UM PÉ DE PAPO – ENTREVISTA COM DANIEL NORMAL – Fil Felix

Um Pé de Papo é uma coluna de entrevistas com artistas e escritores, levantando questões sobre suas criações, inspirações, dificuldades e contribuição cultural. De maneira descontraída, todos deixam ao final uma muda, um “pé imaginário” para compor nossa floresta cultural.

Daniel Normal (28) é artista visual, arte-educador da Zona Leste de São Paulo e nosso convidado desta segunda edição de Um Pé de Papo! Seu trabalho é bastante expressivo, trazendo reflexões e debates importantes em torno do cotidiano, além de abordar questões de identidade. Conhecemo-nos durante a faculdade e desde então é um grande amigo. Tenho enorme admiração pelo que faz e representa no cenário artístico. Confira nosso bate-papo.

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Fil Felix: Quando e como surgiu seu interesse por arte?

Daniel Normal: Desde pequeno gosto de desenhar. Com uns sete anos já observava e copiava os traços de desenhos como Pokemon e Dragon Ball, além de histórias em quadrinhos que lia. Gostava de alugar os filmes de animação e ficar assistindo o making of que vinha nas fitas. Também desenhava muito com meu irmão, como uma espécie de competição pra ver quem fazia melhor.

FF: Como foi investir numa formação técnica e acadêmica? É válido?

DN: Fiz um curso técnico de Comunicação Visual na ETEC (Escola Técnica Estadual-SP) porque era relacionado ao desenho, além de gratuito e uma área com a qual me identificava. Comecei a trabalhar numa gráfica quando estava no primeiro semestre, como arte-finalista. Quando terminei, migrei para a faculdade e fiz o curso de Artes Visuais, mais por conta do diploma e da pressão para me formar. Sobre ser válido, acredito que vale pelo contato que se tem com outras pessoas e pelo estágio. Também foi na faculdade que descobri a arte-educação. Recomendo sempre fazer o máximo de coisas que pode lhe conectar com outras pessoas, seja faculdade, curso ou oficina.

FF: Quais os desafios que o artista enfrenta hoje no brasil?

DN: Não consigo viver puramente de arte. Vivo de arte-educação. Pra viver só de arte de maneira independente é complicado. Precisa ter contatos, envolvimento com galerias, pensar como um produto, gastar grana. E nunca consegui parar pra organizar tudo isso. Mas ainda quero, um dia! Acho que se eu chegar aos 30 ou 40 anos sem ter tentado, ficarei bastante frustrado. Ando aproveitando a pandemia pra poder focar mais nisso.

FF: Seu trabalho costuma abordar o cotidiano, trazendo críticas sociais. Como surgiu isso?

DN: Eu queria ser chargista, gostava muito de ler as tiras da Laerte e do Henfil, que sempre traziam críticas. Então fui me formando nesse cenário. Também gosto de trazer essas questões para que não seja uma arte vazia de conceito, que não seja o desenho pelo desenho. Eu sei desenhar, mas o que posso fazer com isso? Poder carregar uma mensagem, um conteúdo para os desenhos, pinturas, tudo que faço. Também trabalho com a questão da identidade como um recorte do que somos: gênero, social, racial ou sexual. Internamente, também é uma crítica a mim mesmo.

FF: Atualmente você vem trabalhando numa série com máscaras. Como funciona seu processo criativo para criá-las?

DN: Desde agosto de 2018 venho trabalhando numa série com máscaras. Nesse meio tempo, numa oficina no Red Bull Station, acabei conhecendo melhor o movimento de upcycling e descobrindo que já fazia parte do que eu criava, então passei a pesquisar e explorar mais. Às vezes começa com algo que vou jogar fora: começo a observar e a pensar em como posso transformá-lo. Às vezes vem depois. A máscara conversa muito com a questão de identidade. Tem uma pessoa ali! Quando estou com a máscara, é como se eu ficasse acessível a todos. Vou criando novas personas, como alter egos. Então busco muita referência e inspiração na cultura popular brasileira, como o boi-bumbá, porque não faria sentido buscar fora.

FF: Além de artista visual, você também é arte-educador. O que trabalhar com arte já lhe proporcionou?

DN: Principalmente a troca com outras pessoas, conhecer outras realidades, além de ser gratificante ter um trampo meu na casa de alguém, compartilhar meu modo de pensar e poder ver isso se replicar.

FF: Quem está começando agora pensa muito em ter ou seguir um determinado “estilo”. O que pensa sobre o tema e o que sugere para quem está iniciando?

DN: É algo com que nunca me preocupei muito e também não acho válido pensar nisso antes de fato produzir. Recomendo que a pessoa não fique focando nisso, mas que produza muito e vá se encontrando na tentativa e acerto, porque vai ter sempre um “quê” seu. Muitas pessoas acabam se copiando na tentativa de manterem sempre o seu “estilo”, já que também é bastante viável comercialmente.

FF: Você é um dos integrantes do Coletivo Mirante. Qual a importância dessa união e apoio entre os artistas?

DN: O Coletivo surge como uma forma de juntar uma classe, tentando ter uma voz, trocando ideias, sabendo ouvir e falar, essa negociação. Sou mais uma cabeça no Coletivo, mas juntos nossa voz tem mais força. É importante falar que é muito difícil trabalhar em grupo, mas também essencial. É bom pra fugir da questão do ego de artista, além de cada um ter seus contatos, podendo atingir um público maior.

FF: Tendo em vista que a pandemia da COVID-19 interrompeu muitos projetos artísticos, quais seus planos e projetos para os próximos meses?

DN: Não faço ideia! A arte foi muito afetada, tem muita gente desamparada. Acho que só melhora no ano que vem. Estava planejando uma exposição individual, tive que me adaptar e focar em outros projetos. Nos próximos meses vou trabalhar nos prints das máscaras, além de desenvolvê-las de uma maneira diferente. Ainda com a ideia de expor, mas se vender também será ótimo!

FF: Finalizando nosso Um Pé de Papo, se pudesse plantar uma semente ou um pé de qualquer coisa para colherem no futuro, o que plantaria?

DN: Sendo bem clichê: empatia! Pois nesse momento de crise é bom olhar pro outro, ver o quanto são frágeis as áreas, principalmente a área artística.

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Siga o Daniel Normal em @normaldaniel no Instagram para acompanhar e conferir todo o seu trabalho! Ou entre em contato através do e-mail: daniel-normal@hotmail.com.

Foto: Flávio Samelo

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