspeitava de que a Emma estava controlando-o, mas fiquei surpreendido ao descobrir que, na realidade, ele havia morrido na Ilha mesmo e ela, sozinha, tomou parte de tudo, projetando-o na mente de todos, fingindo que ele permanecia vivo. Com o Ciclope agindo, fiquei puto e achei bem ruim, mas descobrindo que era a Emma por trás, mesmo ela com cara de doida no final ao confessar o que fez ao Destrutor, aceitei melhor. Já que esse tom mais manipulativo e vilanesco combina com ela. Mesmo assim, a morte do Scott (seja na Ilha Muir ou pelas mãos, quer dizer, voz do Raio Negro) não chega aos pés do que o herói havia se tornado, que era a face da Revolução Mutante. Ele simplesmente caiu e morreu na Ilha Muir. Sem contar a morte também anti-clímax do Jamie Madrox, que protagonizara uma das melhores séries X dos anos 2000 que foi X-Factor Investigações. Até mesmo o garoto Alquimia, que é um mutante de terceiro escalão, teve uma morte mais impactante que eles.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.